Depois de um tempo, Éderson está feliz. Não é frase-clichê de jogador de futebol ao chegar num clube novo e passar por boa fase. O significado do sorriso do atacante do Vasco é mais profundo. Vem do abraço da filha ao chegar em casa depois de fazer dois gols num jogo. Vem das lições que ele viveu ainda jovem, quando aprendeu da forma mais dura possível a valorizar a família. Há cinco anos, quando sua esposa Deyse perdeu Heitor, o aguardado primeiro filho, a oito dias do nascimento, muita coisa mudou para o jogador cruz-maltino. Daquele momento de sofrimento, ele tirou forças para vencer no futebol.
O ano era 2011, e Éderson, criado no Ceará, estava emprestado ao ABC, de Natal. No Rio Grande do Norte, conheceu a esposa e passa pela primeira experiência fora de casa. Depois de perder o filho, o atacante resolveu encarar de outra forma sua profissão. Os resultados vieram em sequência: em 2012, ainda pelo ABC, fez 12 gols na Série B. Em 2013, foi o artilheiro do Campeonato Brasileiro pelo Atlético-PR, com 21 gols.
- Eu e minha esposa passamos por uma barra muito grande. Principalmente minha esposa, que estava começando a entrar em depressão, não queria mais sair de casa, não queria mais viver. Ali foi o pior momento da minha vida; eu falo “minha”, porque eu e ela somos uma só pessoa. Aquele momento serviu de aprendizado. Seis meses depois, ela engravidou novamente, tivemos nossa filha, e a vida começou a mudar. Eu comecei a dar mais valor para a vida – lembrou o jogador, de 27 anos.
Antigo algoz do Vasco
Em alta, Éderson foi para os Emirados Árabes Unidos. De lá, chegou ao Japão. E, então, as coisas não funcionaram tão bem. A família, agora composta por Esther, de três anos, e Antonella, de cinco meses, não se adaptou. As meninas ficaram doentes. O atacante não pensou duas vezes: voltou para o Brasil.
Ironia do destino: o clube que abriu as portas para Éderson foi uma vítima simbólica na carreira do atacante. Em 2013, ele fez três gols na vitória do Atlético-PR por 5 a 1 sobre o Vasco, no jogo que definiu o segundo rebaixamento da história do Cruz-Maltino. Na mesma partida, houve pancadaria entre torcedores na arquibancada. O sentimento do jogador, agora, é retribuir ao clube todo o apoio que recebeu.
- O Vasco está mudando a minha vida. Quando eu voltei, mudou tudo. Estava um pouco esquecido no Japão. O Vasco é tudo. Tenho que dar meu melhor em campo para retribuir o que o Vasco tem me proporcionado.
Disputa saudável no ataque
De fato, Éderson tem ido bem em campo. Desde que chegou, são seis gols em 13 partidas. Na Série B, tem média de 0,45 gol por jogo, superior a todos os outros atacantes do elenco. Mas é tudo consequência da tranquilidade vivida fora das quatro linhas. A inspiração segue sendo a família.
- Quando entro em campo, eu me transformo. Sou outra pessoa, procuro terminar bem os 90 minutos. Se tiver que deixar sangue, vou deixar. Aqui está todo mundo feliz. Minha filha está estudando, bem adaptada. Começa a aparecer dentro de campo o que a gente vive fora.
Contra o Atlético-GO, no último sábado, Éderson fez os dois gols da vitória por 2 a 0. Mas foi destacado por Jorginho pelo empenho: correu a 17 km/h durante os 70 minutos em que esteve em campo. Marca expressiva, mas que ele minimiza. Prefere exaltar o elenco vascaíno, unido mesmo entre os concorrentes.
- Procuro sempre ajudar minha equipe. Cada um respeita o outro. Nossos atacantes me respeitam, eu também os respeito. Cada um tem oportunidade, e quando eles tiveram a deles vão fazer gols. A disputa é saudável. O Leandrão vem comigo treinar, de carona. É uma dor de cabeça boa para o Jorginho.
Assim, bem dentro e fora de campo, Éderson aproveita os dias de Vasco. Quer garantir o acesso para a primeira divisão o mais rápido possível – e, depois, o título da Série B. Assim, terá mais motivos para sorrir e comemorar com a família.
Fonte: GloboEsporte.com