Rodrigo se acerta com Jorginho, elogia o treinador e fala sobre o ano de 2016 do Vasco

Quarta-feira, 07/12/2016 - 09:00
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Rodrigo tinha acabado de atender a ligação da reportagem quando se desculpou e pediu para falar mais tarde. Havia outra chamada para ele.

- É importante.

Era Jorginho, retornando uma ligação anterior de seu capitão no Vasco. Quarenta minutos mais tarde, o zagueiro voltou a conversar com o GloboEsporte.com e disse ter se resolvido com o treinador, que na segunda-feira não quis falar sobre o jogador.

- Por incrível que pareça, fiquei surpreso. Até porque fui o capitão da equipe até o fim... Se ele tivesse algo contra mim, por que me manteria na função? Eu tinha ligado para ele antes, tocou e não atendeu. Na hora que você me ligou, quem estava era ele. Conversei com ele, perguntei o que aconteceu. Batemos um papo, foi bacana. Ele estava pensando algumas coisas, falei o que aconteceu. Passei por um momento difícil dentro da minha família, e ele era um dos caras que me ligava, rezava por mim, mandava mensagem. Hoje, não olho o Jorginho como treinador, e sim como ser humano, pelo projeto que ele tem de ajudar as pessoas. Ele e o Zinho tem muito caráter, os dois são muito bacanas. Tivemos um ótimo relacionamento – contou Rodrigo.

A entrevista com o zagueiro, porém, não era apenas para falar do relacionamento com Jorginho. O ano de 2016 foi intenso para o jogador. De líder do campeão carioca invicto ao sufoco do acesso para a Série A, Rodrigo passou por um problema familiar – que ainda não se sente confortável em revelar – e participou ativamente do que ele considera como algo primordial para a subida do Vasco: a reconciliação com a torcida.

Confira:

Este ano foi intenso, com título, sufoco, queda de rendimento. Que balanço você faz de 2016?

Rodrigo: Por mais que tenha subido na última rodada acho que foi um ano bom, porque conquistamos o Carioca de uma forma que entrou para a história, tivemos também aquela sequência de jogos invicta, conseguimos o acesso. Lógico que atrapalhou esse acesso nosso, poderia ser mais fácil, mas depois da volta (da Olimpíada) todo mundo deu uma queda. Entramos na zona de conforto. Nosso time era superior a todos, jogou o primeiro turno com os mesmos jogadores, mas tivemos problemas de sair jogador, algumas peças não encaixaram, e a gente sofreu com isso.

E pessoalmente, o que você leva deste ano?

O que posso tirar desse ano foi o primeiro turno, jogando em alto nível, junto com o time, aquela sequência bacana. É difícil falar uma coisa de meta em particular porque você está no Vasco, disputando a segunda divisão, é difícil. Agora não, esse ano (2017) vai ser diferente, jogando contra grandes clubes, todo mundo olhando. Ano de Série B para o Vasco é um ano perdido. Até para a torcida, e a gente sofreu muito com isso. É o principal que tem que mudar esse ano. A torcida tem que acreditar no time, ter esse elo. Sinceramente, se não fosse a torcida no Maracanã na última rodada ia ser mais difícil. Foi uma coisa linda. A gente tem torcida e cadê a nossa torcida? Está contra o time? É isso que acho que tem que reverter.

Na reta final, você conversou com alguns torcedores, até mesmo pediu para que houvesse a reunião. Por que achava tão importante?

Eu já joguei contra e a favor dessa torcida. É muito importante, porque a atmosfera que leva para o campo é outra. Você vai num estádio com 200 pessoas e ouve até o pipoqueiro. Não tem concentração para um jogador que vê o estádio vazio. Se o Vasco é o único clube do Rio que tem casa, vamos fazer valer, vamos lotar. A gente estava muito fraco de cabeça, de confiança, foi tentando de tudo, até palestras, e na verdade quem resolveu foi a torcida. Falei: “Vamos chamar a torcida, tem que passar confiança para eles acreditarem na gente”. Jorginho gostou da ideia, Euriquinho gostou e fomos lá e conversamos com eles. Passamos o que a gente pensava. Eles também falavam coisas, que não gostavam de fulano. Foi onde nossa torcida entendeu que tinha que apoiar o time. Foi ali que a gente subiu.

O Vasco teve um público muito baixo em São Januário na Série B. Isso afetou?

Jogando no Vasco, você vai na sala de troféus e vê times maravilhosos, campeões de tudo. Você vê o Vasco jogando a Série B, que motivação tem para ir assistir? Que motivação tem de jogar? É difícil. A motivação de um clube para jogar contra o Vasco na Série B era totalmente diferente. Mas muita gente confunde. Não é que você não vai correr. A gente corria. Mas jogar contra rival, contra um Corinthians, é diferente. A preparação, a atmosfera, o público... De todo mundo: torcedor, diretoria, treinador, jogador. Você se prepara melhor. É difícil se para jogar Série B contra um time que quer ficar na Série B. Era difícil ter motivação maior para pegar e subir tranquilo.

Como explicar a queda de rendimento do time? Quais foram os motivos?

Se você pegar, nosso time nunca foi de fazer mais do que dois gols. O que acontecia? A gente era obrigado a sempre sair para o jogo. Teve a parada, quebrou o ritmo da gente. Você vai para uma folga de 10 dias em que um jogador pode ir para onde quiser, viaja... Você volta, não perde muita coisa, mas perde o primordial, que é o ritmo de jogo. Vinha outro fator, que era estar relaxado pelos pontos que tinha de diferença. Juntou tudo. Às vezes acho que se não tivesse essa parada a gente teria subido tranquilo. Aí, entrou naquele negócio. Perde uma, duas, tinha jogador que estava voando, que era o Nenê, e também machucou. Quem que a gente colocaria no lugar dele? A gente sofreu muito com isso. Fomos perdendo ponto, todo mundo encostando, foi entrando aquela desconfiança que acabou atingindo os jogadores, começou a vir pressão da torcida, começou a juntar muita coisa.

E as questões extracampo? Falou-se muito em racha no elenco, em problemas com o Jorginho. Em entrevista, ele disse que não queria falar sobre você.

Por incrível que pareça, fiquei surpreso. Eu tinha ligado para ele antes, tocou e não atendeu. Na hora que você me ligou, quem estava ligando era ele. Conversei com ele, perguntei o que aconteceu. Batemos um papo, foi bacana. Ele estava pensando algumas coisas, falei o que aconteceu. Passei por um momento difícil dentro da minha família, e ele era um dos caras que me ligavam. Rezava por mim, mandava mensagem. Hoje, não olho o Jorginho como treinador, e sim como ser humano, pelo projeto que ele tem de ajudar as pessoas. Ele e o Zinho têm muito caráter, os dois são muito bacanas. Tivemos um ótimo relacionamento. Tenho carinho por ele e pelo Zinho. Gosto muito dele. Foi resolvido.

Mas o que aconteceu entre vocês?

Futebol é aquele negócio: quando as coisas estão ruins... Quando pediram minha opinião sobre a demissão (de Jorginho), eu falei que achava um erro, que ele não era culpado. Falei isso para ele. Quando pude ajudar, ajudei. Algumas coisas são difíceis de falar quando o clube está pegando fogo, mas agora sentamos, trocamos ideia por telefone. Ele entendeu. Havia alguns mal-entendidos. Ele colocou o que achava. Também estou aliviado porque o que ele falou para mim foi muito bacana.

E como é sua relação com o elenco?

Eu sou muito concentrado no dia-a-dia, não sou muito de brincar. O caminho está acabando, estou indo para o fim, e os moleques estão no começo. Eu vejo meus treinos de outra forma, é por isso que eu fico muito concentrado, não brinco muito. Por isso falam que o Rodrigo é isso ou aquilo. Andrezinho é brincalhão, Julio Cesar, Nenê... Eu brinco mais com os mais velhos. Como sou muito fechado, os meninos ficam meio assim de vir brincar, eu que tenho que ir lá, brinco de peteleco com eles. Mas no sentido de brincar, me dou muito melhor com os funcionários. É difícil eles brincarem com jogadores, porque não passam muito do limite, então eu que vou e brinco com eles. Eu brinco mais com o pessoal que está ali do que com os próprios jogadores.

Você passou por um problema familiar no fim do ano. Como lidou com a situação?

Me atrapalhou muito. Eu era o primeiro a chegar e o último a sair, gostava de me cuidar, lapidar algumas coisas. A minha queda de rendimento não foi só da equipe, foi por causa do meu problema. Quando você tem algo que te preocupa você não vai 100% para o seu trabalho. Na ocasião, precisei de um tempo, de calma para ver como lidar com a situação. Graças a Deus o Jorginho entendeu, o presidente também, voltei na hora que eu achei que tinha que voltar. Agora já está mais tranquilo, as coisas andaram muito bem. Agora é pensar no ano que vem. Ano que acho que o torcedor está esperando resposta, nós pensamos muito grande.

Conhece o Cristóvão? Quais referências tem dele?

Não o conheço. Jogamos contra quando ele estava no Flamengo, cumprimentei. Falaram que é uma pessoa muito bacana, um cara que gosta de conversar, de saber a situação dos jogadores.

Você fica para 2017?

Eu tenho contrato. O treinador parece que conta comigo, e eu vou fazer de tudo para ajudar. Me identifico muito com o time, gosto do Vasco. Quando aconteceu aquela situação no hotel (zagueiro foi agredido em setembro de 2015 por torcedor), era para amar ou odiar. Eu permaneci naquela situação. Foi bem na época que o Internacional ganhou de 6 a 0. Qualquer um iria embora. Ou eu amava ou odiava, e eu escolhi amar. Gosto do clube e vou fazer de tudo para que o Vasco esteja bem.

Chegou a receber proposta para sair neste fim de ano?

Tem alguma coisa de fora, meu empresário está vendo. Na minha idade tenho que analisar muito se é bom ou ruim. Estou feliz. Vou ficar, gosto do Vasco, me sinto bem, estou há três anos aqui. Tem muita pergunta. Nada que seja sério. Pelo menos até o momento.

Você pretende jogar por mais quanto tempo?

Tenho mais um ano com o Vasco e quero jogar até 2019. E aí vou pensar no que vou fazer. Se você não gostar do que faz, é melhor nem fazer. O futebol tem muitas áreas bacanas em que dá para trabalhar.

Pensa em ser treinador?

Não. Treinador, hoje não. Não sei o dia de amanhã. Eu iria para o lado do que o Rodrigo Caetano faz. Treinador é muito direto, tem que falar “a posição é sua, é essa”. Não me vejo. Me vejo mais na coordenação, de estar atento a algumas falhas que o treinador não pode falar, mas eu como diretor posso ir lá e corrigir.

Muitos comentam sobre sua relação com o Euriquinho (filho e representante de Eurico Miranda na gestão do futebol).

Quem me trouxe para o Vasco foi o Rodrigo Caetano, que é meu amigo até hoje. Ele me liga, a gente se fala. A mesma relação eu tenho com o Euriquinho. Como no Vasco o Eurico é o pai do Euriquinho, todo mundo leva por esse lado. Com o Rodrigo Caetano, eu quero aprender com ele, porque não sei o que vou fazer da minha profissão, gosto da forma que ele trabalha. Ajudei o Rodrigo a conversar com jogadores, tipo o Douglas. E ninguém falava nada. Hoje tenho relação com o Euriquinho e todo mundo fala. Não dá para entender.

Isso te incomoda?

Se me incomodasse eu parava de conversar com ele (Euriquinho). Eu moro no Rio, não conheço ninguém. Quando a gente foi campeão em 2015, a minha esposa e a esposa dele ficaram sentadas na mesma mesa. Quem nos aproximou foram as esposas, e a gente acabou entrando junto, porque senão ia virar uma coisa só no campo.

Fonte: GloboEsporte.com