O Vasco, apesar de ter vencido dois de seus últimos três jogos na Série B, vive um momento instável. Nenê já não é mais o mesmo jogador do início do campeonato, e junto com ele o time caiu junto. Chegou a ficar seis partidas sem saber o que é vitória. Foi justamente nesse período que Douglas Luiz, um moleque de 18 anos, atropelou a concorrência e tomou a posição. Logo ele, que sequer estava entre os nove garotos que foram promovidos pelo clube no início do ano.
A subida de Douglas contraria um clichê surrado do futebol brasileiro: o de que o moleque só deve subir quando o time está em um bom momento, vencendo, nenhuma dor muscular, uma boa conjunção dos astros, etc. Tirando a parte dos astros, muita gente diz realmente que é mais fácil um garoto se afirmar assim. Nem sempre, e a história se encarrega de produzir exemplos no sentido oposto.
Um deles é o do Fluminense de 2009. Cuca, técnico do time na época, barrou medalhões como Luiz Alberto, Paulo César, Roni e Wellington Monteiro e escalou garotos, como Digão, Dieguinho, Maicon Bolt e Alan. O time, que tinha 99% de chances de cair para a segunda divisão, deu uma arrancada incrível com seis vitórias nas últimas sete partidas e se salvou milagrosamente da queda com um empate com o Coritiba.
Outro exemplo é o Santos de 2002. O técnico Emerson Leão, ao assumir, pediu Romário e Ramon ao presidente Marcelo Teixeira. Ganhou de presente Diego e Robinho, vindos da base. Terminou o ano como campeão brasileiro. Em 2004, Anderson surgiu e agarrou sua oportunidade aos 16 anos em um Grêmio que foi rebaixado para a Série B com algumas rodadas de antecedência. No mesmo ano, Tite comandou uma garotada do Corinthians, que quase foi rebaixado no Campeonato Paulista, à quinta colocação no Brasileirão.
Histórias assim não faltam, e servem para questionar o que se tornou quase um dogma. É claro que, em um cenário ideal, a entrada de um garoto em um time principal deve ser planejada e feita aos poucos. Mas nem sempre esse cenário existe, e muitas vezes o argumento de que o jogador não entra por ser "muito jovem" serve também como muleta para treinadores que não sabem até quando continuam em seus empregos usarem os experientes como escudo, indicando alguns nomes da confiança dele e aumentando, às vezes sem necessidade, a folha salarial do clube. Em outros casos, cabe ao moleque chamar a responsabilidade para si.
Douglas Luiz fez isso. Em apenas seis jogos disputados, mostrou mais consistência do que Evander e Mateus Pet, que têm um ótimo histórico na base e chegaram a ter oportunidades, mas ainda não se firmaram, o que não impede que cresçam e ganhem espaço futuramente. Andrey, que também é volante, está no mesmo grupo e também é capaz de ter chances nos próximos meses, e Caio Monteiro frequentemente convocado para a seleção sub-20, teve bons momentos em 2016.
Ainda falta a eles, porém, uma sequência boa que Douglas Luiz já teve, aproveitando as oportunidades que surgiram. Reclamar com a diretoria ou com o técnico por não jogar ou fazer biquinho não são os melhores caminhos, embora sejam frequentemente escolhidos por garotos que foram mimados desde muito cedo e encontram dificuldade, num primeiro momento, de afirmação nos profissionais.
O ideal é que esses jogadores, por mais que se sintam injustiçados em alguns momentos, trabalhem para evoluir e aproveitarem ao máximo as oportunidades que chegam, muitas vezes, sem avisar, longe do momento mais adequado e das condições ideais. Cabe a eles mesmos definirem como vão lidar com as adversidades que surgirem e o tamanho da determinação de cada um normalmente ajuda, mais do que o talento puro e simples, a separar quem vinga no futebol e quem fica pelo meio do caminho.
Fonte: Blog Na Base da Bola - GloboEsporte.com