Já são 73 gols em 97 partidas. O desempenho impressionante é de Fábio Lima, brasileiro que passou por São Paulo e Vasco antes de virar ídolo dos "sheiks" nos Emirados Árabes Unidos. Em Dubai, o atacante paraibano já ganha até presentes caros de torcedores do Al Wasl - um luxo e tanto para quem trabalhava na roça há pouco tempo atrás.
Seu clube está em 4º no campeonato nacional, a um ponto da zona de classificação para a Champions League asiática. Vice-artilheiro da competição, com 21 gols, o canhoto conta as "loucuras" que os emiradenses fazem por seus heróis no gramado.
"Às vezes alguns torcedores dos clubes dão presentes quando o time está bem, mas nada de anormal. É um iPhone... No meu clube é assim, nos clubes maiores eles falam que os presentes são melhores!", relata o jogador, ao ESPN.com.br.
Aos 23 anos, ele concorre ao prêmio de melhor estrangeiro atuando no país na temporada, fato que já aconteceu nos dois anos anteriores.
"Dos três anos, esse ano é o meu melhor. No primeiro, fiz 18 gols, no segundo ano, 28, e neste já tenho 27. E ainda faltam 4 jogos. Estou confiante e espero ganhar", acredita o ex-atleta de São Paulo e Vasco.
O sucesso de Fábio Lima, porém, guarda em seu passado a dura realidade comum a muitos brasileiros. Até os 16 anos, o jovem de 1,78m ajudava na renda familiar e não tinha tempo para se dedicar a uma categoria de base formal dentro do futebol.
"Eu sempre trabalhei na roça, de agricultor, com meu pai. Já fui vendedor de abacaxi, laranja , banana, mandioca, inhame, tudo o que a gente produz na agricultura... E ganhava um dinheiro por fora, jogando nos campeonatos amadores da região", diz o camisa 10 do Al Wasl.
O talento apreciado pelos árabes, entretanto, não foi o suficiente para passar em uma peneira no Crato Esporte Clube, do Ceará, onde o jovem foi reprovado. Foi no Icasa-CE, aos 18 anos, que ele teve sua primeira chance.
"Fiz o teste em dezembro de 2010 e em 2011 já comecei no profissional. Não tive base", recorda.
Jogou com Rodrigo Caio no SP
O nordestino nascido em Araçagi foi bem no clube de Juazeiro do Norte e se transferiu para o Atlético-GO. Mesmo atuando entre os profissionais, recebeu uma proposta do São Paulo e decidiu ir jogar no sub-20 do clube paulista.
"Eu joguei na base depois de ter passado nos profissionais. Fui muito bem, sempre joguei de titular. Eu, Rodrigo Caio, Régis (hoje no Bahia), João Schmidt, Lucão... Tinha a maior certeza que iria fica no profissional depois da Copinha de 2013", lamenta o atacante.
Na segunda fase da competição, contudo, ele foi sacado dos titulares. "O Milton Cruz, que avaliava na época, falou que eu não estava pronto para jogar no profissional. Foi aí que eu fui pra o Vasco".
Foi por meio de Renê Simões, com quem havia trabalhado no clube tricolor, que Fábio teve a chance na equipe carioca. O treinador era, na época, coordenador técnico cruzmaltino.
"O mais conhecido era o Juninho Pernambucano, com quem eu tinha mais intimidade", relembra com carinho. "Era um cara muito humilde e é um ídolo para mim até hoje. Tinha Éder Luís, Sandro Silva, Luan, André, Henrique, Jomar, Marlone..."
Apesar da boa relação com o "Reizinho da Colina", a passagem pela equipe alvinegra foi curta. "Eu pedi para voltar para o Atlético-GO, para ter oportunidade de jogar e o Vasco liberou". Em 2014, foi campeão estadual com o rubro-negro goiano e chamou a atenção do Al Wasl.
Comeu arroz com a mão
As dificuldades de adaptação dos atletas brasileiros nos países árabes são bem conhecidas. Fábio sentiu isso na pele ao se deparar com um idioma totalmente diferente.
"As coisas mais diferentes eram eles comerem o arroz típico deles aqui com a mão; e em algum lugar, as pessoas virem falar contigo e você não entender nada. No começo isso foi muito difícil. Mais engraçado é uma pessoa vir falar contigo e você ir pra outro lado pra evitar conversa."
Depois de três anos no Oriente Médio, o atacante já está bem mais adaptado à cultura local. Embora não esconda o desejo de voltar ao Brasil, ele considera até a possibilidade de ser tornar um cidadão dos Emirados Árabes Unidos.
"Já ouvi alguns comentários que eu poderia receber o convite para me naturalizar. Se acontecer, eu iria pensar com carinho, seria uma oportunidade muito boa."
Fonte: ESPN.com.br