O relógio marca 25 minutos do primeiro tempo. Após um contra-ataque do Criciúma, Rodrigo cobra Thalles, que retruca. Eles gesticulam defendendo seus pontos de vista. Aos 37, é a vez de o capitão cruz-maltino conversar mais rispidamente com Andrezinho no meio-campo. Pouco antes do intervalo, Douglas reclama de passe errado de Diguinho em jogada infrutífera.
Cenas similares se repetiram, em intensidades diferentes, ao longo de toda a partida entre Criciúma e Vasco. Na derrota para o time catarinense, os jogadores cruz-maltinos pareciam a todo momento tentar ajustar algo. Buscavam na base da conversa e da cobrança corrigir os problemas de armação da equipe que adiaram para a última rodada da Série B a definição sobre o acesso.
O Vasco precisava de uma vitória em Criciúma para garantir o retorno à Série A. Passou longe disso. Entenda por quê:
Formação tática
No desenho distribuído à imprensa, o Vasco teria Bruno Gallo como atacante e o tradicional losango no meio. Nas nomenclaturas das posições, a promessa era de três volantes e Nenê no ataque. Na prática, foi diferente. Jorginho armou o Vasco num 4-2-3-1, com Diguinho e Bruno Gallo na contenção e uma linha ofensiva com Douglas na direita, Nenê pelo meio e Andrezinho na esquerda.
Este era o esquema ensaiado por Jorginho para o jogo contra o Bragantino, alterado de última hora devido à lesão de Andrezinho. Apesar de ter sido treinado há duas semanas e ser uma arma recorrente ao longo do ano, o plano tirou atletas de posição, como Douglas e Andrezinho. Eles precisavam cumprir funções diferentes e demoraram para saber como interpretá-las.
Sem velocidade
Neste esquema, Jorginho colocou pelas pontas dois jogadores sem essa característica. Douglas é jovem, tem força física, mas não é necessariamente um velocista. Sem entrosamento com Madson, não conseguiu se combinar com o lateral. Na esquerda, Andrezinho tendia a afunilar as jogadas, num corredor que Julio Cesar poucas vezes aproveitou. Sem profundidade nem velocidade, o Vasco sofreu para criar jogadas.
Quem marca?
Outra cena recorrente: quando Ricardinho, o lateral-direito do Criciúma, avançava, quem corria para marcá-lo era Bruno Gallo, o volante pela esquerda. Em outras, quem voltava era Andrezinho. Havia uma indefinição na marcação pelo setor que gerou conversas entre os jogadores na tentativa de acertar.
- A gente estava com superioridade numérica no meio-campo e não aproveitou. Quem saía era o Raphael (zagueiro do Criciúma), pela direita. Era só encaixar a marcação. A discussão era basicamente quem saía ali. Percebemos que o Andrezinho poderia adiantar um pouco mais, porque tanto Andrezinho e Nenê eram meias. Um encaixava a marcação no zagueiro e outro no volante - explicou Jorginho.
Pontaria
Jorginho retornou o 4-4-2 habitual no segundo tempo, com Douglas e Andrezinho à frente de Diguinho. O time, mais acostumado, melhorou de nível. Mas não conseguiu finalizar. Thalles, principalmente, teve duas boas chances, mas desperdiçou. No fim, a equipe insistiu nas bolas aéreas, sem sucesso.
Ansiedade
A cada gol marcado por Náutico ou Bahia anunciado no estádio Heriberto Hülse, a tensão aumentava. A pressão por conseguir logo a vitória e garantir o acesso ficou evidente, especialmente no intervalo, quando Nenê atendeu à imprensa.
- Pecamos muito no começo, muito recuados, e eles acabaram nos sufocando um pouco, agora precisamos ir pra cima para fazer logo esse gol e garantir o acesso o mais rápido o possível - disse o camisa 10.
A ansiedade atrapalhou o Vasco. Pôde ser vista nas conversas mais ríspidas em campo, na afobação para definir um lance, no carrinho desesperado de Luan que resultou no segundo pênalti. Um problema que precisa ser controlado para o jogo decisivo contra o Ceará no próximo sábado.
Fonte: GloboEsporte.com