CBF se pronunciará a cada decisão polêmica da arbitragem

Sexta-feira, 20/01/2017 - 04:18
comentários

A partir deste ano, nas competições da CBF, a comissão de arbitragem vai se posicionar publicamente sobre cada decisão polêmica de seus apitadores. Essa é mais uma das mudanças para tentar resgatar a credibilidade da arbitragem no Brasil.

Quem está comandando a mudança é Marcos Marinho, o Coronel Marinho, que havia ficado dez anos como diretor de arbitragem na Federação Paulista e assumiu o posto na CBF no final de setembro.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, Marinho afirmou que, a cada lance polêmico, irá publicar no site da CBF o vídeo da jogada e uma análise com a avaliação sobre a decisão do trio de arbitragem – certa ou errada.

Essa diretriz é uma guinada de 180 graus na maneira como a CBF vinha gerenciando os erros de arbitragem historicamente. Nas últimas décadas, depois que explodiram as polêmicas em razão da melhoria das imagens de TV, a entidade manteve a postura de silenciar, deixando jornalistas e torcedores debaterem sozinhos as decisões dos árbitros.

Nesse período, houve uma queda de braço de bastidores entre os árbitros. Alguns cobravam uma mudança, pois se sentiam desamparados mesmo quando acertavam, enquanto outros preferiam não ver os erros serem reconhecidos publicamente.

Essa medida vem se juntar a outras reveladas pelo GloboEsporte.com na manhã desta quinta-feira, como a mudança da idade de jubilação dos árbitros, a redução das categorias de árbitros, a criação de grupos fechados para cada divisão do Brasileiro.

Leia a entrevista completa com Coronel Marinho:

GloboEsporte.com: Qual é o objetivo das mudanças?

Coronel Marinho: É obviamente melhorar a arbitragem. Algumas coisas estavam erradas. Havia árbitros que estavam no quadro há dez anos e que continuavam a cometer os mesmos erros, mesmo com treinamentos, orientações, avaliações.

Como será feito isso?

Nós vamos acompanhar cada árbitro muito mais de perto. Após cada jogo, vamos enviar ao árbitro nossa avaliação. O objetivo é entregar em 48 horas uma avaliação ao árbitro sobre seu desempenho. Ele vai receber os dois relatórios que são feitos no jogo e mais um feito pela comissão, com base no vídeo do jogo. O árbitro vai receber um vídeo editado dos principais lances com comentário para cada um, dizendo o que acertou e o que errou.

Que pontos serão avaliados, além da parte técnica e física?

Vamos avaliar os aspectos técnico, tático, disciplinar e o que chamamos de conteúdo de jogo, o emocional, a personalidade e o controle da partida.

Quando haverá atualizações no quadro?

Anualmente. Haverá acesso e descenso entre as categorias.

Foram criadas idades para jubilação em cada categoria (50 para Seleção A/B, 42 para Seleção C/D e 40 para Seleção Intermediária, a categoria de entrada). Por que a diferença?

Nós queremos que os árbitros progridam, porque é assim que a arbitragem vai melhorar. Mas, se ele chegou a uma certa idade e ainda não conseguiu deslanchar, então é melhor que abra espaço para alguém mais jovem. E, se alguém for rebaixado e estiver acima do limite de idade da categoria abaixo, será cortado do quadro. Mas o mais importante é que o processo será transparente e imparcial. O árbitro vai poder acompanhar suas avaliações.

Quais serão essas avaliações?

Além das avaliações de jogo, há os testes periódicos. E pode haver outras.

Para quando se podem esperar resultados?

O problema não vai ser resolvido de uma hora para outra, todos já devem ter percebido. O que é preciso é melhorar, reduzir os erros, melhorar a uniformização ano após ano. Vamos trabalhar para ter uma melhora contínua.

Atualmente há entre torcedores e jornalistas um clima de desconfiança em relação à qualidade da arbitragem, com muita polêmica. Como a comissão vai enfrentar isso?

Após cada jogo, nós vamos colocar no site da CBF vídeos com os lances polêmicos, colocar a nossa análise, a posição oficial da comissão e dizer se a decisão foi acertada ou errada. Nosso objetivo é melhorar a arbitragem e melhorar também a compreensão do público sobre o que é a arbitragem, os critérios.

Em que jogos isso será aplicado? Só na Série A?

Isso será feito em todos os jogos que forem televisionados, não importa qual divisão. Estamos expandindo uma parceria para aumentar o número de jogos.

Você sabe que isso pode provocar uma grande reação...

Sim, estamos nos preparando para isso. Essa medida vai ser benéfica para todo mundo: comissão, árbitros, torcedores, jornalistas.

Até maio, os árbitros trabalham mais em seus estados do que para a CBF. Como manter esse trabalho?

Nós queremos ter contato com as federações, tanto com as comissões de arbitragem, como com os presidentes, para informar sobre como os seus árbitros estão indo e trocar informações.

Coronel Marinho, chefe da arbitragem da Federação Paulista (Foto: Vinicius Rodrigues/FPF - Divulgação)

Coronel Marinho assumiu o cargo na CBF, em setembro de 2016 (Foto: Vinicius Rodrigues/FPF)

A mudança do quadro da Fifa (três dos dez foram trocados) não aponta um pouco na direção contrária? Um dos promovidos, Rodolpho Marques (PR), não tem nem 30 jogos na Série A.

Quando aconteceu essa escolha (Nota da redação: em outubro), eu estava acabando de chegar à CBF, então eu mais escutei do que falei. Mas, para chegar aos nomes, não foi um processo rápido, muito foi discutido até chegar a um consenso. Para o Rodolpho Marques, houve pelo menos seis reuniões.

Mas como explicar que Marques foi promovido sem nem ter ficado entre os dez melhores do Brasileiro de 2016, na avaliação da própria CBF? Em comparação, Braulio Machado (SC) ficou em segundo e não foi promovido.

A primeira questão é que essa avaliação não funcionou muito bem, tanto que estamos mudando. Em segundo, não se avalia apenas um campeonato, mas vários e também uma série de fatores, como histórico, evolução, idade e até o potencial para apitar jogos internacionais.

Como assim?

Temos que saber o que a comissão de arbitragem da Conmebol pensa, pois é ela que aponta os árbitros para os torneios internacionais. Se ela acha que um árbitro não está no perfil dela, nem adianta promover. Por isso, estamos sempre em contato com a Conmebol, ainda mais agora que o Wilson Seneme (brasileiro, ex-árbitro Fifa por São Paulo que trabalhou com Marinho na Federação Paulista de Futebol) é o diretor da comissão.

Qual será o papel dos árbitros internacionais aqui no Brasil?

Queremos tornar os árbitros Fifa uma referência para todo o quadro. Para os demais queremos aproximar os critério, mas, para os Fifa, precisa haver uma uniformização. Vamos nos reunir com eles pelo menos uma vez por mês.

Por fim, como vão funcionar os adicionais? Eles serão da mesma categoria dos árbitros principais?

Em cada jogo, um adicional deverá ser, mas o outro pode ser de outra. O importante é que os adicionais receberão treinamento específico. Eles até podem apitar jogos, mas serão principalmente adicionais.

Os torcedores podem ter confiança nesse programa?

Estamos trabalhando para isso.



Fonte: GloboEsporte.com