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Confira entrevista com o neto de Cyro Aranha, ex-presidente do Vasco


Domingo, 15/08/2010 - 23:22

Luis Otávio Aranha, neto de Cyro Aranha, ex-presidente do Vasco concedeu entrevista à Rádio Tupi neste domingo:

"É um prazer imenso falar à Rádio Tupi, ainda mais falar sobre o Vasco, que é o meu clube de coração, onde eu tenho o orgulho e a satisfação de ter tido o meu avô, Cyro Aranha, como um dos maiores presidentes da história do nosso clube."

MAIOR PRESIDENTE DA HISTÓRIA DO VASCO

"Eu sou suspeito para falar sobre ter sido, o meu avô, o maior presidente da história do Vasco. Mas, com certeza, através dele, dos seus olhos e do seu coração, ele me tornou vascaíno. Sou grato eternamente a ele porque sou feliz por ser vascaíno. Tenho muito orgulho disso. Introduzi o caratê no Vasco. Foi numa época que antevia os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg. Nós fizemos um trabalho vitorioso de quatro anos, onde o Vasco ganhou todas as competições em que participou no caratê. Aprendi ainda mais a amar o meu clube. Sempre pautei a minha vida pela frase que consagrou o meu avô e eternizou o meu avô dentro do Vasco [Enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal]. Eu trabalho com crianças e lembro sempre dessa frase criada pelo meu inesquecível avô, que foi, além de tudo, meu amigo e, acima de tudo, um grande vascaíno."

RELAÇÃO COM O AVÔ

"Ele sempre era vibrante. Ele sempre era um entusiasta do Vasco, sempre procurando grandes amigos, os amigos da vida dele. O meu avô era um gaúcho que veio na época da Revolução de 30 para o Rio, junto com Getúlio Vargas e Osvaldo Aranha, o seu irmão, o ministro Osvaldo Aranha. Se estabeleceu no Rio como comerciante de arroz e charque. Esse tipo de comércio era dominado pelos portugueses. Aí a ligação dele com os portugueses e com o Vasco, tendo se tornado o primeiro brasileiro a ser presidente do Vasco. O primeiro brasileiro genuinamente, que não era de origem portuguesa ou português, a ser presidente do Vasco. Ficou famoso também pelo time que ele montou, que se chama 'O Expresso da Vitória', um dos melhores times que o Vasco teve em toda a sua história."

FATOS MARCANTES NO VASCO

"Além das minhas conquistas de tetracampeão brasileiro, pelo Vasco, como treinador de caratê, tem um jogo da Mercosul, no Parque Antártica, em que o Vasco terminou o primeiro tempo perdendo de 3 a 0, deu aquela virada histórica e se tornou o campeão. Eu estava no Parque Antártica. Aquilo foi emocionante, marcante para mim, como também foi o Campeonato Brasileiro de 97, em que o Vasco empatou com o próprio Palmeiras, de 0 a 0, no Maracanã, naquela época em que o Edmundo se afastou e depois retornou ao Vasco. Com muito orgulho, até hoje visto uma camisa assinada pelo Edmundo, do seu retorno a São Januário, tendo sido também um dos maiores ídolos da história do Vasco. Esses foram dois fatos marcantes: a conquista do Brasileiro, em 97, no Maracanã, e principalmente esse título da Mercosul, de virada, porque o Vasco é conhecido o clube da virada, é o time da virada. Aquele título, para mim, foi marcante e emocionante. Eu me emocionei muito, porque estando perdendo de um grande clube como o Palmeiras, de 3 a 0, e virar para 4 a 3, isso foi marcante. Nunca esqueci disso."

DISTÂNCIA DO RIO DE JANEIRO

"Não só quando eu estava no Rio. Eu passava quinze dias, durante o mês, no Rio, e ia assistir remo, basquete, vôlei, natação. Todos os esportes em que o Vasco participava, eu estava presente, com muito orgulho, porque o meu amor pelo Vasco é, não sei se tão grande quanto o do meu avô, mas se não tão grande, perto disso."

O QUE FALAR PARA O AVÔ

"Com certeza, hoje, ele está me olhando lá de cima e me abençoando por eu estar aqui, na minha cidade, na cidade em que eu moro, e nunca ter esquecido do Vasco. Isso, com certeza, lá em cima, o amor dele pelo Vasco e por mim deve estar aflorando. Em mim, está me trazendo emoção, inclusive."

LEGADO DEIXADO

"Um grande legado. Eu acho que pouca gente sabe da importância do Vasco como um clube de colônia, um clube de família. O que diferencia o Vasco, talvez, de muitos clubes, seja esse amor, essa família vascaína, essa convivência que nós, vascaínos, temos. O amor que nós temos pelo Vasco talvez seja diferente de muitos outros clubes."

PASSAGEM DO AVÔ COM EURICO MIRANDA, EX-PRESIDENTE DO VASCO

"Vovô estava prestes a falecer na Beneficência Portuguesa. Eurico entrou no quarto. Eu estava presente. Meu avô pediu a Eurico que no velório dele, porque 'dali ele não iria sair'... Eurico até tentou estimulá-lo. Mas ele pediu ao Eurico que, quando ele falecesse, no velório dele colocassem em suas mãos uma flâmula do Vasco, do seu clube. Por volta de duas horas ou duas e meia da manhã, mais ou menos, não me lembro a data de forma precisa, Eurico lembrou-se do fato e pediu à nossa grande benemérita, Dona Maria Emília, que fosse a São Januário, porque na Sede Náutica não havia uma flâmula do Vasco, e trouxesse essa flâmula para colocá-la nas mãos do meu avô. Dona Maria Emília voltou com a flâmula. Eurico colocou a flâmula nas mãos do meu avô, se emocionou e chorou. Eu nunca esqueci desse fato, o que é um fato, na verdade, histórico, que eu não vou esquecer nunca porque foi um pedido do meu avô, que houvesse os remos - o meu avô adorava remo - em torno do seu caixão e uma flâmula do Vasco em suas mãos."

"Ele fez com que Dona Maria Emília fosse a São Januário, levada pelo seu motorista, e trouxesse essa flâmula de qualquer jeito, porque era um pedido do meu avô e ele não podia deixar de atender esse pedido do meu avô. Isso foi muito bonito e muito importante."

SE FOSSE NECESSÁRIO, QUE ARROMBASSE O PORTÃO DE SÃO JANUÁRIO

"Ele disse isso a ela. Ela argumentou de que seria difícil entrar em São Januário. Ele falou 'Então a senhora arromba São Januário, mas me traz essa flâmula. Não importa, a flâmula tem que estar nas mãos do doutor Cyro'."

CARIOCA EM PRESIDENTE PRUDENTE

"Eu vim para cá há 22 anos, por causa do caratê. O Estado de São Paulo era o caratê mais forte do Brasil na época. Aqui eu venci e prosperei, então tenho uma afinidade muito grande com essa cidade e tenho um amor muito grande por ela. Meus filhos são nascidos aqui, estão sendo criados aqui. A única coisa que me faz falta sempre é o Vasco. Pena que o Vasco não tem como se transferir para Presidente Prudente. Ai eu viveria no paraíso. Mas não importa. Não existe distância para o amor que eu tenho pelo Vasco. Tenho a maior felicidade do mundo de estar vendo o Vasco na cidade em que eu moro, em que estou criando os meus filhos, que são vascaínos também. Essa semente foi plantada aqui. Quem sabe, a gente traga alguma coisa do Vasco para a cidade, para fazer um trabalho para o Vasco e pelo Vasco, aqui dentro de Presidente Prudente e região."

FILHOS: VASCAÍNOS POR IMPOSIÇÃO?

"Por livre e espontânea vontade. Por ver o amor que o pai deles tem ao Vasco, por fazer com que eles aprendessem o hino do Vasco e o nosso famoso grito de guerra, que é o Casaca. Eles sabem cantar o Casaca, sabem cantar o hino do Vasco, mas sem nenhuma imposição. Pelo amor que o pai tem ao Vasco."

HINO DO VASCO

"Nunca se pode esquecer do hino do Vasco. 'Tua estrela, na terra a brilhar, ilumina o mar'. Essa é uma passagem bonita. Embora os hinos do Rio tenham sido todos idealizados por um único autor, que foi Lamartine Babo. Mas ele, com propriedade, soube tocar nessa união entre, como se diz na parte do Vasco, 'união Brasil-Portugal'. Não existe como fugir dessa brilhante criação do Vasco para o português, que descobriram o Brasil e, acima de tudo, criaram o nosso maravilhoso clube, que é o Vasco da Gama. É um clube realmente de uma família, um clube de pessoas diferenciadas. O amor do Vasco é incomparável."

ASSISTIR A UM JOGO NO RIO

"Independente de títulos ou não - claro, se for pelo título, melhor -, eu estarei sempre acompanhando o Vasco. Não perco um jogo do Vasco. Quando não posso ir ao Rio, não é a mesma coisa, a mesma emoção do que estar em São Januário, que é a minha casa. Toda vez que eu vou a São Januário, entro na sala de troféus, ainda vejo a foto meu avô e me emociono. O fato de estar no Vasco já é emocionante. Independente de se é no Maracanã ou em São Januário, eu me sinto realizado pelo fato de estar vendo o meu clube jogar."

Fonte: NETVASCO (transcrição)