Mnumento da luta contra o racismo e o preconceito social, São Januário completa hoje 90 anos. Uma história de amor que atravessa o tempo e renova a cada ano uma paixão chamada Vasco da Gama. Cenário de grandes conquistas, vitórias inesquecíveis e também de lágrimas, a história do estádio se mistura à do Brasil. Se dentro de campo desfilaram craques inesquecíveis como Maneca, Ademir, Sabará, Pinga, Coronel, Barbosa, Roberto Dinamite, Juninho Pernambucano, Edmundo e Romário, entre outros, fora dele foram registrados momentos marcantes da história do Brasil. Foi na tribuna do estádio, por exemplo, que em 1943 o presidente Getúlio Vargas anunciou ao povo brasileiro as primeiras leis trabalhistas do país.
Foi também na Colina histórica o primeiro jogo da final da Libertadores de 1998, conquistada pelo Vasco na partida seguinte, no Equador. Em São Januário, Romário marcaria nove anos depois o seu milésimo gol.
Mas o velho caldeirão também reservou capítulos dramáticos. Como esquecer a final da Copa João Havelange, em 2000, quando parte do alambrado do estádio caiu e feriu mais de cem torcedores? E o que dizer do 7 de dezembro de 2008, dia mais triste do estádio, quando o Vasco perdeu por 2 a 0 para o Vitória e foi rebaixado pela primeira vez no Campeonato Brasileiro?
Nenhuma conquista nestes gloriosos 90 anos vai superar o legado social deixado na história da construção do estádio. Com um time de negros e operários, o Vasco conseguiu o acesso à Primeira Divisão da Liga Metropolitana, elite do futebol carioca, em 1923. Na estreia, massacrou os adversários com o time que ficou conhecido como os ‘Camisas Negras’. Incomodada, a liga tentou expulsar o Vasco exigindo que o clube tivesse um estádio. A resposta foi São Januário.
“Eles fizeram a tradicional vaquinha com os comerciantes e, em um ano e meio, o time dos pobres e dos negros inaugurou o seu estádio”, diz com os olhos marejados Walter Ramos, 74 anos, vice-presidente do Parque Aquático, e, nos anos 1950, nadador do clube. Walter é neto de Manoel Pereira Ramos, o dirigente que escolheu o terreno da Colina.
Historiador do Centro de Memória Vasco da Gama, Walmer Peres Santana não tem dúvida do legado social. “A história da construção de São Januário é um monumento da luta contra o racismo e o preconceito social. Quem é Vasco tem que entender a história de quem construiu o maior estádio da América do Sul, na época”, analisa.
Com a propriedade de quem há 62 anos é funcionário do Vasco, Agenor Brito, de 82, derrete-se ao falar do clube que o abraçou na vida. “Cheguei aqui com 20 anos, vim na cara e na coragem, e o Vasco abriu as portas para mim. Aqui criei meus quatro filhos e fiz minha vida. São Januário é tudo para mim”, afirma seu Agenor, o funcionário mais antigo.
Responsável pela sala de troféus do estádio, Angelina Fonseca, 74 anos, e 44 de Vasco, sente-se em casa: “Os troféus são minha família e esta sala é a minha segunda casa. Que data bonita, né?”
Encarregada do setor administrativo, Marília Melo, 72 anos, também se orgulha muito de fazer parte da história do estádio: “Cheguei aqui com 16 anos e estou até hoje. São Januário será sempre a minha segunda casa.”
Fonte: O Dia