Entrevistado: João Carlos Gomes Ferreira
Quem é: Grande Benemérito e ex-presidente do Conselho Deliberativo
Data: 14/05/2010
SempreVasco - Comente sobre seu passado como torcedor anônimo. Desde quando o senhor se conhece como vascaíno?
João Carlos - Meu passado, como torcedor, foi igual ao seu e ao de todos os vascaínos. Frequentando as arquibancadas. Ia a todos os jogos do Vasco, torcia como um louco, vibrava, chorava, brigava. Quando garoto, morei no Leblon e em Copacabana. Imagina o que era ser vascaíno, na Zona Sul, naquela época. No Leblon, estudei no Colégio Santo Agostinho. Até um padre, que era tricolor, me perseguia porque era a época do Expresso da Vitória e o Vasco ganhava tudo. Em Copacabana, só tinha dois amigos que eram vascaínos, um deles era o cunhado do Grande Benemérito e grande vascaíno, Dr. Amadeu Pinto da Rocha. Eu o conheço e admiro desde 1955. Acredito que, para mim, ser Vasco é uma questão de genética. Meu falecido pai era português e, claro, era vascaíno, por isso, nasci vascaíno e hoje o meu maior orgulho é poder afirmar que sou filho, pai e avô de vascaínos.
SempreVasco - Qual o primeiro jogo que o senhor assistiu?
João Carlos - Foi em 1945. Eu tinha cinco anos. Levado pelo meu pai, assisti a Vasco e São Cristóvão, em São Januário.
SempreVasco - Qual o momento mais marcante do Vasco para o senhor?
João Carlos - A conquista do Super-Super Campeonato, em 1958.
SempreVasco - O senhor é torcedor do tipo mais comedido, que comenta calmamente os lances, ou é daqueles que xinga juiz, grita nos momentos mais marcantes?
João Carlos - Já passei por essas duas fases. Até alguns anos atrás eu era do tipo que xingava juiz, gritava e brigava. Hoje, com setenta anos, sou do tipo mais comedido. Deixo o xingar juiz e gritar para minha mulher, que também é vascaína e fanática.
SempreVasco - O senhor foi presidente do Conselho Deliberativo durante as administrações do presidente Eurico Miranda. Qual é a importância do Conselho que o senhor presidiu para a viabilidade do clube?
João Carlos - A importância do Conselho Deliberativo está bem definida no artigo 75 do Estatuto do Vasco: é o Poder Legislativo e de orientação do clube, agindo, nesta qualidade, como mandatário do quadro social.
SempreVasco - O senhor milita no Vasco há várias décadas, sendo sempre uma figura atuante. O que o motivou a entrar na política do clube e como foi esse começo?
João Carlos - O que me motivou, além do meu amor pelo Vasco, foi a possibilidade de participar da vida política do clube e, de alguma forma, colaborar. O começo foi em 1969, quando fui convidado pelo hoje Benemérito João Manuel de Almeida, o “João Livreiro”, sócio da Livraria Cultural da Guanabara, uma das melhores e mais completas livrarias jurídicas do Rio de Janeiro, para participar de um movimento de oposição contra o então Presidente, Dr. Agathyrno da Silva Gomes. Fizemos um acordo com a chapa de situação e elegemos a minoria, de trinta membros. Eu estava entre eles. Nunca mais sai do Conselho Deliberativo.
SempreVasco - Tendo ajudado o clube durante muito tempo o senhor recebeu o título de Grande Benemérito, em 13/08/1990. Comente um pouco sobre a sua ajuda ao clube.
João Carlos - Minha ajuda ao clube se limitou apenas ao trabalho que sempre desenvolvi, tanto como membro do Conselho Deliberativo e atuando como vice-presidente jurídico, por duas vezes, nos mandatos dos ex-Presidentes Alberto Pires Ribeiro e Antonio Soares Calçada.
SempreVasco - A Eleição de 2008 foi uma das mais polêmicas e o senhor - como representante máximo de um dos poderes do clube - teve de ter bastante jogo de cintura para controlar a situação. Como o senhor vê a decisão judicial de realizar uma nova eleição no clube, devido ao corpo jurídico do ex-presidente Eurico Miranda não ter recolhido as custas do processo e consequentemente, ter sido julgado a revelia?
João Carlos - Na verdade, não precisei ter muito jogo de cintura, porque, enquanto fui presidente do Conselho Deliberativo, minha atuação se limitava a presidir aquele Poder. Quando o Roberto foi eleito, o presidente do Conselho era o Dr. José Carlos Osório. Quanto ao não recolhimento das custas, não foi o corpo jurídico do ex-Presidente Eurico Miranda, que era dirigido, à época, pelo competentíssimo Dr. Paulo Reis. Na verdade, foi um advogado contratado pelo Vasco que cometeu esse lamentável equívoco. Acho que não passou disso, um lamentável equívoco.
SempreVasco - Como o senhor analisa a última Eleição do Conselho de Beneméritos que elegeu Eurico Miranda como presidente?
João Carlos - Além de ser da oposição à atual diretoria, sou amigo pessoal do Eurico há mais de quarenta anos. Acho que a presidência do Conselho de Beneméritos está muito bem entregue a ele e, além disso, se fez justiça a um dos maiores vascaínos que conheci.
SempreVasco - Como o senhor avalia o mandato do Presidente Roberto Dinamite em cima dos seus erros e certos?
João Carlos - É muito difícil para mim, na qualidade de membro da oposição, analisar a atuação do Roberto Dinamite como presidente. O principal e único fundamento utilizado por ele e pela maioria dos que o acompanham para justificar tudo o que foi feito de errado e o que deixou de ser feito de bom até agora é a tal da “herança maldita”, o que, convenhamos, já não convence mais ninguém. O fato é que o Roberto, em última análise, é o menor culpado de todos os erros que foram cometidos ao longo do seu mandato (e foram muitos), porque ele não tem perfil de presidente, não age como Presidente e não tem competência para ser presidente. Culpados são os que o levaram a essa posição e que, hoje, alguns o abandonaram e outros continuam tomando as decisões por ele e, infelizmente para o Vasco, a esmagadora maioria dessas decisões tem se mostrado prejudicial ao clube. Em resumo, o mandato do Roberto está sendo lamentável e, o que é pior, ruim para o Vasco.
SempreVasco - Um novo pensamento defende a profissionalização do clube. Isso significa que o clube deve contratar profissionais com experiência no ramo e remunerá-lo. Somente desta forma, seria possível cobrar resultados pelo trabalho apresentado. Essa teoria vai de desencontro às mais tradicionais, que defendem o dirigente amador, aquele que trabalha por amor ao clube, de forma completamente passional. Qual a sua opinião sobre o assunto? Qual o modelo mais indicado?
João Carlos - Entendo que o modelo ideal é o do vice-presidente de departamento amador, que é escolhido pelo presidente e é o patrão. Os empregados são contratados, remunerados e devem ser, acima de tudo, competentes. O segredo para este modelo funcionar é que o Presidente deve ser o mais competente de todos (o que infelizmente hoje não acontece no Vasco), para saber escolher seus vice-presidentes. Essa história de clube empresa nunca me convenceu. Sou totalmente contra.
SempreVasco - A última vez que o Estatuto do Vasco sofreu uma reforma, foi no logínquo ano de 1979, na administração do presidente Agathyrno Silva Gomes. A reforma foi liderada pelo então presidente do Conselho Deliberativo Estélio Mercante. Passaram-se anos, e o Estatuto não sofreu alteração, sendo ainda condizente com assuntos constitucionais que não estão mais vigentes no regime democrático do país. Atualmente, há uma comissão liderada pelo Grande Benemérito José da Silva Maquieira para estudar e sugerir as reformas necessárias para o Estatuto. Como o senhor analisa essa questão? O Estatuto realmente merece ser reformado?
João Carlos - Acredito que o Estatuto deva ser reformado, ao mesmo tempo em que não acredito em soluções fáceis para essa reforma. Apenas porque o Presidente do Conselho Deliberativo, o Dr. José Carlos Osório, não teve o equilíbrio necessário para nomear uma comissão paritária para elaborar um projeto do novo Estatuto, optando por uma comissão com a situação absolutamente majoritária. Infelizmente, embora indicado pela oposição, não faço parte dessa comissão. O Dr. José Carlos dispensou, ou melhor, acho que não quis, minha participação nela.
SempreVasco - Qual seria a escalação do melhor time do Vasco de todos os tempos de acordo com os jogadores que o senhor viu jogar?
João Carlos - Pergunta muito difícil. O Vasco sempre teve muitos craques. Mas, de qualquer forma, vou tentar responder, mesmo sabendo que vou cometer muitas injustiças, deixando de fora jogadores que, sem qualquer dúvida mereceriam ser escalados: Barbosa, Paulinho, Belini, Orlando e Marco Antonio; Danilo, Maneca e Ipojucan; Edmundo, Ademir e Romário.
SempreVasco - Há possibilidade do senhor integrar alguma chapa candidata à presidência do Vasco ano que vem?
João Carlos - Absolutamente nenhuma. Quando ocorrerem as eleições, e espero que seja o mais rápido possível, vou apoiar aquele que me parecer o melhor para o Vasco.
SempreVasco - O Vasco em uma palavra.
João Carlos – Amor.
SempreVasco - Deixe um recado final aos leitores do SempreVasco.com.
João Carlos – Vamos torcer para que estes tristes momentos jamais se repitam em nossa gloriosa história e, acima de tudo, vamos trabalhar, dentro das possibilidades de cada um, sempre a favor do nosso Vasco. Abraços e saudações vascaínas a todos.
João Carlos Gomes Ferreira
Fonte: Sempre Vasco