Bellini ergueu a taça do primeiro título mundial da seleção brasileira de futebol, na Copa de 1958, na Suécia. Quatro décadas depois, começou a perder as memórias das épocas áureas em que foi o capitão de um dos momentos mais simbólicos da história da camisa canarinho. A doença, com diagnóstico inicial de Alzheimer, levou-lhe a vida em 2014, aos 83 anos.
Foi o médico Ricardo Nitrini que questionou pela primeira vez se Bellini realmente morreu por essa razão, ao assistir na televisão reportagens sobre a Encefalopatia Traumática Crônica na NFL, tradicional Liga de Futebol Americano. Notou semelhanças do comportamento dos jogadores americanos acometidos pela doença neurodegenerativa com o ex-atleta brasileiro. E foi atrás.
"Eu estava assistindo a uma apresentação a respeito de ETC e todo o imbróglio que houve com a NFL e pensei no Bellini, que era nosso paciente no Hospital das Clínicas da USP, me perguntei se isso não aconteceria com jogadores do nosso futebol. Por causa dessa ideia, entrei em contato com a família do Bellini. Sua esposa concordou e cedeu
o cérebro para nossa análise. Achei importante então que a gente fizesse esse estudo, que confirmou que ele tinha ETC", disse Nitrini, em entrevista à ESPN.
A doença que atingiu Bellini é típica de atletas do boxe, futebol americano e esportes de impacto que envolvam choques na região da cabeça, como o MMA. E, graças ao caso do capitão, motivou estudos relacionados também ao futebol.
"A gente acompanhava o Bellini na clínica, que teve sinais dessa doença. O que acontece é que conforme a pessoa envelhece, ela já vai tendo doenças no cérebro, do envelhecimento, mas se você tiver algum trauma, acumula doenças", continuou, em conversa com o ESPN.com.br, o doutor Fábio Porto, mais um neurologista a acompanhar o caso do capitão brasileiro.
"A bola antigamente tinha outro peso, outro tipo de material. Era couro com uma câmera dentro, ficava mais pesada, um tijolo. Tanto que o Bellini, que era um exímio cabeceador, provavelmente desenvolveu ETC por isso", disse Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos do Futebol.
Fonte: ESPN.com.br