"A maioria não gosta do Cristóvão. Eu gosto. Eles não gostam porque ele não tem a mesma cor que eu. É preconceito". Foi com esta análise que o presidente do Vasco, Eurico Miranda, definiu a dura rotina de pressão que Cristóvão Borges encara praticamente desde que chegou ao Cruzmaltino, clube que, coincidentemente, é conhecido pela luta por igualdade de raças em seus primórdios.
Aos mais próximos, porém, o treinador costuma dizer que não gosta de tocar neste assunto, meio que para não dar brecha à interpretações de que está utilizando o tema como escudo. Todavia, quando questionado sobre a declaração do mandatário, concorda:
"Isso é uma questão social. Assino embaixo".
A bem da verdade, porém, é que as vaias que o acompanham não são uma exclusividade do torcedor vascaíno. Cristóvão tem sofrido com tal pressão há algum tempo. Ao substituir Tite no Corinthians, por exemplo, também encarou xingamentos e não resistiu após três meses de trabalho, mesmo período que durou no Flamengo, onde foi contestado praticamente desde sua chegada.
No Atlético-PR, ficou por cinco meses. No Bahia, sete. Os trabalhos mais duradouros foram no Fluminense, por 11 meses, e na primeira passagem pelo Vasco, em 2012, por um ano, quando deixou de ser auxiliar de Ricardo Gomes e foi efetivado ao cargo de treinador. Em todos eles, porém, a vaia sempre o acompanhou durante boa parte do tempo.
Indagado se entedia os motivos pelo qual era tão perseguido, não soube responder, mas revelou que tem tentado matar essa curiosidade:
"Eu tenho procurado estudar para entender isso, mas não cheguei a conclusão ainda. Eu sou muito observador, venho observando e acho que vou chegar a uma conclusão em algum momento. Mas ainda não consegui".
Boa-praça
O que não há como negar é que Cristóvão Borges atinge unanimidade em um quesito: a simpatia. Por onde passou, deixou amigos e tornou-se querido. De perfil calmo e culto e adepto de uma boa conversa, ele não deu motivos para cultivar mágoa a alguém nestes quase cinco anos de carreira como treinador.
Promessa da base vascaína, Guilherme Costa, por exemplo, só tem razões para elogiá-lo. Foi com Cristóvão que o meia teve sua primeira oportunidade como profissional, em 2012, e também com o técnico que voltou a ter chance na equipe, como vem acontecendo agora.
"Sou muito grato ao Cristovão. Passaram vários treinadores aqui que nunca me deram oportunidades e ele me deu", fez questão de dizer o garoto.
Em entrevista coletiva, o UOL Esporte pediu para que Nenê, um dos líderes e mais experientes do grupo, definisse Cristóvão em termos pessoais e profissionais. E assim o camisa 10 o avaliou:
"Cristóvão é um cara muito aberto, sempre conversa com a gente. É honesto, claro em todas as coisas que vai fazer. Com ele não tem essa coisa de jogador mais velho e mais novo. Somos todos iguais. Isso é um muito bacana. E, profissionalmente, ele acredita muito no trabalho dele e nós também acreditamos. Claro que, às vezes, pode não dar certo dentro de campo. Mas ele tem uma coisa bem clara na cabeça dele em relação a isso e confia muito no trabalho".
"N questões"
Sempre com o discurso de que não demite técnico, Eurico Miranda segue garantindo Cristóvão Borges no cargo, destacando que os motivos que o levaram a contratá-lo são muitos.
"Não se contrata ninguém no Vasco que eu não aprove. O Cristóvão foi uma escolha por 'N' razões, especialmente pela primeira passagem no Vasco, que foi excelente", disse à Espn Brasil.
Nos bastidores, no entanto, há quem garanta que uma eliminação nesta quinta-feira, perante o Vitória, às 21h, em Salvador (BA), pela terceira fase da Copa do Brasil, pode deixar a situação insustentável para o comandante. Como empatou o primeiro jogo em 1 a 1 no Rio de Janeiro, o Vasco precisa vencer ou empatar por dois ou mais gols para ficar com a vaga.
Fonte: UOL