De um lado, o vermelho e o negro. Do outro, o branco, o preto e o vermelho da Cruz de Malta. Dos dois, o branco da paz. Obviamente, a vitória é o sonho das duas equipes, mas a paz é a tônica que os jogadores querem que predomine no confronto deste sábado em Manaus, às 14h (de Brasília) pelo Novo Basquete Brasil. Prova disso é o clima de respeito entre os jogadores de Flamengo e Vasco da Gama na troca de turnos entre treinos na quadra da Arena Amadeu Teixeira. Abraços, cumprimentos, sorrisos, conversas. Fora isso, o discurso dos atletas é de que, independemente do resultado, a harmonia precisa reinar no ginásio para o grande clássico, que terá transmissão do SporTV e cobertura em tempo real pelo GloboEsporte.com. Alguns dos nomes deste duelo são rivais amigos. É o caso de Ricardo Fischer, que joga pelo Flamengo, e Murilo Becker, que atua no Vasco.
Os dois jogaram juntos por um ano no time do São José. Depois, voltaram a ser companheiros em Bauru. E até hoje mantêm contato e uma grande amizade. Por isso, a despeito da rivalidade entre flamenguistas e vascaínos, o tom é de respeito. Vale empurra-empurra? Vale discussão em quadra? Vale provocação? Ambos os atletas acreditam que sim. Mas, assim que o cronômetro zerar, voltam a ser amigos. Nada muda.
- Acho que não é só adversário, mas um colega de profissão. Um dia a gente pode jogar junto ou já jogou junto e criou aquela amizade. Então essa amizade que temos fora da quadra é bom para transmitir para as torcidas fora da quadra para ter paz. Ali temos uma rivalidade só no momento do jogo, mas fora do jogo somos todos seres humanos, atletas e amigos. Tem que ser um espelho para a torcida, para não haver mais brigas não só nos ginásios, mas nos estádios. O ser humano tem que entender que existem opiniões diferentes, que eles só torcem para times diferentes. Dentro de quadra somos rivais, fora de quadra somos amigos. Nos encontramos, conversamos. É nossa profissão. Fora da quadra somos amigos e sempre brincamos uns com os outros - comentou Ricardo Fischer, que joga como armador.
Desde que o Vasco retornou à elite do basquetebol brasileiro no ano passado, o Cruz-Maltino e o Flamengo já se enfrentaram em seis ocasiões (com quatro vitórias vascaínas e duas rubro-negras). Com restrições em ginásios no Rio de Janeiro, alguns dos jogos recentes tiveram torcida única por questões de segurança. Aliás, o último embate, vencido pelo time da Colina por 78 a 77, foi com portões fechados na Arena da Barra. Agora, a Arena Amadeu Teixeira receberá nas arquibancadas torcedores das duas equipes. Por isso, os jogadores querem dar o exemplo de que a rivalidade existe, mas a tônica tem que ser a paz.
- Claro que a gente vem, conhece, muitos a gente jogou junto já, então não tem como, você não vai odiar o cara porque ele está no seu rival. Dentro da quadra você tem que esquecer que você tem uma amizade fora, porque lá você está defendendo seu ganha-pão, a sua família, o seu trabalho, seu dia a dia, mas que seja um jogo limpo. Pode ter empurra-empurra, pode ter discussão. Mas acaba o jogo e não existe mais isso. Espero que isso aconteça. Claro que uma torcida vai, xinga a outra, provoca, isso é normal. Mas, enfim, estou muito feliz porque estou há seis meses no Vasco e é o primeiro Flamengo x Vasco com torcida. Em um local diferente, em uma cidade diferente, mas precisamos pensar pelo lado de que pode ser uma porta de entrada para futuramente, quem sabe, eles terem um time aqui disputando o NBB - opinou Murilo Becker, pivô vascaíno.
Amizade de Fischer e Murilo vem dos tempos de Bauru
De 2012 a 2016, o armador Ricardo Fischer atuou pelo São José, onde despontou para o basquetebol nacional. Foi lá que conheceu o pivô Murilo Becker. Se tem em Fúlvio sua principal inspiração por conta da função em quadra, Fischer tem em Murilo um amigo e um jogador que ajudou muito com dicas de posicionamento, de como ele deveria se portar em quadra e do que fazer em diversas situações de jogo.
- O Murilo sempre me ajudou muito, cara, porque o armador sempre precisa se dar melhor com o pivô. E ele com a visão dele, ele tinha acabado de voltar de Israel, foi um cara que me ajudou demais: "Oh, dá um passe mais rápido", "joga desse jeito", "prefiro isso". Então ele me ajudou a despontar no São José e depois no Bauru. É alguém que me ajudou desde o início - relatou Fischer, lembrando também que foi ele quem convenceu Murilo a jogar no Bauru no ano passado.
- Eu que fiz o lobby para ele ir para o Bauru na época. Liguei para ele, convenci: "Cara, vem para cá! A gente se dá bem jogando". Ele é um cara com quem sempre me dei bem jogando, é um estilo que gosto, pick and roll é meu carro chefe. É um grande jogador, para mim é há anos o melhor pivô do Brasil, pela intensidade que tem, a visão que tem dentro do jogo. É um grande pivô com quem sempre gostei de jogar ao lado. E jogar contra ele é muito ruim. É um cara que sempre dá trabalho no garrafão, mas é um cara sensacional - completou.
Murilo também fez questão de elogiar o jovem Fischer e aposta inclusive que ele vá se desenvolver ainda mais no basquetebol nacional.
- Ricardo é um excelente jogador. Quando ele foi para São José, era menino, e eu estava lá, mas chegou para somar, a gente viu que ele tinha potencial e muito rapidamente começou a despontar, aparecer e ajudar demais o nosso time. Ele saiu, foi para Bauru, aí deu um salto ainda maior, hoje está em uma excelente equipe também. Ricardo só tem a crescer: é jovem, é carudo, tem uma responsabilidade dentro da quadra muito grande, tem uma característica que, acima do que sabe fazer, confia demais em si mesmo. É um ótimo jogador e temos uma amizade boa. Jogamos alguns anos, um em São José, mais três em Bauru. É uma excelente pessoa e gosto muito dele - falou o pivô do Vasco da Gama, lembrando ainda que ter um conhecimento prévio sobre os rivais pode ser vantajoso.
- Ajuda os dois lados, mas independemente de ter jogado com ele quatro anos, já joguei com os outros contra também ou com alguns outros há muitos anos. Então a gente sabe a característica do Olivinha, do Marcelinho, do Ricardo, do Ramon, são excelentes jogadores e difíceis de serem parados. Com uma defesa bem conjunta, agressiva e concentrada desde o começo, vamos fazer isso acontecer e deixar que o jogo flua no ataque tranquilamente - acrescentou Murilo.
Pressão para o lado do Flamengo
A última partida entre Flamengo e Vasco terminou com placar de 78 a 77 para o Cruz-Maltino na Arena da Barra, com portões fechados. Obviamente, o momento é outro. Se naquela ocasião tinha Marcelinho, Fischer, Hakeem Rollins e Humberto como desfalques por lesão, agora o departamento médico do Rubro-Negro só conta com o último jogador. Mas perder por apenas um ponto para seu arquirrival é um golpe duro. Certamente, ficou engasgado para os flamenguistas. Por isso, em Manaus, eles acreditam que a pressão seja maior para o time da Gávea. E não só pelo último embate, mas pelo fato de que a equipe comandada por José Neto é tetracampeã do NBB e atual líder, enquanto o clube da Colina retornou à elite do basquetebol nacional no ano passado e figura na nona colocação do torneio na temporada regular.
- Flamengo já tem uma pressão por si só por ser tetracampeão. Estamos em primeiro, perdemos para o Vasco no primeiro turno. A situação é diferente, eu estava fora, Marcelo estava fora, Hakeem também. São situações diferentes de jogo. Existe uma pressão pra gente ganhar do Vasco, pra manter a liderança. Mas o Flamengo está acostumado com isso, sabe lidar muito bem, vai ser um grande espetáculo para a torcida no sábado, e eles vão nos empurrar para a vitória - opinou Fischer.
Murilo fez coro, mas, apesar de ser amigo de Fischer, crê na vitória do Vasco da Gama.
- Flamengo vive um momento diferente do nosso, não só na temporada, mas nos últimos anos. Há quantos anos eles não estão disputando várias competições no basquete? O Vasco está disputando agora o NBB depois de muito tempo fora, é o primeiro NBB. Antes tinha disputado o Brasileiro com excelente equipe, mas clássico é clássico. Você vê no futebol dois rivais às vezes um na primeira, outro na segunda, terceira divisão, mas clássico é clássico. Duas equipes da mesma cidade é assim mesmo. Quando se trata de clássico, não tem muito favorito. Por mais que eles estejam em primeiro e nós em nono lugar, você vê jogos complicados, então eu acho que a equipe que se doar mais e acreditar vai vencer o jogo - concluiu.
Leia frases dos treinadores e de alguns atletas sobre o jogo e programas especiais em vídeo:
Dedé Barbosa: "A importância é grande. O Vasco está pronto. Vamos fazer o máximo possível para sair vitorioso desse jogo, sem desculpas".
Dedé Barbosa: "Quem nunca jogou um Vasco e Flamengo com torcida dupla não sabe. Só sente quando está dentro de quadra. Ficamos felizes do jogo ser aqui. O foco é expandir o basquete no Brasil".
Dedé, técnico do Vasco: "Minha primeira vez em Manaus. Estrutura top. Sabemos que o jogo com o Flamengo é diferente. Envolve o clube. São dois times que almejam esse tipo de vitória. Sabemos da responsabilidade, mas sabemos que o campeonato é decidido nos playoffs. Estamos motivados, ainda mais com as duas torcidas. Tenho certeza que estará lotado no sábado".
José Neto: " Estamos chegando em um ponto que podemos usar quase todo o nosso elenco. Tivemos atletas que chegaram lesionados, outros que se machucaram. A maior parte não tivemos o elenco todo. Temos boa condição agora para apresentar o melhor basquete e manter a liderança".
José Neto: "Só depende da gente para terminar em primeiro na fase de classificação. Então estamos focados para vencer e conseguir essa classificação ao fim da primeira fase".
Marcelinho Machado: "Que seja uma festa. Isso não inclui briga, confusão. Que a torcida possa dar exemplo. O jogo vale muito, mas se fosse ao ginásio, queria curtir ao máximo, intensamente, mas com respeito".
Marcelinho Machado, jogador do Flamengo: "Chegar aqui e ser recebido assim mostra o carinho. Já fui garoto e sei o que significa estar em contato com profissionais. É uma obrigação tratar da melhor forma possível. Isso volta para a modalidade. Estou feliz de estar aqui. É um jogo diferente. Não é qualquer jogo. Envolve clubes de história. Na tabela será mais uma vitória ou derrota, mas peso é outro"
Murilo, pivô do Vasco: "Uma vitória no clássico dá uma moral muito grande. Quando cheguei, já imaginei jogar esse clássico pela rivalidade, Exxon as duas torcidas. Será um espetáculo, as torcidas vão se envolver e os jogadores vão se entregar ao máximo, tenho certeza".
Fonte: GloboEsporte.com