Final de outubro de 2014. Gilmar Dal Pozzo perdia o emprego no Criciúma depois de mais uma derrota, para o Vitória, em Salvador. O Tigre estava perigosamente ameaçado por um virtual rebaixamento à Série B. A busca por um técnico atendia diversos requisitos. Um deles, que fosse um profissional capaz de operar o milagre da permanência tricolor na Série A. Coube a Toninho Cecílio esta missão. Nos seis jogos finais, fracassou e o tricolor despediu-se da elite.
No meio deste turbilhão, há dois anos e meio, Milton Mendes se oferecia para treinar o Tigre. E sem custo. “Sim. Eu me ofereci. Iria de graça. Era um momento difícil do Criciúma, eu torço pelo Criciúma”, confirmou nesta segunda-feira, menos de 24h depois de ser campeão da Taça Rio pelo Vasco, após vencer o Botafogo ontem por 2 a 0, na decisão do segundo turno no Rio de Janeiro.
"Mas eu compreendo. Ninguém me conhecia, era um risco. Eu no lugar deles pensaria assim também”, observou, colocando-se no lugar dos dirigentes do Tigre que, à época, não aceitaram a proposta. "Um dia eu ainda vou trabalhar no Criciúma", apontou.
Quatro títulos em três anos
O içarense Milton Mendes fez carreira como jogador no Vasco, Criciúma e futebol português. Começou como técnico também em Portugal, em 2002, e chegou ao Brasil justamente em 2014, treinando o Paraná. Ao não dar certo a vinda para Criciúma, transferiu-se para a Ferroviária de Araraquara, comandando o time no retorno à primeira divisão do Campeonato Paulista depois de 19 anos. Era a primeira taça no futebol brasileiro, de campeão da Série A-2 de São Paulo.
“Estou faz três anos no Brasil e já conquistei quatro títulos”, atualizou, lembrando que entre as conquistas na Ferroviária em 2014 e no Vasco ontem ainda levantou os canecos da Copa do Nordeste e do Campeonato Pernambucano do ano passado pelo Santa Cruz. Trabalhou também no Atlético Paranaense, em 2015.
O Vasco e Eurico
Em 19 de março, Milton era anunciado treinador do Vasco. Ele admite que, quando chegou, percebeu um time desanimado em São Januário. “Chegamos para definir metas e mostrar aos jogadores que eles eram capazes”, frisou. Uma missão foi arrumar a defesa. E funcionou. “Sofremos apenas dois gols em seis jogos até agora”, contou.
O trabalho tem sido pesado. “Chegamos a ir noite adentro em treinos”, relatou. “Com a Taça Rio, colhemos um fruto. Quando chegamos, o time estava ameaçado de nem classificar. Todos queriam a taça, dois chegaram e um ganhou, nós”, resumiu o treinador.
Milton reconhece que seu nome por recebido com certa desconfiança por setores da torcida e da imprensa no Rio de Janeiro. “Natural isso. Mas os diretores me deram confiança e eu olho tudo de dentro para fora, não me preocupo com o que vem de fora”, argumentou.
Sobre o polêmico Eurico Miranda, Milton garante que a relação é a melhor com o presidente vascaíno. “Ele é fabuloso conosco, nos dá muita segurança para trabalhar. É peça fundamental no trabalho da gente”, contou o comandante do Vasco.
Meta na Série A?
O Vasco está de volta à elite do Campeonato Brasileiro. Mas Milton quer ir passo a passo, e não traça uma meta. “Estamos indo a curto prazo. Agora nosso objetivo é ganhar o Estadual”, ponderou. “Mas temos pés no chão, vamos com tendência de crescimento para a Série A”, garantiu.
Içarense ou criciumense?
Uma dúvida que ronda quando se fala em Milton Mendes. Afinal, ele é de Criciúma? Ou de Içara? "Sou içarense. Minha família é toda de Içara, mais precisamente da Mineração. Me criei até os meus oito anos ali, e depois me mudei para Criciúma. Sou içarense de nascimento e criciumense de coração, como também sou português de coração, vivi 30 anos lá e minha mulher e meus filhos ainda estão lá", relatou.
Milton referiu que, sempre que vem à região, visita os parentes na Mineração. "Minha família está aí. Minha mãe, adoentada, meu pai também, mas são fortes, e são os maiores tesouros que nós temos. Meus irmãos todos torcendo por nós em Criciúma, os primos também", afirmou.
Um sonho: Seleção
Afinado com a postura de Tite, Milton Mendes é só elogios ao técnico da Seleção Brasileira. “Estamos muito bem servidos. Me identifico com ele, gostamos de trabalhar com posse de bola e transição”, opinou o técnico do Vasco.
E ele revela um sonho: comandar a Seleção um dia. “É sim o meu maior sonho. Almejo sim. Eu trabalho muito, 24 horas por dia, eu acordo e durmo futebol, tenho um bloquinho do lado da cama para anotações na madrugada”, disse. “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho. Então eu sonho grande”, destacou.
Convidado a resumir sua escola preferida no futebol, ele não cita treinadores de referência mas sim países. "Gosto da escola italiana para o jogo sem a bola. Me espelho muito nos ingleses no posicionamento e avanço rápido e no futebol da Escócia para as transições rápidas", revelou. "Eu tenho no meu DNA essas escolas", concluiu.
Fonte: Portal Engepus