- A Série B me envelhece.
Um jogador do Vasco me disse certa vez, em tom de brincadeira. Mas a brincadeira era séria. Como tirar a razão dele sobre tal afirmação? Menos de um mês depois de o Cruz-Maltino completar 118 anos, o clube atinge, neste sábado, a marca comemorada apenas por seus torcedores rivais: o centésimo jogo na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. Enquanto os estádios esvaziam consideravelmente e compreensivelmente, e os ânimos se desgastam, fica cada vez mais difícil camuflar o que todos já sabem. Ninguém aguenta mais a Série B.
Se na Primeira Divisão para quem não disputa título ou uma vaga na Libertadores o campeonato torna-se quase modorrento, o que dirá da Série B? São 38 jogos, e a grande maioria é chata. Esse é o adjetivo. No caso do Vasco: adversários com relevante discrepância técnica, que tentam se fechar taticamente. Um "vai, não vai" insuportável. Alguns, inclusive, têm tido sucesso contra o time de Jorginho.
Depois do título invicto no Campeonato Carioca e uma ótima trajetória no primeiro turno, a dinâmica do time do Vasco parece estagnada. O discurso de Jorginho ao início da competição, de tentar superar a excepcional campanha do Corinthians de 2008 (85 pontos), foi por água abaixo após os últimos resultados - a equipe não vence há cinco jogos na Série B. A quem culpar?
A desmotivação geral atinge as arquibancadas, inevitavelmente. No gráfico, comparamos os maiores públicos e as médias do Vasco nas outras edições da Série B em que participou. Em 2009, após o primeiro rebaixamento, "a novidade era o máximo do paradoxo", parafraseando Gilberto Gil. Como segue a cartilha de todo clube com grande torcida, a do Gigante da Colina não ficou para trás e conseguiu o maior público já registrado na história da Série B de pontos corridos.
Foi em uma goleada do Vasco sobre o Ipatinga, por 4 a 0, no Maracanã: 79.635 presentes. Naquele ano, a média do clube como mandante foi de 25.730. O recurso de usar o Maracanã em algumas partidas ajudou, assim como em 2014. O maior público daquela edição também foi do Cruz-Maltino, em um empate com o Icasa: 56.334 pessoas no total. A média, no entanto, caiu quase que pela metade: 14.232.
Não era mais novidade, não era mais o resgate de um clube gigante, tampouco atraente. Agora, a terceira edição na Série B em menos de 10 anos virou um fardo. Para o Vasco, para os jogadores, para o treinador, para os torcedores. A média de público parcial do Cruz-Maltino na Segunda Divisão de 2016 é de 4.887, praticamente um terço da média de 2014.
O elenco do Vasco, formado em grande parte por jogadores veteranos, tem a consciência dos objetivos profissionais do ano. Mas é difícil manter a regularidade em termos de atuações. Um dos poucos que conseguem é Andrezinho, que não acredita que o fator psicológico venha abalando a equipe. Já Julio Cesar vê o cenário com certos percalços:
- Estávamos jogando contra o Santos na Vila Belmiro (Copa do Brasil) e dois dias depois enfrentamos o Tupi, num gramado ruim, em um jogo de muita dificuldade. Tem que trabalhar bastante o psicológico do jogador para entrar motivado - disse em entrevista coletiva.
O capitão Rodrigo, por exemplo, foi sincero em sua declaração - mesmo quando o time estava bem - ao considerar quase impossível o torcedor lotar São Januário em um jogo da Série B.
- É difícil (o torcedor comparecer em peso). Porque eu acho que a competição hoje que brilha os olhos do torcedor é a Copa do Brasil. Eu espero público nessa competição. Temos mais público fora na Série B do que em casa.
Insucesso de público ou não, não há de se colocar em xeque a paixão do torcedor. Ele está cansado de ver o desgaste da história de seu clube, de constatar o real distanciamento dos maiores rivais. Aliado a isso, há a questão dos preços de ingressos. A entrada inteira mais barata para a partida contra o Oeste é R$ 50. Preferível esperar o jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Santos, não?
Fonte: GloboEsporte.com