Há um ditado popular que diz: "lutar a todo custo é o verdadeiro lema de um samurai". Se no antigo Japão, os guerreiros usavam espadas para vencer seus inimigos e eram lembrados pela sua determinação e concentração, atualmente, no Vasco, tem alguém que se enquadra nesse conceito e usa chuteiras. Quem definiu isso foram os próprios nipônicos. O samurai da Colina atende pelo nome de Júnior Dutra. Em entrevista ao GloboEsporte.com, por telefone, ele afirmou gostar do apelido.
Após sete anos, Dutra está de volta ao futebol brasileiro. Sua última temporada no Brasil foi em 2009, quando vestia a camisa do Santo André, justamente o ano em que o Vasco conquistou o título da Série B. Na época, o atacante foi para Kyoto Sanga, do Japão, clube que ficou até 2012 e onde ganhou o apelido de "samurai". Ele foi convidado pela revista oficial do Kyoto para tirar fotos vestindo um quimono parecido com os históricos guerreiros japoneses.
– O convite que eu recebi para fazer o papel de samurai (na revista oficial do clube) foi uma surpresa para mim. Depois fui comemorando gols e ganhei muitos presentes da torcida. Então, foi um período muito gostoso e positivo para mim. Eu levei pra Bélgica esse apelido, para o Catar também e aqui, se eu tiver a oportunidade de fazer algum gol, com certeza vai ter uma das comemorações. Samurai significa um guerreiro, uma pessoa que luta bastante, então acredito que é algo positivo.
Dutra ainda passou pelo Kashima Antlers, também no Japão, antes de jogar no Lokeren, da Bélgica, e Al Arabi, do Catar. O longo período longe do futebol brasileiro e a passagem de apenas duas temporadas pelo Santo André fazem do jogador de 28 anos um desconhecido para boa parte da torcida vascaína. Ele, então, se apresenta aos torcedores.
– Eu saí daqui jogando até como um meia. Eu fui para Europa, voltando agora, jogando como atacante, segundo atacante. Sou jogador de velocidade, agudo. Procuro sempre ir em direção ao gol. Buscando dar o último passe ou até mesmo a finalização. Eu gosto de jogar como 9, também gosto de jogar como segundo atacante. No Japão, eu jogava aberto como segundo atacante. Na Bélgica, eu jogava como primeiro atacante, no Catar também. Posso, como já fiz com o Jorginho, fazer o homem de meio de campo aberto, pelos lados.
O atacante e o técnico Jorginho trabalharam juntos no Kashima Antlers por um ano. Apesar de ter uma boa relação com o comandante vascaíno, ele destacou que o acerto com o clube da Colina se deu pela grandeza do Vasco. Ainda assim, Júnior ressaltou a importância de ficar à disposição de um treinador que o conhece, após um longo período longe do Brasil, e afirmou que volta em seu melhor momento na carreira.
– Eu me vejo na melhor fase, acredito que eu estou maduro, por tudo que eu passei até hoje, me fez crescer, me fez evoluir. Estou voltando para o meu Brasil, para mostrar o meu futebol mais uma vez. Completamente diferente de como eu sai, em um grande clube, com uma torcida muito grande, com um treinador muito competente. Eu tinha esse objetivo de voltar a acho que o momento perfeito para voltar.
Confira a entrevista de Júnior Dutra:
O que mudou do menino que deixou o país há sete anos?
– Eu passei por três países diferentes, com esquemas táticos diferentes, culturas diferentes. Eu cresci bastante. Primeiro foi o Japão, que é um lugar muito organizado. Os times lá são praticamente perfeitos, eles cumprem até o final a função de cada um. Então isso foi bom para mim, evoluí bastante. Na Europa, tem isso do tático, mas o jogo lá é muito rápido, de dois toques. Não tinha o tempo de dominar a bola, como tem no Brasil, e fazer uma jogada individual, é um jogo mais fechado. Então, eu voltei mais maduro, mais experiente e meu jogo com certeza evoluiu também.
Você trabalhou com Jorginho no Japão. Ele foi um fator para sua vinda ao Vasco? Chegou a conversar com ele antes de assinar o contrato?
– Trabalhamos um ano juntos. O principal é o Vasco, por ser um time grande, de camisa, de torcida. Mas o Jorginho também foi um dos motivos, pela confiança que eu tenho no trabalho dele. Ele também por me conhecer, e por estar esses sete anos fora, por estar tanto tempo fora do Brasil, era importante ter um treinador que me conhece. Mas a gente conversou, mas conversou pouco. Esperamos mais a negociação concluir e aí conversamos melhor depois.
Quando você assinou, falaram que a busca pelo camisa 9 acabou, mas você não começou como centroavante. Gosta de jogar ali?
– Eu gosto de jogar como 9, também gosto de jogar como segundo atacante. Posso, como já fiz com o Jorginho, fazer o homem de meio de campo aberto, pelos lados. Então, acredito que nesses países em que passei, em que tive que jogar em posições diferentes, me ajudou bastante também. No Japão, eu jogava aberto como segundo atacante. Na Bélgica, eu jogava como primeiro atacante, no Catar também. Então, acredito que o Jorginho, por conhecer bem as minhas características, vai saber bem usar melhor com os jogadores que ele tem hoje.
Em 2014, o Vasco chegou a tentar sua contratação. Por que deu certo nessa vez?
– Teve um contato na época. Eu tive vontade de vir, só que ficou inviável pela questão da transferência. O meu clube não liberou o empréstimo, só liberaria se pagasse a multa. Mas acredito que era para acontecer, e eu estou muito feliz. Creio que fiz a escolha certa de voltar para o Brasil, depois de tantos anos e vestir a camisa do um grande time.
Durante boa parte do ano, foi noticiado que você negociava com o Botafogo, mas acabou fechando com o Vasco. Queria saber de você como aconteceu essa história?
– O interesse eu fiquei sabendo por empresários, que teve alguma situação, mas sei muito pouco. Até porque eu não me meto nisso, eu prefiro só fazer a minha parte de ficar treinando, está me condicionando, para que quando acertasse alguma situação, eu estivesse pronto. Eu não posso nem falar muito nisso, porque eu não estava de frente nas negociações. Eu sei que teve algum contato, mas no final a proposta do Vasco foi concretizada e eu me apresentei aqui.
Um dos pontos sobre a sua contratação foi a saída do clube do Catar, que aparentemente poderia acabar em processo na FIFA. Queria saber sua versão dos fatos.
– No Catar foi uma situação simples que infelizmente acontece bastante lá. Apesar de eles terem bastante dinheiro, eles acabam fazendo as coisas do jeito que eles acham certo, né? E tem a lei hoje na FIFA que se atrasar o seu salário por mais de três meses, você pode quebrar o seu contrato. E junto com o meu advogado, ele foi para o Catar, a gente fez uma estratégia e acabou conseguindo essa liberação. O Catar é um lugar muito bom para se morar, tem uma qualidade de vida muito boa. Financeiramente, também é muito positivo. Só que eu ainda queria jogar um campeonato competitivo, jogar em alto nível. Ainda tenho meus sonhos, mas eu sabia que seria difícil sair de lá, porque eu ainda tinha mais três anos de contrato e a partir dessa situação, e com o interesse de outros clubes, eu dei andamento e consegui ser liberado para jogar no Brasil.
Boa parte dos jogadores que volta dos países árabes para o Brasil são vistos como em final de carreira. Mas você, aos 28 anos, se vê em que ponto da sua carreira?
– Eu me vejo na melhor fase, acredito que eu estou maduro, por tudo que eu passei até hoje, me fez crescer, me fez evoluir. Estou voltando para o meu Brasil, para mostrar o meu futebol mais uma vez. Completamente diferente de como eu sai, em um grande clube, com uma torcida muito grande, com um treinador muito competente. Eu tinha esse objetivo de voltar a acho que o momento perfeito para voltar.
Você entrou bem contra o Criciúma, mas não pôde enfrentar o Ceará. Como está a ansiedade por ter que esperar até dia 20 (contra o Sampaio Corrêa, possivelmente em Cariacica) para jogar de novo?
– Felizmente, a estreia foi muito boa. Acabamos ganhando, o que era o mais importante para mim. Fiquei muito feliz de jogar em casa, ter o primeiro contato com a torcida do Vasco, tive uma boa estreia e era isso que estava me deixando mais ansioso. Na sequência, infelizmente, aconteceu de ter comido alguma coisa que me fez mal. Mas agora eu vou ter 15 dias com o grupo, para eles me conhecerem melhor, a gente se entrosar melhor o futebol para dar sequência até o final do ano e conquistar os nossos objetivos.
Você foi cria da base do Santos. Como encara o confronto com o Peixe, líder do Brasileiro, pelas oitavas da Copa do Brasil?
– Eu vejo um grande confronto que poderia ser contra qualquer outro time. Os times do grupo 1, que estavam no sorteio, eram todos grandes, então qualquer jogo ali seria um jogo de altíssimo nível para gente. Acho que é isso que todo jogador quer jogar esses grandes jogos. Eu estou feliz, motivado por estar voltando ao Brasil e já ter um jogo desse nível para defender o Vasco. A gente tem total chance de passar dessa fase, confiando no nosso grupo, respeitando o Santos que vive um bom momento também, mas vai um grande jogo.
Fonte: GloboEsporte.com