Quem vê Fernando acolhendo os jovens do elenco vascaíno como um paizão nem imagina como foram construídos os traços de sua personalidade. Aos dez anos perdeu o pai. Sete anos depois foi a vez da mãe. E, superando os percalços da vida, conseguiu iniciar a carreira e formar sua família. Agora, o próximo objetivo é vencer o Vitória, às 18h30, em São Januário para poder passar um Dia dos Pais tranquilo ao lado dos filhos Lucas e Luisa.
A infância em Padre Miguel foi com os pais separados. Era uma tarde como outra qualquer quando chegou na casa do pai e ficou sabendo do falecimento. Foi um baque. O carinho da mãe Gildete sempre foi grande, mas não havia a presença física por conta do trabalho. Com 17 anos, outra rasteira. Ela foi internada após um jogo seu pelo juvenil do Flamengo e não voltou. Fernando não se culpa.
“Não vejo essa relação. Mas tenho orgulho de tudo o que ela fez por mim. Ela só morreu porque eu já estava pronto para viver minha vida”, afirma.
A vida de homem começou ali. De todos os irmãos, Sandro era o mais próximo. No entanto, ele enveredou por outros caminhos e não podia voltar para casa. Dona Marlene, a vizinha que virou quase uma mãe foi fundamental. Até o outro choque: a morte de Sandro seis meses depois: “Ali foi duro. Era minha referência de amizade mesmo com os seus problemas. Ele foi buscar referências ruins na rua por conta da ausência. Já eu mantive o foco”.
A primeira tentativa de formar uma família não avançou. Fernando se casou com a mãe de Lucas, aos 18 anos, mas as viagens e a imaturidade não ajudaram. Morou de favor com o irmão mais velho até caminhar com as próprias pernas. E quando se profissionalizou, em 1999, começou a entender como deveria tocar a vida.
“Fui muito bem recebido nessa época. Não seria justo depois do que tive fazer diferente. É obrigação minha, é gratidão. É claro que sempre vai ter um destoando, mas é fácil julgar sem saber como foi a trajetória de vida. Muitos deslumbram, quase todos fazem besteira, mas cabe a nós mostrar que quanto mais rápido entender que isso é prejudicial, melhor será para o futuro”, ensinou Fernando, lembrando que até hoje nunca criou grandes inimigos.
AMIGO E CASEIRO
A palavra paizão ele prefere deixar para os filhos, que moram separados, mas sempre que estão juntos fazem grande festa. Nos treinos, prefere a palavra amigo. Fernando se diz caseiro e assume que isso até incomoda a mulher Vanessa, com quem está junto há quase sete anos e é mãe de Luisa. Apesar do espírito familiar, por enquanto ele vai ficar nos dois:
“Pensamos, mas a responsabilidade é grande. Quero jogar mais seis anos. Depois vejo. Meus filhos são tudo na vida e quero estar mais presente. Nunca consegui ir à festa de Dia dos Pais no colégio. Isso me incomoda. Por isso temos de vencer hoje. Se perdermos não relaxo e todos sentem”.
Fonte: O Dia Online