O time sub-20 do Vasco que estreia nesta terça-feira na Copa São Paulo de Juniores terá muitas novidades em relação ao elenco de 2016. A começar pelo banco de reservas: Marcus Alexandre, antigo treinador do sub-17, será o comandante da equipe a partir do duelo com o Botafogo-PB, às 18h45 (de Brasília), em São Carlos, pela primeira rodada do Grupo 9. Confira a lista de jogadores relacionados para o torneio.
Há 17 anos no Vasco, Marcus ganhou a oportunidade porque o antigo treinador, Rodney Gonçalves, viajou para fazer cursos na Europa. Curiosamente, o novo técnico recebe a chance poucos meses depois de ser goleado pelo Flamengo por 6 a 1, na final do Campeonato Carioca sub-17. Uma dura lição que ele quer superar.
No elenco sub-20 de 2017, a estimativa é de que metade do grupo foi alterada em relação ao ano passado. Sete jogadores do sub-17, que estiveram na derrota para o Flamengo, foram integrados ao plantel. A promessa é de uma equipe remodelada; a expectativa é de que surja alguém como Philippe Coutinho, Alex Teixeira, Alan Kardec ou Souza, todos ex-alunos de Marcus na base cruz-maltina.
Confira a entrevista:
Esta é sua primeira experiência no sub-20?
Sim, é a chance da minha carreira. Tenho 17 anos de Vasco, e a primeira oportunidade de trabalhar nos juniores do clube que me abriu as portas nos anos 90. Então, eu tive o prazer de trabalhar com muitos atletas, várias gerações que hoje figuram no cenário internacional, como Philippe Coutinho, Alex Teixeira, Alan Kardec, Souza, entre outros.
Em 2016, o rendimento do sub-20 não foi tão bom. Por quê?
O aproveitamento dos atletas da base pelo profissional acabou desencadeando um processo em que tivemos que amadurecer os atletas um pouco antes. Subiram seis para o profissional, juniores teve que vir buscar alguns no sub-17, e acabou comprometendo o rendimento da equipe nas competições. Então, num ponto isso foi bom, porque teve o aproveitamento dos atletas e cumpre o papel da base, que é fornecer atletas para a categoria acima. Mas o sub-20 fez a final do Torneio OPG, sub-17 fez a final do Carioca. Acredito que o trabalho do Vasco teve mais de 70% de aproveitamento. A fase final de rendimento é que não foi muito boa.
Como foi a preparação para a Copinha? O que esperar?
Nosso clube está indo forte para brigar por título. Claro que vem de reconstrução de uma equipe, ganhamos seis atletas no profissional e tivemos que fazer reconstrução destas posições com jogadores mais novos vindos do sub-17. (Mudança) em torno de 50%. A torcida do Vasco pode esperar um time remodelado, com roupagem diferente para a Copinha.
Você vê alguém mais perto de subir para o profissional?
Existem atletas que precisam continuar o desenvolvimento do rendimento que vêm atravessando num período de três anos. É o caso do Hugo Borges, do Paulo Vitor, do Robinho, do Felype Hebert. São jogadores que a gente está com planejamento de atingirem no fim desse ano ou ano que vem o estrelato no time profissional do Vasco.
No ano passado, você foi o comandante do time que perdeu por 6 a 1 para o Flamengo na final do Carioca sub-17 (no placar agregado, a derrota foi de 10 a 1, após goleada por 4 a 0 no jogo de ida). O que aconteceu naquele jogo?
A gente não contava com os dois principais atletas no ano. Não tivemos Robinho e Paulo Vitor, considerados destaques desde as categorias pré-mirim. Até o profissional vem fazendo trabalho de monitoramento destes atletas. A gente tinha feito um bom primeiro tempo, apesar de ter perdido o jogo anterior. Tomamos um gol no fim do primeiro tempo. Na volta para o segundo, tivemos uma expulsão logo de cara, e no lance seguinte o Flamengo faz 2 a 0. Ficamos com menos um. Deu saída de bola, eu preparando a substituição de outro zagueiro, e teve outro jogador expulso. Tivemos dois jogadores expulsos com 2 a 0. O Flamengo soube aproveitar a vantagem numérica e de gols que tinha. A gente acabou passando grande parte do segundo tempo se defendendo, tentando parar um time do Flamengo que é muito bom, voltado ao ataque. Eles não diminuíram o ímpeto do jogo, foram para cima para tentar golear. Até recolocar a equipe de novo no jogo, fazer entender que não podia tomar essa goleada, o Flamengo já tinha feito terra arrasada no jogo.
Como lidar com isso?
Isso serve de lição tanto para a comissão técnica quanto para os atletas. Isso repercutiu mal na história do clube, não foi uma coisa positiva, e os atletas hoje têm a consciência do poder da mídia, das redes sociais, isso aí foi divulgado de maneira muito negativa. É uma geração que não merece, que é brilhante e não merece essa fama negativa que carregou.
Muitos deles estarão na Copinha. Como trabalhar a cabeça deles?
Mostrando que a rede social, nos dias atuais, tanto eleva quanto derruba. Pode encerrar a carreira de muitos atletas ali que têm potencial de estar no profissional do Vasco. Nesta parte a gente tem que ter o auxílio do serviço de psicologia do Vasco para tentar não repercutir de forma tão negativa na carreira desses meninos.
Você falou sobre jogadores com quem trabalhou e vingaram. O Coutinho, por exemplo: foi possível que ele era diferente logo de cara?
Sim. Ele pensava muito à frente da idade dele, dos companheiros dentro de campo. É um jogador com raciocínio muito rápido. Para jogar com ele, tem que estar muito antenado com ele, porque os atletas, tanto contra quanto a favor, tinham dificuldade de acompanhar a linha de raciocínio dele. O Coutinho foi o jogador mais inteligente com quem eu trabalhei. O Alan Kardec foi artilheiro em todas as categorias, o Alex Teixeira é o mais habilidoso que já vi, o Souza tem uma leitura de jogo impressionante.
E quem não vingou? Quem mais te marcou?
Tive dois jogadores que foi muito complicado não dar sequência neles. Ricardinho, da geração 86, e Gustavo, da 88. Dois craques que vi jogar. Vi o Gustavo fazer um gol contra o Flamengo à la Maradona, driblando oito jogadores e metendo o gol, entrando com bola e tudo. Infelizmente na época não tinha vídeos. Era um craque, mas teve um problema com diabetes, e isso interrompeu o ciclo dele de atleta de futebol. Às vezes você se prepara tanto dentro de campo que esquece o lado de fora. Sabemos que a diabetes tem herança genética, mas, se fosse bem cuidada, ele hoje era um cracaço dentro do Vasco.
Fique de olho
Artilheiro do Vasco em 2016 com 27 gols, Hugo Borges é a referência do Cruz-Maltino na Copinha. O atacante disputou o torneio no ano passado, quando balançou a rede quatro vezes, e já treinou entre os profissionais. Por isso, terá papel importante também fora de campo, segundo Marcus Alexandre:
- Pela experiência que traz no profissional. Ele tem vivência hoje que nenhum atleta dos juniores tem. Viajou, treinou com ídolos como Nenê, Andrezinho e Martín Silva. Esses caras acolhem bem os meninos que sobem. Essa convivência que ele teve é importante para ele trazer para os companheiros da Copinha e receber os atletas do sub-17 como ele foi recebido no profissional.
Fonte: GloboEsporte.com