Matheus Índio fala sobre adaptação ao Estoril-POR, tido como vitrine para promessas brasileiras

Sábado, 31/12/2016 - 14:33
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O sangue verde e amarelo corre nas veias do Estoril Praia, time que disputa a Primeira Divisão de Portugal. É praticamente um representante do nosso futebol na Europa. O clube mais brasileiro do Velho Continente... A começar pelos jogadores. Dos 28 do elenco, 15 são tupiniquins, mais da metade. Além disso, o clube é administrado pela Traffic, empresa brasileira de marketing esportivo.

Entre os atletas estão nomes como os meias Mattheus Oliveira, ex-Flamengo e filho do tetracampeão Bebeto, e Matheus Índio, ex-Vasco; o zagueiro Dankler, ex-Botafogo; e os atacantes Kléber, ex-Palmeiras, e Tocantins, ex-Corinthians.

Na diretoria, a participação brasileira não é de hoje. Há cerca de 10 anos, o Estoril estava perto da falência quando recebeu investimento da Traffic, que se tornou acionista majoritária do clube.

Como nenhuma empresa pode ter os direitos de um atleta, a Traffic primeiro criou o Desportivo Brasil, vendido recentemente para o Shandong Luneng, da China. Depois, viu no Estoril uma boa chance de entrar no mercado europeu. Ela é gestora do futebol masculino profissional do clube.

Cantinho acolhedor para os garotos

Em Portugal, o Estoril é um time pouco badalado. Quase não tem torcida - pouco mais de mil torcedores por jogo - e fica no pequeno estádio Antonio Coimbra da Mota - que tem 8 mil lugares. É um cantinho acolhedor. Justamente por isso, é considerado um bom lugar para que várias promessas do futebol brasileiro possam desabrochar com tranquilidade.

- Acho que os primeiros quatro, seis meses foram de adaptação justamente disso, dessa mudança de postura no campo. Em relação à parte defensiva, a parte tática, por ser um pouco diferente do Brasil, você já está habituado com outra coisa e aqui meio que toma um choque. Mas isso foi muito bom para mim como jogador, como atleta. Acho que isso tem me ajudado bastante, e hoje posso te dizer com toda certeza que é outro Mattheus, outro jogador, totalmente diferente. Estou mais adaptado à Europa, na verdade totalmente adaptado por já estar aqui há algum tempo - disse o meia Mattheus Oliveira, que fez sucesso na base do Flamengo e não conseguiu repeti-lo no profissional.

- A adaptação está sendo muito boa. Estou gostando bastante. Acho que consegui me adaptar bem, entender muito bem do que o futebol daqui precisa. A diretoria, a comissão técnica e os jogadores me receberam muito bem. Tenho alguns amigos aqui, pessoas que eu já conhecia, e isso também faz bastante diferença. O futebol daqui é mais rápido, mais pegado, mais tático. Então, tem que estar sempre atento para evoluir cada vez mais - completou Mattheus Índio, promessa que estava sem espaço no profissional do Vasco.

No futebol europeu, esses garotos estão evoluindo principalmente na parte tática e na intensidade de jogo, pontos muito importantes para o amadurecimento deles. O experiente goleiro José Moreira, que esteve na seleção portuguesa comandada por Luiz Felipe Scolari na Eurocopa de 2004, está lá para ajudá-los nisso.

- Tem casos, sei de alguns de jogadores, que no Brasil é tudo muito fácil. Eles são acarinhados, levados ao colo muito jovens. E vir para Europa e passar um ou dois meses de dificuldade vai fazê-los crescer, serem melhores pessoas, melhores homens e melhores jogadores. A má adaptação nos primeiros meses pode funcionar bem para o futuro, pois terão essa experiência no futuro, poderão crescer mais e aplicar isso dentro do campo.

Vitrine e bons resultados

O Estoril tem contratado muitos jovens jogadores brasileiros. E em campo isso deu resultado. Alcançou a Liga Europa duas vezes nos últimos quatro anos. Mas o objetivo não é tornar o clube uma potência no país, muito menos no continente. É ser uma vitrine para esses talentos.

- É fundamental que o clube seja rentável, lucrativo para os seus acionistas. E para nos mantermos assim, é primordial termos resultados esportivos que permitam que a equipe, em primeiro lugar, permaneça na Primeira Divisão de Portugal. Assim, passa a enfrentar os grandes clubes do país e passa a aferir receitas com as cotas de transmissão, o que as equipes da Segunda Divisão não possuem. Além, claro, de uma exposição de atletas, que permite que eles sejam negociados e que suas transferências tragam uma receita adicional para o clube - afirmou o diretor de futebol do clube, Thiago Freitas.

Fabiano Soares é ex-jogador e está no comando do Estoril. Hoje ele é o único técnico brasileiro nas principais ligas da Europa. Mas como deve ser pra um treinador trabalhar em um clube que tem esse tipo de pretensão?

- É tranquilo. Quando se vende um jogador, é prazeroso para mim e para o clube. E eu já sei dessa situação. Quando vêm os jogadores "virgens" do Brasil, sabendo jogar com pouco entendimento tático, ensinamos aqui para depois eles começarem a render o futebol que têm dentro deles. Isso também é prazeroso, então vejo de forma tranquila. Também vejo um triunfo meu quando se vende um jogador para um grande clube.

Como a diretoria é basicamente brasileira, o Estoril faz negócio com muitos empresários do país, que enxergam nessa situação uma grande oportunidade para seus jogadores se desenvolverem profissionalmente e conquistarem um espaço que não conseguiram no Brasil. A língua é um fator que ajuda na adaptação. E o regulamento do futebol português incentiva os negócios - o clube da primeira divisão pode iniciar uma partida com 11 estrangeiros. A única exigência é que tenha inscritos oito atletas localmente formados, não necessariamente portugueses, e que entre 15 e 21 anos tenham disputado competições oficiais promovidas pela federação portuguesa por ao menos três temporadas.

- Se um jogador que vem do Brasil não se adaptar a Portugal, muito dificilmente se adaptará a outro país, pois é um ponto estratégico para chegar ao futebol europeu - complementou experiente o goleiro Moreira.

Lucro em primeiro lugar

O diretor Thiago Freitas explica que o Estoril foca em contratar atletas de bom potencial que estejam livres de vínculo com qualquer clube. E em seguida busca aqueles que possam ser emprestados sem custo e que cheguem com opção de compra. Financeiramente falando, a ideia é minimizar os riscos.

- O Estoril é um caso de sucesso em Portugal. É um caso raro de um clube que recebeu aporte de investidores, que se manteve em um patamar diferente daquele que ocupava tradicionalmente, e que gera lucro. O Estoril é um clube que, ao fim de cada temporada, arrecada mais do que gasta.

O Estoril, como sempre, já está se preparando para vender alguns jogadores na próxima janela de transferências, em janeiro. Enquanto isso, vai fazendo campanha ruim nesse início de campeonato português - é o 14° na tabela, de um total de 18 clubes. Tudo bem, desde que o clube siga na elite de Portugal e, claro, no lucro.







Fonte: GloboEsporte.com (texto, tabela, vídeo), Reprodução Internet (foto)