Ex-jogador e agora técnico, Felipe, 39, estreia nesta quarta-feira como técnico do Tigres do Brasil, equipe de Duque de Caixas, no Campeonato Carioca. E logo na primeira partida terá um reencontro com a pessoa que praticamente alavancou sua carreira no Vasco da Gama, em 1996, quando ele era praticamente um desconhecido na base do clube.
O duelo será contra o também treinador Júnior Lopes, 43, filho de Antônio Lopes e atualmente treinador da Cabofriense. Foi ele quem avisou o pai, então treinador do Vasco em 1996, para dar uma chance para o jovem lateral esquerdo.
"Em maio de 1996 eu era auxiliar dos juniores do Botafogo e fomos enfrentar o Vasco. Foi quando vi o Felipe jogar. Ele corria por dentro, por fora, fazendo o terror. Eu conhecia o Bill, que era o titular da base e já tinha até subido ao profissional, mas ninguém sabia quem era o Felipe porque não tinha tanta informação como hoje. Daí guardei aquele nome. Meu pai estava no Cerro Porteño, do Paraguai, e me ligou na noite daquele jogo para bater um papo. Perguntou como tinha sido a minha estreia no Maracanã e eu falei muito bem do Felipe para ele", relembrou Júnior Lopes para o ESPN.com.br.
"Seis meses depois meu pai foi trabalhar no Vasco, que tinha o Cassio como lateral esquerdo titular. Ele estava bem demais, mas se machucou ao final de uma partida e teve de ficar parado por quatro semanas. Bem naquele final da semana ia ter o clássico Vasco e Botafogo. Na quarta feira, eu estava batendo papo com meu pai em casa e meu pai falou que tinha feito um coletivo com os juniores e não sabia quem deveria colocar na vaga do Cássio. O reserva era o Vitor, que chutava forte, e o Bill, ex-titular dos juniores. Os dois estavam brigando pela vaga, mas no coletivo nenhum foi bem", prosseguiu.
A fala do pai foi suficiente para Júnior Lopes relembrar de Felipe e assim ajudar o então lateral, um desconhecido dentro do próprio Vasco, a aparecer.
"Na hora que me pai me contou isso eu lembrei do Felipe e falei para o meu pai procurar saber sobre ele. Na noite de quinta, estávamos jantando ele falou que o pessoal do profissional do Vasco não sabia quem era o Felipe. 'Mas de qualquer jeito chamei ele para treinar comigo na sexta '. O clássico era domingo... Na sexta, ele fez o coletivo em dois tempos de 30 minutos. No primeiro tempo colocou o Vitor e deixou o Felipe no time reserva. Mas o Felipe arrebentou na primeira parte e na segunda foi chamado para o time titular. O Felipe foi muito bem outra vez e meui pai o bancou no clássico. Foi a estreia dele, nunca mais saiu do time. Jogou bem e o Vasco venceu por 2 a 1."
A partida relembrada por Júnior Lopes ocorreu em 3 de novembro de 1996 pelo Campeonato Brasileiro. Depois Felipe ficou na equipe como titular até 2002, sendo neste período bicampeão brasileiro, campeão da Libertadores, da Copa Mercosul e do Campeonato Carioca. Retornou ao clube cruzmaltino em 2010 e foi campeão da Copa do Brasil. Despediu-se da equipe onde foi revelado em 2012.
Até hoje Júnior Lopes guarda com carinho a lembrança de ter contribuído para que Felipe fosse promovido ao profissional do Vasco. E relembra a confiança do pai.
"Meu pai teve bastante coragem e o Felipe já mostrava toda a qualidade. Meu pai depois contou para ele a história e criamos uma amizade bacana. O último clube dele como jogador foi o Fluminense, em 2013, e eu era auxiliar do Vanderlei Luxemburgo".
Júnior Lopes já enfrentou Felipe sendo treinador e o amigo jogador. Mas como técnico será a primeira vez. Apesar de "rival" nesta quarta, o comandante da Cabofriense fez muitos elogios ao ídolo do Vasco da Gama.
"Felipe tem perfil para ser treinador. É muito inteligente. Muito atencioso às coisas. Já no Fluminense ele estava no final da carreira e falávamos muito de questões táticas. Ele ficava bastante interessado. Tem tudo para dar certo. Ele conversava muito bem no grupo."
"Depois do jogo do dia 11 vou torcer muito para ele", disse, aos risos. "Em nosso reencontro, vou dar um abraço nele, mas com a bola rolado não tem jeito. Cada um vê o seu lado e pronto", concluiu o treinador da Cabofriense.
ESTUDOS E A VIDA COMO TÉCNICO
Júnior Lopes é treinador desde 1996, mesmo ano em que Felipe apareceu para o futebol. Filho de Antônio Lopes, ele começou a carreira na base do Botafogo, como auxiliar técnico. No ano seguinte foi para o Vasco, mesmo clube do pai, mas para a base.
Ficou no Vasco até 2000, tendo passado por categorias diferentes no clube cruzmaltino. Também trabalhou como auxiliar na seleção brasileira de base, em 2000.
"O Bangu foi meu primeiro clube em que tive o cargo de auxiliar técnico do profissional. Isso foi em 2001. Depois fui auxiliar de Flamengo, Botafogo, Fluminense, Atlético-PR, Palmeiras etc. Fui auxiliar do meu pai por quatro anos e mais quatro anos trabalhei com o Luxemburgo. Fomos campeões paulistas no Palmeiras, em 2008. Também fui auxiliar de Cuca, Márcio Aráujo e Paulo Campo...", explicou Lopes.
Toda essa trajetória ainda guarda uma lembrança de um período em que tentou ser jogador, mas acabou se frustrando. "É, eu fui jogador do juvenil do São Cristóvão. Mas nos juniores eu ia ter de trocar de colégio e acabei definindo que ia fazer educação física. Não queria perder o ano escolar e decidi estudar."
Fonte: ESPN.com.br