Eurico Miranda, presidente do Vasco, reuniu a imprensa dias antes do Natal, em 20 de dezembro de 2016, para anunciar números sobre a gestão dele à frente do clube. “O orçamento vai ser aprovado agora, e vocês vão ficar surpresos. O Vasco vai brigar nas cabeças, com certeza”, disse. Foi também naquela entrevista coletiva que o chefão prometeu um “presente” para a torcida – o agrado viria a ser o argentino Damián Escudero. Há um punhado de bons motivos para desconfiar das afirmações de Eurico. O orçamento anunciado por ele, submetido ao Conselho Deliberativo vascaíno, prevê receita recorde e superávit em 2017. Mas não dá para confiar nos exageradamente otimistas prognósticos do departamento financeiro do clube.
O futebol brasileiro tem um vício: quando as receitas não são suficientes para cobrir as despesas, a diretoria estima no orçamento que vai arrecadar dezenas de milhões de reais com vendas de atletas para tapar o buraco. Corinthians, São Paulo, Atlético-MG, todos recorrem ao mesmo artifício para resolver a parada no papel – na realidade ninguém pode adivinhar quantos jogadores serão vendidos e por quais valores, e aí, na maioria dos casos, sobram apenas prejuízos. O Vasco faz pior. Além de contar com uma receita de R$ 22 milhões com transferências dos próprios jogadores, os dirigentes cruz-maltinos esperam R$ 13 milhões com o mecanismo de solidariedade da Fifa. Explica-se: Philippe Coutinho, revelado pelo Vasco, hoje no inglês Liverpool, foi cogitado na China. Uma eventual transferência dele renderia 5% do dinheiro para o Vasco por ser o formador do atleta. Colocar no orçamento uma receita da qual o clube não tem o menor controle é no mínimo irresponsável.
ÉPOCA descontou das previsões vascaínas os valores de vendas de atletas e mecanismo de solidariedade. O Vasco, portanto, arrecadará R$ 227 milhões em 2017 se estiver correto em todas as outras projeções. A triste constatação é que dificilmente estará. O orçamento prevê R$ 10 milhões em premiações. É o que a CBF pagou ao vice-campeão do Campeonato Brasileiro em 2016. Contar que o Vasco vai conseguir a segunda colocação, vindo da Série B nem sequer como campeão, tem de novo uma dose exagerada de otimismo. O orçamento também projeta R$ 25 milhões em patrocínios. O clube ainda não tem nem um centavo garantido para 2017. O contrato com a Caixa, de R$ 7,5 milhões pela cota master na Série B, em 2016, passa por renegociação. As demais partes do uniforme estão vagas. O Vasco ainda estima R$ 13 milhões em receitas com esportes amadores, como o remo, uma raridade no Brasil. Tudo para lá de criativo.
O risco do otimismo orçamentário é que por mais que as receitas não sejam realizadas as despesas continuarão lá. O clube ainda terá salários e contas a pagar. Logo virá o prejuízo. As soluções são comuns no roteiro ao qual o Vasco se acostumou: vender atletas precocemente ou tomar empréstimos com bancos e empresários. Ambas podem sanar o caixa no vermelho de imediato, mas deixam uma conta a ser paga mais tarde. Dívida. Se não fizer milagre e cumprir todas as receitas otimistas que pôs em seu orçamento, Eurico corre o risco de repetir o resultado que condenou naquela entrevista coletiva de 20 de dezembro de 2016 – o antecessor, Roberto Dinamite, deixou para trás um clube com água cortada, contas atrasadas e ônibus enguiçado. Melhor rever a matemática.
Fonte: Blog Época Esporte Clube - Época