Há menos de um ano, Douglas era praticamente um anônimo. Com uma mudança meteórica de vida, o jovem volante de 18 anos tornou-se titular absoluto, fez gol na final da Taça Rio, virou destaque na campanha do título do Vasco e já é apontado por um tetracampeão mundial pelo Brasil como o futuro sucessor de Paulinho na seleção.
Responsável por promover o jogador ao profissional do Cruzmaltino, o técnico Jorginho, campeão do mundo em 1994, é quem faz a aposta.
"Vejo o Douglas como um futuro Paulinho na seleção pelo nível de jogador que ele é. Pela capacidade técnica, força física, um chute forte de fora da área, penetração... Tudo que o Paulinho tem é o que esse jogador tem. Precisa de tempo, vai amadurecer cada vez mais, mas tenho certeza de que o Douglas, em poucos anos, chegará à seleção principal", declarou ao UOL Esporte, comparando o jovem com o atual atleta do Guanghzou Evergrande (CHI).
Atual treinador de Douglas, Milton Mendes também rasga elogios e já faz lobby junto a Tite:
"Ele já é uma realidade, um dos grandes volantes do Brasil. Joga como volante e se torna um meia quando a equipe precisa. Merece que olhem por ele. Tem um potencial que vejo em poucos, e só tem 18 anos. O que ele faz defensivamente e ofensivamente, a força que tem... é um antigo 8. O Tite é inteligente e vai arrumar um lugar pra ele na seleção", disse o treinador.
Embora Douglas atue como uma espécie de segundo volante, Jorginho acredita que o jovem também possui características de meia:
"Eu enxergo nele uma característica muito importante como volante e meia. Não é um exímio marcador, que domina, briga pela bola como é o Jean, que a gente vê claramente hoje em dia no Vasco, mas tem um sentido de marcação muito bom. Além disso, a saída de bola é muito boa, os passes são ótimos, curtos e longos, virada de jogo e também uma penetração. É um jogador que, além de levar a bola com ele, de puxar um contra-ataque em velocidade, penetra muito bem dentro da área sem a bola. E isso acaba se transformando num perigo e ele tem feito gols importantes".
Douglas não era badalado na base
Ao chegar ao Vasco, no segundo semestre de 2015, Jorginho ouviu muito falar em São Januário sobre Evander, Andrey, Caio Monteiro, Mateus Pet e outros garotos muito badalados na base do clube. Na pré-temporada de 2016, os levou para a pré-temporada e conviveu com o lobby da torcida para que os escalassem.
Só que foi durante um despretensioso treino contra os juniores ao longo daquele ano, quando o time corria riscos na Série B, que o treinador bateu o olho e se encantou por um até então desconhecido Douglas.
"Eu gosto muito de fazer os treinos contra os juniores. A gente já tinha subido alguns jogadores como Pet, Evander, Andrey... E num desses treinos eu vi o Douglas, e numa posição que a gente carecia muito. A gente jogava num losango e ele fazia aquele lado direito do losango. Era o Julio dos Santos que estava jogando e ele não era aquele jogador de velocidade, que acompanha o lateral e que chega a frente. Então eu vi o Douglas treinando e pedi que subisse esse jogador e que ficasse treinando com a gente. E aí foi que vi a capacidade dele, a condição dele e vendo que realmente tinha muitas condições de estar conosco", lembrou Jorginho.
Deixou a favela e pegou seleção sub-20
Até o fim do ano passado, quando já atuava como profissional, Douglas ainda morava na comunidade Nova Holanda, que pertence ao Complexo da Maré, região com alto índice de criminalidade da Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi quando se mudou com os pais para um condomínio de classe média no bairro de Pilares, também na Zona Norte.
Jorginho, que há anos toma frente do projeto social "Bola Pra Frente" voltado para menores carentes, revelou conversas em especial com o volante.
"Eu sabia que ele morava na comunidade Nova Holanda e sabia o quanto era importante chegar com esse jogador, conversar com ele, explicar o quanto era importante manter o foco. Expliquei para ele que vários jogadores chegaram, começaram muito bem mas, por causa de más companhias, porque não se concentraram, não deram atenção total aos treinos, acabaram se perdendo. Falei para ele o quanto era importante se manter focado e ligado. Fico muito feliz em ver o sucesso dele agora. Eu só tenho a desejar cada vez mais sucesso e sei que, se ele se mantiver comprometido com ele, com o trabalho dele, com a família e com o Vasco, com certeza irá muito longe", disse o treinador que, curiosamente, viu um jovem que iniciou no seu projeto social chegar ao profissional do Vasco: o lateral esquerdo Alan, de 19 anos.
Este ano Douglas disputou o campeonato Sul-Americano sub-20, quando a seleção brasileira fracassou sob o comando de Rogério Micale e ficou fora do Mundial da categoria.
Fonte: UOL