A fotografia da cena atual, em que equipes de basquete e de vôlei do Rio preferem mandar seus jogos em locais com capacidade e custo modestos, como as quadras de suas sedes sociais ou de clubes como Hebraica e Tijuca, projeta o que vem pela frente. Arenas modernas do Parque Olímpico, na região da Barra, além do tradicional ginásio do Maracanãzinho, que hoje “não tem dono”, poderão ficar ainda mais ociosos do que são. E o mais inusitado: o confronto entre Vasco e Flamengo pelo NBB pode ser disputado fora do Rio.
— Não há demanda para uma arena, o que dirá para três — decreta Arthur Repsold, presidente da GL events, dona da Arena Rio (antiga HSBC), que recentemente abrigou a final da Superliga feminina (em 2015), o UFC 190 (2015) e a decisão do Mundial de Basquete (2014), entre outros. — A Arena Carioca, assim como o Velódromo e o Estádio de Tênis, precisa ser transformada em centro de treinamento, como outras instalações do local. É o único modelo possível.
Os equipamentos citados por Arthur seriam explorados pela iniciativa privada, mas a licitação da prefeitura para a gestão do Parque Olímpico (incluindo a desmontagem do Parque Aquático e da Arena do Futuro, que serão transformadas em escolas) foi cancelada. Os locais, que já poderiam estar disponíveis, serão administrados pelo governo federal.
— Estamos negociando preço com times de vôlei e de basquete para trazer os jogos para cá. Temos todo o interesse, mas o custo é mais caro mesmo se compararmos com locais que não têm ar condicionado. Hoje, o vilão é a energia elétrica. Se for usar, o custo sobe em R$ 15 mil (para cinco horas) — explica Arthur, que consegue adaptar sua arena para receber de 2 mil a 15 mil pessoas.
Harry Bollmann Netto, supervisor da equipe de vôlei do Rexona-Sesc/Rio, dono de 11 títulos brasileiros, confirma a negociação. O Rexona-Sesc, que manda suas partidas no Tijuca Tênis Clube, tem interesse em levá-las para a Barra quando o público for superior a 2 mil pessoas.
— Entendo que há um custo, mas é incompatível com a realidade dos clubes hoje no Brasil. Por isso, estamos contentes com a abertura para a negociação — afirma Harry, para quem o Maracanãzinho deixou de ser opção desde que o Consórcio Maracanã, liderado pela Odebrecht, passou a administrar o local. — Há quatro anos o valor do aluguel era cerca de 15 vezes mais do que o cobrado pelo Tijuca. E tem a questão que, se o Maracanãzinho fosse hoje opção viável para nós, com quem eu negociaria?
O Maracanãzinho, assim como o Maracanã, está no centro de um empurra-empurra entre o governo estadual e a concessionária, por causa dos danos causados durante a Olimpíada. Um diz que já entregou o complexo aos administradores, após recebê-lo do Rio-2016. O outro afirma que não o aceitou, enquanto não forem feitos os reparos.
— Quando voltar à ativa, será usado de forma pontual, para show e eventos internacionais, como a Liga Mundial. Se entrar outra empresa, espero que perceba a realidade financeira do momento e tenha propostas compatíveis. Porque o ginásio é uma ótima opção para jogos finais — diz Harry.
Já o Fluminense, que volta à elite do vôlei nesta temporada, faz seus jogos no ginásio do Hebraica, nas Laranjeiras. A capacidade é de 640 pessoas. O supervisor André Torres comenta que, se o time se firmar na Superliga e conquistar a torcida, poderá alçar voos mais altos:
— Só assim conseguiríamos lotar uma arena da Barra ou o Maracanãzinho.
COBRANÇA
No caso do basquete, o problema maior é com o jogo Vasco x Flamengo. O primeiro confronto pelo NBB, em dezembro, foi adiado por falta de local adequado. Está marcado para o dia 28. Mas não sem local definido. Segundo Alexandre Povoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, pode ocorrer fora do Rio.
— Ambos os times têm interesse em jogo com torcida dividida. E isso só estaria garantido no Maracanãzinho. Nem na Arena Rio há garantia do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) por questão de segurança. Por isso, pode ser fora mesmo — diz Povoa, que lamentou que a decisão do Estadual, cujo título ficou com o Flamengo, tenha sido por W.O., já que o Vasco considerou perigoso jogar no Tijuca apenas com torcida rival.
Arthur admitiu que a Arena Rio também não tem estrutura para receber torcidas de futebol, pois não “foi projetada para possível comportamento agressivo da torcida”. Segundo ele, não seria difícil pular grades e chegar à quadra. Outra questão é a entrada das torcidas que precisam de portões distintos e distantes.
Os clubes aguardam posição do do Gepe, que analisa novamente a possibilidade — autorizou apenas torcida única no dia 18 e por isso o adiamento para o dia 28.
— Veja que coisa de louco. Um Maracanãzinho largado e pelado, que tem de levar até cronometro, e esta arena, moderna e espetacular, mas que é longe, na Barra, tem custo alto e ainda assim pode não atender. Só compensaria se pudesse ter torcida dividida por causa da bilheteria — opina Povoa, cujo clube, o Flamengo, deverá ter um ginásio para 3.500 pessoas, em 2018, na Gávea.
O Vasco, mandante desta partida, recusou-se a comentar o assunto. A negociação com a Arena Rio, porém, foi confirmada pelo descrente Arthur, que se mostrou pessimista quando o assunto foi a cobrança das avarias na arena. Segundo ele, na área interna, a empresa tampou buracos nas paredes, refez a pintura e recuperou o forro dos teto e cobra do Rio-2016. Na área externa, do estacionamento, recuperou pavimentação, drenagem e iluminação, além de danos nas calçadas, repôs tampas de bueiro e caixas elétricas. Essa conta é da prefeitura.
— Consideramos normal esse tipo de dano em eventos esportivos de grande porte. Mas na área externa, não. A Prefeitura já reconheceu o valor que no caso dela é de cerca de R$ 2 milhões mas ainda não pagou. É mais difícil cobrar deles.
A Subsecretaria de Projetos Estrategicos da Prefeitura, no entanto, não reconhece a dívida.
Fonte: O Globo Online