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Celso Roth, após título: 'Foi uma decisão difícil sair do Vasco'


Quinta-feira, 19/08/2010 - 10:51

Emocionado, o técnico colorado Celso Roth respondeu com franqueza aos questionamentos da entrevista coletiva oficial depois da confirmação do título da Copa Libertadores de 2010.

Após a vitória do Inter por 3 a 2 sobre o Chivas na última quarta-feira, Roth comentou o significado de alcançar o primeiro título de expressão da carreira, agradeceu à diretoria do clube pela oportunidade e exaltou a qualidade de seu elenco de jogadores.

Roth ainda lembrou que a conquista deveria ser dividida com o técnico Jorge Fossati, seu antecessor no cargo, e revelou o teor da conversa com o rei Pelé no momento da premiação no Beira-Rio. Confira.

Os deuses do futebol fizeram justiça com Celso Roth?

“Não sei se foram os deuses do futebol. Acho que até pode ser, pela coincidência. Começamos a carreira no Inter, um clube de ponta e que me deu oportunidade em 1997. Fui um treinador precoce quando ganhei o primeiro título gaúcho naquele ano. Depois, ganhamos outros regionais. Aí fizemos outros trabalhos e saímos da terra, fomos para lá, para cá e em circunstâncias diferentes. Tive a oportunidade agora de voltar ao Inter e conquistar a Libertadores. Acho importante. O profissional tem de saber que as coisas no futebol são assim. Temos de ter persistência. Felizmente tivemos e hoje fomos coroados.”

“Está de parabéns o torcedor, a direção, e principalmente esse grupo de jogadores, que aceitou a metodologia de trabalho e agora colhem os frutos. Temos muita coisa pela frente, o Brasileiro, que é um campeonato difícil, e a decisão do Mundial no fim do ano. É um momento ímpar e único; vamos aproveitar.”

A falta de reconhecimento aos trabalhos realizados ao longo da carreira incomodava?

“Incomoda. Diria que a dimensão dos trabalhos feitos não era reconhecida. Porque o que interessa é o título, o fim, o resultado, não o treinamento. A vida é assim, o futebol também. Compete-se desde que se nasce. A vida passa e vamos competindo sempre. O fato é chegar em primeiro, ser campeão, o que se faz no meio não interessa muito, infelizmente.”

“A todo momento que fazíamos um trabalho e víamos a realidade dos times que participávamos (...) Pela experiência, com uma semana, 15 dias, já sabíamos onde iríamos chegar. O difícil é persistir, até que a oportunidade vem. Por isso é que agradeço a direção do Inter; foi uma decisão difícil sair do Vasco, pois fui muito bem tratado lá, mesmo depois da saída. E foi uma aposta. Felizmente desta vez, fiz a escolha correta. Tantas e quantas vezes fiz algumas escolhas que depois deram resultados com outros treinadores (...) E a gente fica sempre se questionando se a escolha é correta ou não. Dessa vez fiz a certa e tive a felicidade do título. Quando fazemos isso, é ótimo, nos sentimos bem, aliviados, leves. É como eu estou agora.”

Uma semana após a chegada ao Beira-Rio, Roth diagnosticou que o Inter seria campeão?

“Em uma semana não, pois fizemos trabalhos físicos (risos). Foi depois, em duas semanas. Mas obviamente a gente vê a qualidade do grupo, a estrutura do clube e sentimos que podemos chegar a determinados pontos.”

“Acho que é importante registrar aqui que viemos fazer duas fases: semifinal e final. Mas antes teve um profissional aqui e fez um trabalho, gostem ou não, bem ou não. Essa conquista tem parte do treinador que passou, o Fossati. É muito importante dizer isso. É um colega estrangeiro e que teve dificuldades, como temos em todos os lugares. Não podemos esquecer que teve alguém que iniciou o trabalho e faz parte desta conquista.”

O que Roth e Pelé conversaram na entrega de medalhas?

“Conversamos pela terceira ou quarta vez. Quando eu recebi dois anos seguidos a indicação de melhor técnico do Campeonato Brasileiro, tive também a oportunidade de conversar. E hoje eu tive a felicidade de revê-lo. Agradeci a ele. O futebol brasileiro é o que é porque o Pelé abriu o caminho. Foi isto que disse: 'muito obrigado por tudo; tu és responsável por tudo isso'. Publicamente foi ele quem puxou tudo o que somos. O Pelé é o carro-chefe.”

O que o técnico já tem de definição sobre o futuro do Inter?

“Temos algumas situaçãoes a encaminhar. Já conversamos com a direção e traçamos algumas coisas. Como digo sempre, é economia interna. Vamos curtir esse momento agora e na hora oportuna vocês saberão.”

A ovação da torcida foi recebida de que forma?

“Muito bem. É simplesmente espetacular ganharmos um título, ir a um palco montado no campo e olhar o estádio lotado gritando seu nome. (Um estádio) que há pouco tempo gritava contra. São essas circunstâncias do futebol que são maravilhosas. É por isso que o futebol é essa paixão toda e move o Brasil e o mundo. Nós que tivemos várias experiências fora do país, sabemos que o futebol é mundial. É espetacular.”

A presença de Pelé no Beira-Rio redobra o significado do título?

“Certamente, não tenho dúvida. É fantástico esse momento, essa situação. O Pelé ainda de casaco vermelho. Então, são coincidências que temos num momentos assim somente. Fica gravado na história do clube, do profissional. Ainda não caiu a ficha sobre o tamanho do que conquistamos. Não vou chorar, mas emociona. É único e temos de gravar para mostrarmos aos nossos filhos, netos e afins.”

Agora é continuar apostando alto na carreira?

“Temos de fazer escolhas no futebol. E desde o início da minha carreira, sempre fiz. E dessa vez foi uma escolha importantíssima. Tenho a felicidade de voltar aos clubes em que trabalho. Só no Inter é a terceira vez. Ao Vasco também voltei. São essas coisas que às vezes temos de apostar. Quando dá certo, é ótimo. Aquela situação que ouvíamos de que não chegava nunca, agora acabou. Sou agora o cara do tiro curto. E assim vai. O importante de tudo é: acredita-se ou não no trabalho. Eu sou um dos que acredito, mesmo quando não dá certo. E continuo. E persisto.”

Como foi a conversa no intervalo com os jogadores?

“Fomos a Guadalajara e tivemos um posicionamento que o Chivas não esperava. Através do que os mexicanos dizem nos jogos lá: puto, quando se cobra o tiro de meta. É porque o jogador adversário tem medo de sair jogando. E eu fui buscar isso antes da partida. Conversamos com os jogadores e colocamos o nosso time assim, não deixando o Chivas "quebrar" a bola, ou seja, bater o tiro de meta ou dar o balão. Isso está inserido na cultura futebolística do mexicano, e quebramos isso. O Chivas ficou espantado e perdeu.”

“Aqui, no primeiro tempo, eles fizeram uma marcação e amarraram nossa equipe de uma maneira muito inteligente. O técnico José Real foi muito inteligente, pois, além de marcar nossos dois volantes, marcou homem a homem o nosso jogador criativo, o D'Alessandro. Tivemos muitas dificuldades, já que o Chivas nos marcou bem e jogou em diagonal sobre o Nei. No segundo tempo, empurramos o D'Alessandro para perto do Sobis e mudamos o Taison de lado, passando para a direita. Acertamos a marcação dos dois volantes com o Tinga. Dominanos e ganhamos. Essa foi na íntegra a conversa do intervalo. O resto foi por conta deles, a qualidade, a aplicação. É redundante, mas vou dizer: o time joga bem quando marca bem. Disse isso em São Paulo em 2001 no Palmeiras e me chamam de retranqueiro até hoje. Um time joga bem quando marca bem, porque tem confiança e está encaixado. Quem não sabe disso, critica.”

Quando inicia o planejamento para o Mundial? Como administrar o Campeonato Brasileiro?

“Temos agora outro objetivo: conquistar o Brasileiro. Isso é fundamental. Há quanto tempo o Inter não conquista? E eu também não ganhei ainda. Então, queremos este título. Vamos trabalhar para isso e tentar com todas as forças que temos. O segundo ponto é que durante a sequência do Brasileiro certamente vamos montar a estratégia do Mundial. Conversando com a direção e os jogadores.”

“Gostaria de deixar o agradecimento à direção pela oportunidade e ao grupo de jogadores e comissão técnica. E ao pessoal que está junto com a gente; o pessoal da rouparia, massagistas, médicos, fisioterapeutas. A eles, meu agradecimento público. E, enfim, o agradecimento pessoal à minha família, que sempre esteve comigo nesses dez anos de muito sofrimento.

Fonte: Final Sports