Tamanho da letra:
|

Olavo Monteiro de Carvalho tenta atrair investidores para o Rio de Janeiro


Quarta-feira, 21/07/2010 - 06:15

Desde que nasceu, há 68 anos, Olavo Egydio Monteiro de Carvalho tem reunidas, na vista da janela de casa, as duas maiores joias da paisagem carioca: o Pão de Açúcar e o Corcovado. Mas o fato de ter crescido na mítica mansão de uma das famílias mais tradicionais do País, em Santa Teresa, não lhe deu apenas esse privilégio. Líder do Grupo Monteiro Aranha e de um dos poucos clãs a chegar à quinta geração sem colocar a fortuna a perder, Olavo sempre desfrutou do melhor do Rio. Agora, quer retribuir.

Há dois meses, ele empresta à cidade seu sobrenome, sua experiência empresarial e a agenda cultivada nas altas rodas do Brasil e do mundo para ajudar a reverter a trajetória de decadência da cidade que acredita ter ficado para trás. Carioca e vascaíno acima de tudo, atendeu ao pedido do prefeito Eduardo Paes (PMDB) para presidir o conselho e dar grife à Rio Negócios, agência criada para aproveitar a vitrine que a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 darão ao Rio e organizar a atração de investidores.

Olavo virou agora um embaixador oficial do Rio para negócios, mas já vinha atuando como consultor informal. Da cantora Madonna ao bilionário investidor americano Nicolas Berggruen, não há gente importante em busca do caminho das pedras no Rio que não passe por uma mesa abastecida de bons vinhos e do carisma de Olavo.

Há dez dias, um dos convivas do empresário era o francês François-Henri Pinault, líder do grupo Pinault-Printemps-Redoute (PPR), que controla a rede de livrarias e eletrônicos Fnac e detém marcas como Gucci e Puma. Interessado no mercado brasileiro de luxo, o magnata quis saber mais do Rio. Paes não teve dúvidas. Mandou aprontar o melhor salão do Palácio da Cidade, em Botafogo, e escalou Olavo para recebê-lo num almoço.

Mesmo com fortes dores nas costas, Olavo foi até lá. Brindou com o francês e meia dúzia de executivos e pontuou com carioquices a apresentação técnica do diretor-executivo da Rio Negócios, Marcelo Haddad, sobre as vantagens e perspectivas da cidade. Ouviu de Pinault que o Rio seria mesmo um lugar fabuloso para uma loja da Gucci ou o pontapé da expansão da Puma no País.

Cinco projetos que somam investimentos potenciais de US$ 1 bilhão estão em discussão. Olavo e Haddad estão mais otimistas em relação à General Eletric (GE), cujos executivos ainda não se definiram entre Rio e São Paulo para o instalar o seu centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. A IBM já decidiu: vai sediar no Rio seu centro de desenvolvimento de US$ 250 milhões. Já passaram pela mesa de Olavo, com o mesmo objetivo, representantes de empresas como L"Oréal e Cisco.

"Com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, o Rio será daqui para frente o principal foco de atenção mundial. É uma oportunidade única para melhorar a cidade e atrair investimentos. Não podemos perder o bonde", diz um empolgado Olavo, que já viu a cidade perder vários. "O Rio era uma baleia encalhada, mas agora há um clima de mudança. Os governos municipal, estadual e federal pararam de brigar. Ainda há muitos desafios, como a segurança, mas o sucesso da ocupação de comunidades pela polícia mostra que estamos no caminho."

Para Olavo, a nova agenda positiva do Rio pode fazer a cidade retomar vocações econômicas, como a de serviços, finanças e inovação. Por isso, entre os executivos que tem recebido no Palácio da Cidade ou no escritório que montou em casa, com direto à vista deslumbrante de Santa Teresa, estão os interessados em instalar centros de pesquisa na cidade.

Procura. O empresário também diz já ter sido contactado por interessados em pesquisa energética e pessoas que querem instalar corretoras e negócios voltados para serviços financeiros na cidade. "Não tive nem tempo ainda de buscar os meus contatos. Estamos sendo mais procurados. Das principais cadeias mundiais de hotéis, recebi emissários de quase todas."

Olavo começou a sistematizar sua militância pelo Rio em 2005, quando assumiu a Associação Comercial do Rio (ACRJ) pelas mãos do falecido supermercadista Arthur Sendas. Superou resistências para renovar a casa, que havia se tornado um desbotado clube de empresários aposentados, atraindo novas cabeças.

Conseguiu a adesão de grandes empresas e seus executivos, como Roger Agnelli, da Vale, Armínio Fraga, da Gávea Investimentos, e Eike Batista, e passou a mobilizar o empresariado em favor de projetos da cidade.

Chamado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), começou pela eleição do Cristo Redentor como uma das sete novas maravilhas do mundo, em 2007, e chegou à conquista da Olimpíada de 2016, cujo comitê de candidatura integrou.

"Ninguém acreditava na campanha do Cristo, que deu uma grande visibilidade ao Rio. Começamos a chamar as empresas e o Luiz Carlos Trabuco (presidente do Bradesco) viu aquilo como uma grande bandeira pelo Rio. Subimos o Corcovado 14 vezes na campanha, unindo empresas e políticos de todos os partidos, do presidente Lula a Serra e Aécio", lembra Olavo. "A retomada da autoestima do Rio começou com a eleição do Cristo e tenho certeza de que ele nos abençoou para levar a Olimpíada."

Mesmo fora da ACRJ, ele continuou atuando como conselheiro do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do prefeito Eduardo Paes (PMDB), articulando encontros deles com empresários dispostos a palpitar na política para melhorar o ambiente de negócios da cidade. "A conquista do Cristo e da Olimpíada de 2016 teve a mão, o coração, o corpo e a visão do Olavo", lembra Cabral. "É sofisticado, carioca e tem uma qualidade extraordinária: é vascaíno como eu."

Berço e boa mesa, as armas de Olavo

A prefeitura carioca criou a Rio Negócios em maio à imagem e semelhança da Think London, agência que prospecta investimentos para a capital inglesa, sede da Olimpíada de 2012. "Vamos além dos incentivos fiscais, que nem sempre são determinantes para atrair um investimento", diz Marcelo Haddad, diretor-executivo da agência.

Desde que as favelas nas encostas de Santa Teresa começaram a aparecer nos cantos da vista da propriedade dos Monteiro de Carvalho, Olavo mantém programas sociais nas comunidades vizinhas. Mas percebeu que poderia contribuir para alterar a realidade da cidade se ajudasse a fazer as coisas acontecerem.

Olavo se mostra cada vez mais à vontade na missão diplomática pelo Rio, que o aproxima mais da biografia do tio, Joaquim Francisco Monteiro de Carvalho, o Baby, de quem herdou a cadeira principal da Monteiro Aranha.

Morto em 2008 aos 95 anos, Baby virou uma lenda da alta sociedade carioca não só pelo charme e fofocas familiares, mas sobretudo por ter se tornado um dos brasileiros mais bem relacionados no exterior.

Associados à empresa da família, ele trouxe para o Brasil grupos como Volkswagen, Alstom, Chandon e Peugeot. Ajudou a família Klabin a iniciar a indústria de celulose, cuja fatia de 20% ainda é o principal ativo da Monteiro Aranha.

Olavo ganhou o ar cosmopolita de Baby nas temporadas no exterior, entre elas a de Munique, na Alemanha, onde cursou engenharia mecânica. Além do alemão, fala inglês, francês e espanhol, mas passa longe do ar solene. Divorciado e pai de quatro filhas, é falante e brincalhão. Não desgruda do Blackberry, dispensa formalidades até dos empregados e tem sempre histórias para contar. Boa parte da desenvoltura, admite, ganhou na boemia da zona sul carioca.

"Sempre tentaram colar nele o rótulo de playboy, mas Olavo nunca foi ocioso. Chegou a trabalhar nas linhas da Volkswagen, na Alemanha. É fruto da atmosfera extremamente educada de sua família, é transparente e tem a simplicidade de quem não precisa provar nada", defende José Luiz Alquéres, ex-presidente da Light, que o sucedeu na ACRJ em 2009. Os dois estudaram juntos no Colégio Santo Inácio.

"Olavo é, antes de mais nada, um cavalheiro", diz Maria Sílvia Bastos Marques, presidente da Icatu Seguros, que foi vice-presidente da ACRJ no segundo mandato de Olavo. Agora, ela integra o conselho da Rio Negócios sob a liderança do amigo. "Além de qualidades, tem uma cadeia de relacionamentos ímpar."

Eduardo Paes diz ter convidado Olavo porque viu no seu prestígio um diferencial para o Rio.

"É um dos grandes nomes da cidade e sabe conviver. Até pouco tempo o Rio não tratava bem quem queria investir, não era nada business friendly. Vimos que é preciso fazer o social e o Olavo faz muito bem", elogia o prefeito.




Fonte: Estadão

Nota da NETVASCO: Olavo Egydio Monteiro de Carvalho é presidente da Assembleia Geral do Vasco.