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Em entrevista, Felipe diz que não há vaidade entre os jogadores do Vasco
Terça-feira, 14/09/2010 - 08:14
Por que você resolveu voltar antes do fim de seu contrato no Qatar? O que pesou?
Na realidade voltei para o Brasil para passar férias, não pensava em voltar agora. Em todas as férias, sempre havia sondagens. Só que acabou aparecendo esse negócio do Vasco. A qualidade de vida lá no Qatar era melhor, mas o futebol não é essa paixão que comove todo mundo, que lota estádio. Isso pesou. Eu era feliz lá, mas no meu país é outra coisa.
Antes, a gente via jogadores sonhando com a Europa. Hoje vemos jogadores brasileiros na Europa sonhando com o Brasil. Por quê?
Jogador sonha com Europa para ser conhecido mundialmente e para ajudar seus familiares. Mas quer voltar pela paixão. Ou porque já tem uma situação financeira resolvida. Dinheiro é bom, mas ser feliz também é.
Mas lá seu salário não devia atrasar. O Vasco já atrasou salário desde que você chegou. Lembrava disso quando voltou?
Infelizmente o futebol brasileiro é isso, principalmente no Rio. Fico preocupado com a garotada, porque já fui garoto e me enrolei. Você acaba de comprar seu primeiro carrinho e se enrola para pagar as prestações, se enrola com banco... Isso não mudou. É ruim, todo trabalhador quer receber seu salário em dia. Hoje posso esperar um pouco mais.
Acredita que já se readaptou ao estilo do futebol brasileiro? O que falta?
Falta ritmo de jogo e entrosamento com os companheiros. Lá, a qualidade é menor do que aqui.
Qual é a diferença entre o Vasco em que você jogou nos anos 90 e início dos anos 2000 e o Vasco de hoje?
Era bem diferente. Era um time mais vitorioso, com muitos jogadores experientes. Hoje é um time novo com alguns jogadores experientes. Mas isso muda a toda hora, o Vasco também já mudou desde que cheguei até agora. O legal desse grupo é que as pessoas da imprensa achavam que ia dar problema, guerra de ego, mas aqui não tem vaidade.
Problemas com quem?
Entre mim, Carlos Alberto, Zé Roberto...
Quando era mais novo, você tinha a fama de rebelde. Você acha que a fama se justificava?
O problema é que sou muito transparente, sincero. Quando vejo uma injustiça, tomo as dores. Falo o que muita gente não tem coragem. E, quando surgi, tinha 18 anos, era um jovem que errava, que gostava de sair à noite com os amigos...
Você acredita que mudou nesses cinco anos fora?
Antes. Acho que depois que conheci minha esposa, Carla, em 2003. Amadureci. Passei a ser mais paciente. Não muito paciente, mas melhorei. Converso mais antes de tomar uma atitude.
Você esperava a recepção que você teve, com mais de 3000 torcedores enfrentando chuva para vê-lo novamente em São Januário?
Não esperava, até por ter jogado no Flamengo por dois anos. E fui meio contra o evento da minha apresentação, não gosto muito dessa coisa de "pop star"... Não é meu estilo chamar atenção. Mas adorei. Sem dúvida, foi muito bonito.
Seu contrato é de dois anos e meio, você vai ter 35 anos quando ele acabar. É uma idéia encerrar a carreira no clube onde começou?
É... Parar aqui, no Vasco. Depois, curtir meus filhos, a praia... Meu sonho é acordar todo dia cedo, levar meus filhos para a escola e ir direto jogar futevôlei. Almoçar no meu restaurante [Wasabi, na Barra da Tijuca], brincar com o Lucas e o Thiago... Aproveitar a vida. Jogo desde 1996; são 14 anos. Quero recuperar todos os fins de semana que não tive.
Mas no Qatar você não concentrava, e lá também tem praia...
Ah, mas não é a praia do meu Rio de Janeiro! Não é a mesma coisa. Foram mais cinco anos longe da praia do Rio!
Você não se arrepende de ter ido tão novo para o Qatar, aos 27 anos?
Não. Tenho até que agradecer. Pude acompanhar o crescimento do meu filho mais velho, Lucas, que está com 5 anos. Pude me dedicar à minha esposa também.
Fonte: Revista Placar