Natação: Em 2000, a holandesa Inge de Bruijn bateu recorde mundial competindo pelo Vasco; relembre

Domingo, 14/08/2016 - 17:45
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Entre as décadas de 1990 e 2000, a natação mundial acompanhou sempre com atenção os resultados da holandesa Inge de Bruijn. Pudera: desde que estreou em competições internacionais em 1991, Inge acostumou-se a brilhar em pódios e a quebrar recordes. Já em seu primeiro Mundial, disputado em Perth (Austrália) em janeiro daquele mesmo ano, integrou a equipe da Holanda que faturou o bronze no revezamento 4x100m livre - aos 17 anos.

Antes de emplacar no topo, porém, a holandesa teve resultados discretos. Em 1992, na Olimpíada de Barcelona, foi oitava nas finais dos 100m livre e do revezamento 4x100m livre. Em 1993, foi bronze na final dos 50m livre do Campeonato Europeu, em Sheffield (Inglaterra). Em 1996, nem sequer disputou os Jogos Olímpicos em Atlanta (EUA).

Ainda assim, Inge era uma potencial estrela quando chegou ao Brasil para disputar o Troféu Brasil de Natação (atual Troféu Maria Lenk) em agosto de 1998. Aos 24 anos, a convite de Fernando Scherer, defenderia o Flamengo nas piscinas do Conjunto Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, em São Paulo.

O resultado? Não poderia ser melhor. "A nadadora holandesa Inge de Bruijn, do Flamengo, bateu o recorde do campeonato nos 100m livre e venceu a prova com 55s62, deixando a nadadora do Pinheiros Juliana Machado em segundo lugar. A marca de Inge é melhor do que os recordes brasileiro e sul-americano, mas não pode ser oficializado porque é uma atleta de outro continente. A holandesa foi um dos grandes destaques do Troféu Brasil daquele ano: bateu recordes em todas as provas que disputou", descreve matéria do UOL Esporte na época.

"Os dois clubes melhor classificados no Troféu Brasil devem muito aos nadadores holandeses Inge de Bruijn - do Flamengo - e Macel Wouda - do Pinheiros. Ambos os nadadores bateram recordes em todas as provas de que participaram e somaram pontos significativos para os clubes. Além de quebrar o recorde do campeonato em sua vitória nos 100m livre, Inge fez parte do revezamento 4x100m recordista do campeonato", completa o texto.

Os resultados no Brasil vieram ao mesmo tempo em que a carreira de Inge alcançava um novo patamar. No fim de 1998, conquistou duas medalhas de ouro (50m livre e 50m borboleta) e duas de bronze (100m borboleta e revezamento 4x50m medley) no Campeonato Europeu de piscina curta, em Sheffield (Inglaterra). No ano seguinte, conquistou três medalhas no Campeonato Mundial disputado em Hong Kong: ouro nos 50m livre, prata no revezamento 4x100m livre e bronze nos 50m borboleta.

Ainda assim, Inge seguiu competindo pelo Flamengo no Brasil. Entre 1998 e 1999, disputou também duas edições do Troféu José Finkel (disputado no inverno e, a priori, como um campeonato de piscina curta). Conquistou diversas medalhas de ouro e quebrou vários recordes, mas também despertou o interesse de outros clubes no Brasil - entre eles, o Vasco da Gama.

Na época, o clube cruzmaltino atraiu importantes investimentos do Bank of America (parceiro desde 1998), cujo reflexo nos gramados atingiu o ápice nas conquistas da Copa Libertadores da América em 1998 e da João Havelange em 2000. Em janeiro de 2000, a revista IstoÉ festejava o acerto.

“O apelo do marketing do futebol está atraindo até os bancos, um setor mais do que expert em farejar negócios rentáveis. O Bank of America investiu cerca de US$ 150 milhões numa parceria com o Vasco do Gama, que inclui licenciamentos, publicidade e direitos de transmissão. O time carioca, por sua vez, tem direito à metade dos valores dos contratos negociados pelo banco. Para tocar esses negócios, o Bank of America criou o Vasco da Gama Licenciamentos (VGL), cujos projetos são coordenados pela empresa de marketing esportivo All-E”, descrevia a publicação.

O dinheiro do Bank of America ajudou também a contratar Inge de Bruijn para a disputa do Troféu José Finkel de 2000, disputado em piscina longa. Naquele ano, a holandesa vinha conquistando resultados que ajudariam a colocá-la no topo do mundo. Entre maio e junho, foram cinco recordes mundiais quebrados: 50m borboleta (25s83, em Monte Carlo), 50m borboleta (25s64, em Sheffield), 100m borboleta (56s69, em Sheffield), 100m livre (53s80, em Sheffield) e 50m livre (24s48, em Drachten).

Logo após o recorde quebrado em Drachten no dia 4 de junho de 2000, Inge viajou ao Rio de Janeiro para se apresentar ao Vasco, onde competiria três dias depois no Troféu José Finkel. Nos primeiros treinos em São Januário, a holandesa até se espantou com a festa da torcida. "Ver as pessoas felizes e me recebendo com tanta simpatia às vezes assusta um pouco", disse, na ocasião, segundo o site NetVasco.

No dia 10 de junho, Inge fez a festa da torcida vascaína que acompanhou a competição. Na final dos 50m livre, venceu com a marca de 24s39, nada menos de 0s9 abaixo do recorde mundial que ela mesma quebrara menos de uma semana antes na Holanda. Irritados, torcedores flamenguistas protestaram contra a atleta, abanando notas de R$ 1.

Era o sexto recorde mundial quebrado pela holandesa em 21 dias - neste intervalo, ainda igualou a melhor marca do mundo nos 50m livre durante as competições em Sheffield, marcando 24s51. Para efeito de comparação, o segundo lugar da prova no José Finkel de 2000 ficou com Flávia Delaroli, que completou a prova em 26s27.

"Sempre nado bem aqui no Brasil. Esperava boas marcas, mas não um recorde mundial. Quando olhei o cronômetro, comecei a gritar. Fazer o sétimo recorde em tão pouco tempo é incrível", declarou a holandesa, empolgada. "Foi lindo ter visto toda a torcida me aplaudindo. Foi como um sonho. Foi uma honra nadar pelo Vasco. Se o clube me convidar de novo, volto, com certeza", completou.

A vitória nos 50m livre foi apenas uma das seis que Inge de Bruijn conquistou naquele Troféu José Finkel - a holandesa ainda foi a primeira colocada nos 50m borboleta (25s71), nos 100m borboleta (57s65) e nos revezamentos 4x50m livre (1min44s24), 4x100m livre (3min46s69) e 4x100m Medley (4min12s61). O Vasco acabou campeão da competição, à frente do Flamengo.

Das piscinas do Rio para os pódios olímpicos

Depois daquele Troféu José Finkel, Inge de Bruijn não voltou a competir pelos arquirrivais cariocas. Em compensação, dominou as piscinas do mundo. Nos Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney (Austrália), foram três medalhas de ouro (50m livre, 100m livre e 100m borboleta) e uma de prata (revezamento 4x100m livre). No Mundial de 2001, em Fukuoka (Japão), foram mais três medalhas de ouro (50m livre, 100m livre e 100m borboleta).

Dois anos depois, no Mundial de Barcelona (Espanha), mais dois ouros (50m livre e 50m borboleta). Em 2004, na Olimpíada de Atenas (Grécia), conquistou um ouro (50m livre), uma prata (100m livre) e dois bronzes (100m borboleta e revezamento 4x100m livre). Eleita pela revista Swimming World a melhor nadadora do mundo em 2000 e 2001, aposentou-se em março de 2007.

O estrago de Inge nas piscinas brasileiras, porém, foi grande. Suas marcas conquistadas pelo Flamengo em 1998 nos 100m (55s62) e nos 100m borboleta (58s77) só foram derrubadas em 2010, respectivamente por Jessica Hardy (53s06) e Gabriella Silva (57s97).

Nos bastidores, o acordo entre Vasco e Bank of America durou pouco. Eleito presidente do clube, Eurico Miranda reclamava do atraso no pagamento do parceiro ao clube e da interferência de executivos da instituição financeira na administração vascaína. O rompimento aconteceu em fevereiro de 2001, em meio a uma grave crise financeira que seria resultado da dívida do Bank of America com o clube.

A final olímpica dos 50m livre nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, acontece neste sábado (13), às 22h03 (horário de Brasília), no Estádio Aquático da Barra da Tijuca.



Fonte: UOL