Tita relembra títulos por Vasco e Seleção, cobra dívida de 2008 e critica Dinamite

Domingo, 09/10/2016 - 20:34
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Tita surgiu como uma revelação do ataque do Flamengo no final da década de 1970. Em pouco tempo, conquistou diversos títulos pela equipe: Campeonato Carioca (1978, 1979, 1979 especial e 1981), Campeonato Brasileiro (1980 e 1982), Copa Libertadores da América (1981) e Mundial Interclubes (1981). Ainda jovem, tornou-se destaque de uma das mais vitoriosas gerações do clube e rapidamente entrou no radar da seleção brasileira. Só que nunca conseguiu brilhar em uma Copa do Mundo.

Em 1978, aos 20 anos, era jovem demais para ser convocado pelo técnico Claudio Coutinho – justamente o responsável por revelá-lo no Flamengo – para o Mundial na Argentina. Em 1982 e 1986, foi preterido por Telê Santana. Em 1990, finalmente ganhou uma chance com Sebastião Lazaroni – mas ficou no banco de reservas durante todo o torneio.

"Em 1978, eu não tinha chance nenhuma de ser convocado - eu estava começando eu estava me firmando entre os profissionais do Flamengo. Fui convocado em 1979 - depois que a seleção voltou da Copa (do Mundo), teve a Copa América, aí o Cláudio Coutinho me convocou", contou Tita, em entrevista ao UOL Esporte.

Talvez a convocação para uma Copa do Mundo tivesse chegado em 1982, mas Tita optou por deixar o ataque do Flamengo para atuar como meia. Acabou ficando de fora, enquanto nomes como Toninho Cerezo, Sócrates, Falcão, Zico e Renato compunham o meio de campo da seleção brasileira na Espanha.

"Em 1982, aí sim, foi o grande erro na minha vida. Seria a convocação ideal. Acho que não fui por causa de uma decisão equivocada da juventude, de ser jovem, de achar que eu não tinha que jogar naquela posição (atacante), que a minha melhor participação seria no meio do que na ponta… Aí, tomei a decisão de não ir à Copa, entendeu? Eu jogava como ponta e não era a minha posição de origem, como meia. Depois da classificação para a Copa do Mundo, eu não quis mais jogar na ponta direita. O Telê me convocou para a ponta, mas depois da classificação, eu não quis mais jogar pela ponta direita", contou Tita, indo além.

"Quando você é jovem, comete muitos erros. A ansiedade e a insegurança te levam a tomar decisões que até atrapalham a sua vida profissional. Você imagina eu, com 21 anos, poderia ter disputado uma Copa do Mundo como titular absoluto? Como atleta profissional, foi o maior erro meu deixar de participar de uma Copa do Mundo. Titular da seleção do Brasil, qualquer profissional gostaria", completou.

Nos anos seguintes, Tita passou ainda por Grêmio (1983, com o título da Libertadores) e Internacional (1985 a 1986).

"Em 1986, (a ausência na seleção) foi opção do Telê. Ele não me levou, apesar de eu estar em um bom momento no Internacional - eu fui artilheiro do Inter no Campeonato Brasileiro, no Campeonato Gaúcho. O Telê não me chamou. Eu estava em um bom momento, estava a fim, e ele não me chamou", lamenta.

Em 1987, Tita chegou ao Vasco, onde caiu nas graças da torcida – foi o autor do gol que deu o título do Campeonato Carioca daquele ano, justamente diante do Flamengo. Nos anos seguintes, passou por Bayer Leverkusen (Alemanha) e Pescara (Itália); em 1989, retornou ao Vasco para conquistar o Campeonato Brasileiro.

De tanto esperar, a chance de disputar uma Copa do Mundo finalmente chegou. Em 1990, aos 32 anos, foi convocado por Sebastião Lazaroni (que havia sido seu técnico no Vasco em 1987) para disputar o Mundial na Itália.

"Eu estava muito bem, mesmo com 32 anos. Tinha feito uma boa temporada com o Pescara, fui artilheiro no Pescara, depois voltei para o Vasco da Gama e servi à seleção", relembra, sem lamentar a demora na chance. "Você sabe muito bem: seleção não te espera", relembra.

Tita ou Neto? Em 1990, vascaíno levou a melhor

Não que Tita não tivesse jogado – com destaque – pela seleção brasileira antes da Copa do Mundo de 1990. Disputou as Copas América de 1979, 1983 e 1989, sendo campeão na última já sob o comando de Lazaroni.

Para se firmar na seleção com Lazaroni, porém, Tita levou a melhor na disputa por posição com Neto, então em ascensão no Corinthians. O fato provocou chiadeira de parte da torcida, mas não abalou o então vascaíno.

"Em 1989, na Copa América que o Brasil ganhou, eu comecei como titular. No primeiro jogo, contra a Venezuela (vitória por 3 a 1), eu fui titular com a camisa 10. As pessoas de São Paulo faziam comentários de que o Lazaroni era amigo meu porque queriam o Neto na seleção, entendeu? Isso é normal. Talvez a véspera da Copa do Mundo tenha sido o melhor momento do Neto e a imprensa de São Paulo achava que o Neto tinha que ir (à Copa de 1990); aí, as pessoas começaram a colocar que eu era amigo do Lazaroni", desabafa.

"Não tinha nada a ver isso. Eu estava jogando bem também, eu tinha acabado de ser campeão brasileiro de 1989, fomos campeões no Vasco contra o São Paulo, naquele gol do Sorato. O Nelsinho Rosa, treinador do Vasco, era o auxiliar do Lazaroni na seleção brasileira. O Lazaroni foi meu treinador no Vasco em 1987 quando eu fiz aquele gol contra o Flamengo na decisão do Campeonato Carioca. Então, essa coisa de amizade com o Lazaroni começou a ser levantada pelo pessoal de São Paulo. Eles queriam o Neto na seleção, e o Neto estava em uma boa fase no Corinthians", completa.

No fim, Tita foi convocado e Neto ficou de fora. Em seu lugar, Lazaroni levou outro destaque do Vasco: Bismarck, de 20 anos. E até Tita estranha um pouco o fato de o corintiano ter ficado de fora daquele Mundial – no fim, o hoje comentarista jamais teria outra chance de disputar uma Copa do Mundo.

"O Lazaroni preferiu levar o Bismarck, que era um garoto na época. Mas, no time, daria para jogar eu e o Neto", conta. "O Lazaroni preferiu levar o Bismarck, um garoto que estava subindo no Vasco, e apostou nele."

A foto polêmica e o fim de carreira

A preparação para a Copa do Mundo de 1990 foi marcada ainda por outra polêmica: o acordo de patrocínio negociado entre CBF, J. Hawilla e Pepsi. Na ocasião, a Traffic (empresa de Hawilla) intermediou o acordo da empresa com a seleção, que receberia US$ 3 milhões para expor sua marca nas camisas de treino da seleção.

O valor estava em contrato, mas não foi apresentado aos jogadores. Revoltados com a exposição da empresa e com o pouco montante destinado aos convocados, o elenco tentou – sem sucesso – uma reunião com o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Como resposta, posaram para uma foto da delegação tapando o símbolo da entidade e a marca do patrocinador.

"Teve um problema com a Pepsi, e nós colocamos a mão no escudo da CBF. Isso aconteceu quando a gente foi tirar a fotografia. Não foi uma foto oficial; foi uma foto quando nós estávamos terminando os trabalhos na Granja Comary. Alguém falou: 'vamos colocar a mão no escudo para não aparecer'. Aí todo mundo saiu com aquela foto ali", declarou.

A confusão entre jogadores e dirigentes acabou minando a seleção na Copa do Mundo. O time acabou eliminado pela Argentina nas oitavas de final.

Tita não foi mais convocado. Voltou ao Flamengo em 1990, passou pelo futebol mexicano entre 1991 e 1997 e se aposentou no Comunicaciones (Guatemala) em 1997.

Como técnico, dívida do Vasco e problemas no mercado

O adeus de Tita ao futebol, porém, durou pouco. Em 2000, começou sua carreira como treinador – primeiro, em uma rápida passagem pelo próprio Vasco; depois, no Americano, de Campos dos Goytacazes (RJ). Nos anos seguintes, passou por clubes de Japão e Estados Unidos, além de equipes como América-RJ (2002 a 2003), Bangu (2003), Caxias (2004), Remo (2004 a 2005), Campinense (2005), Olaria (2005), Tupi (2006 a 2007), América-RN (2009) e Volta Redonda (2010).

Em 2010, Tita ganhou sua principal oportunidade como treinador no exterior: foi convidado para assumir o León (México), onde ficou até 2011. No ano seguinte, comandou o Necaxa, também no futebol mexicano. Embora os resultados tenham sido discretos, o agora técnico ficou no país até 2014.

"Aqui no Brasil, principalmente, é muito difícil ser treinador. Eu fiz dois trabalhos bons no México, com o León e com o Necaxa, e tenho a ideia de voltar para o México. É um bom mercado, tenho um nome forte no México. Lá os caras pagam, o pessoal é sério - aqui você trabalha e trabalha, mas chega no final do mês e você não recebe. Aí você perde um jogo, fica dois ou três meses e os caras não te pagam", explica Tita, com lembranças ruins de trabalhos no Brasil.

"Eu penso em trabalhar aqui no Brasil, mas é muito difícil. Eu trabalhei no Vasco em 2008, e até hoje o Vasco não me pagou. O Roberto Dinamite (então presidente do clube), sempre que me encontrava, falava aquilo lá, 'nós vamos acertar', não sei o quê… E até hoje nada", critica.

"No início deste ano, eu fiz um trabalho legal no Macaé. O Macaé tinha ido muito mal no primeiro turno do Campeonato Carioca; aí eu assumi no segundo turno, classificamos para a Taça Rio, ficamos no segundo lugar geral. Foi um trabalho muito bom, só que a dificuldade de você receber em dia, de você receber um bom salário… É difícil. Fiquei lá por três meses no Macaé. Foi meu último trabalho no futebol, de fevereiro a maio deste ano", acrescentou.

Tita agora procura um clube para trabalhar como treinador. Mas sabe que a situação não é tão simples. Por isso, procura espaço em equipes menores.

"Não tenho empresário para me indicar trabalho. Se as pessoas falarem, lembrarem, recordarem e me telefonarem, pô, eu adoro trabalhar. Os clubes dos quais eu faço parte são clubes pequenos, com poucas chances econômicas, então fica difícil a gente fazer um trabalho legal", lamenta, ciente de que o passado como jogador não deve ajudar muito na carreira à beira do gramado.

"Da mesma forma que eu fiz parte de uma geração vencedora, teve outros jogadores, outros atletas, outros treinadores que surgiram. Ou seja: da mesma forma que você quer uma oportunidade, tem outros milhares de pessoas que também estão buscando. Os clubes que eu poderia alcançar são clubes pequenos, com poucas chances econômicas. Não é qualquer clube do qual eu me atreveria a aceitar um convite. Hoje você vê que são poucos os times que estão em dia com os atletas – na primeira divisão (do Campeonato Brasileiro), tem o América-MG, o Santa Cruz, times que estão na zona do rebaixamento e que eu não sei se estão em dia, entendeu? Na Série B, tem muitos clubes que não estão em dia com os jogadores. Se você falar na Série C e na Série D, aí piora tudo", lamentou.

E uma chance de voltar ao Flamengo, onde brilhou como jogador, mas como técnico? O próprio Tita acha difícil – não apenas pela boa situação de Zé Ricardo atualmente no cargo, mas principalmente pelo histórico que remete a seu gol na final do Campeonato Carioca de 1987.

"Acho que, depois que eu fiz aquele gol de 1987, vai ser difícil eu voltar lá. Isso marcou muito, lógico. Um gol em uma final, e como foi a minha comemoração também… Eu saí correndo e coloquei a camisa do Vasco na cara", afirma, sem esconder uma certa mágoa com o clube da Gávea.

"Imagina agora se tivesse um jogo Vasco x Flamengo, o Jayme (de Almeida) fosse treinador do Vasco e o Vasco ganhasse. Você acha que o Jayme não ia comemorar pela sacanagem que fizeram com ele? Às vezes, as pessoas carregam essas situações. O Flamengo, por incrível que pareça, é um time que tem amor e ódio na situação. Ao mesmo tempo que você foi cria da casa, fez parte daquele grande time, o Flamengo sacaneia o Zico, o Junior, o Adílio, o Andrade, o Jayme. Isso é cultural, faz parte da história do Flamengo – com o prata da casa, eles acham que podem fazer o que bem quiserem."

Mas nem tudo é futebol na carreira de Tita

Tita pertence à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (a Igreja Mórmon) desde os 12 anos. Por isso mesmo, mesmo nos tempos de jogador, nunca foi muito chegado à badalação.

"Tinham muito respeito (à religião) na época. Eu fui praticamente o pioneiro aqui no Brasil. Minha família sempre foi muito religiosa, meus pais sempre foram muitos religiosos - foram batistas, metodistas, depois conhecemos a igreja (mórmon), nos filiamos e estamos na igreja até hoje", conta.

"Muita coisa era diferente (na relação entre religião e futebol), principalmente as comemorações depois de um título, as festas… Eu participava pouco disso, era reservado, não participava. Isso era difícil de entender para os jogadores da época, mas a gente convivia com isso", completa.

Hoje, enquanto espera uma chance para voltar a trabalhar como treinador, Tita já começa a trabalhar também como empresário. Desde 2011, sua família é dona de duas unidades de uma franquia canadense de escolas de inglês no Rio de Janeiro.

"A gente trabalha com educação infantil e fundamental. Já temos (o negócio) há cinco anos. Compramos a franquia aqui no Rio de Janeiro. São cinco franquias; destas, nós temos duas. Aqui na Barra da Tijuca, nós temos cerca de 200 alunos", conta Tita, que não se vê trabalhando em grandes clubes.

"Não vejo mais isso, não. Esse sonho eu não vejo mais", explica. "O meu sonho é que os meus filhos tenham saúde, meus netos também, cresçam dentro da família deles. Sou avô e já tenho quatro netos - tenho dois filhos, dois netos de cada um. Nenhum é boleiro. Eu tenho vídeos dos meus gols, e quando eles se interessam, eu mostro. Eles falam: 'olha, o vovô na televisão'."



Fonte: UOL (texto), Reprodução Internet (foto)