"Vamos brigar pela responsabilidade de time grande, mas sabemos que ser formos campeões não vai acrescentar nada para história do Vasco". A sinceridade de Martín Silva em entrevista coletiva na tarde de quinta-feira chamou a atenção para uma questão quase que despercebida em São Januário: é realmente importante ser campeão da Série B? Precisando de oito pontos em 24 a serem disputados para garantir o acesso, o Cruz-Maltino é o segundo na tabela, atrás do Atlético-GO, mas a perda do troféu está longe de ser uma dor de cabeça para os vascaínos e a história mostra tratar-se de um tema irrelevante.
Nas dez vezes em que um grande disputou a Segunda Divisão, somente em três não saiu como campeão - todas envolvendo cariocas. O Vasco foi terceiro em 2014, o Botafogo ficou com o vice em 2003 e o Fluminense terminou na vexatória 19ª colocação em 1998, sendo rebaixado para Série C. Nenhum dos sete títulos conquistados, entretanto, virou motivo de orgulho ou ganhou posição de destaque nas salas de troféus do próprio Vasco, Atlético-MG, Corinthians, Grêmio ou Palmeiras.
Muito mais do que uma alegria, a conquista costuma ser acompanhada por uma sensação de alívio, que, ainda assim, é bem menor do que aquele que é sentido quando a volta à elite é confirmada. E os próprios vascaínos comprovaram isso sete anos atrás. A vitória por 2 a 1 sobre o Juventude, que garantiu o acesso em 2009, foi muito mais festejada pelos 78.609 pagantes no Maracanã do que o título garantido com triunfo pelo mesmo placar diante do América-RN com 20 mil torcedores a menos (50.237). É inimaginável, por exemplo, colocar o gol decisivo de Alex Teixeira em chute cruzado já na reta final da partida como inesquecível na centenária história cruz-maltina.
O retrospecto recente mostra também que, muito mais do que ser campeão, é necessário planejar o quanto antes o ano seguinte para evitar frustrações. O Palmeiras vencedor com sobras da competição em 2013 sofreu até depois do apito final de seu último jogo no ano seguinte para comemorar a permanência na Séria A - graças a gol do Santos sobre o Vitória. O próprio Vasco, o Atlético-MG e o Corinthians também tiveram apenas campanhas modestas no retorno, comprovando que uma campanha avassaladora na Segunda Divisão está longe de ser garantia de sucesso nos meses seguintes - o Palmeiras em 2004 e o Grêmio em 2006 são as exceções, com vagas na Libertadores.
Quando se coloca em dúvida o trabalho de Jorginho, a avaliação passa muito mais pela performance da equipe no segundo semestre em si do que a posição na tabela. Com oito derrotas, o Vasco já igualou o Botafogo do ano passado como grande que mais perdeu na história da Segunda Divisão. E não vai ser um troféu a mais na galeria de São Januário que mudará qualquer tipo de análise.
Pela diferença de grandeza e tradição em relação aos outros 19 adversários, é natural que se espere do Vasco uma reação capaz de ultrapassar o Atlético-GO e sagrar-se campeão nas oito rodadas finais. A disputa tem próximo capítulo sábado, às 16h30 (de Brasília), diante do CRB, em São Januário. Fica, porém, a certeza de que nenhum troféu será recebido com euforia ou servirá de parâmetro para os rumos do clube para 2017. Martín Silva já deu o recado: #ficaadica.
Fonte: GloboEsporte.com