O peso de uma derrota importante pela seleção brasileira já é conhecido por pelo menos quatro dos atletas que agora têm a responsabilidade de disputar a Olimpíada pelo Brasil. O zagueiro Luan, o lateral Douglas Santos e os meias Rafinha e Felipe Anderson estiveram em campo na pior campanha do país no Sul-Americano Sub-20, em 2013, mas resistiram e fizeram por merecer um lugar na Rio-2016.
Marcada por desorganização fora de campo devido a problemas políticos, excesso de liberdade para os jogadores, problemas de vestiário e futebol ruim, a equipe dirigida por Emerson Ávila ganhou da Venezuela, empatou com Equador e perdeu para Uruguai e Peru. O que era para ser o início do ciclo olímpico, no fim das contas, virou motivo de preocupação, amadurecimento e desafio para os jogadores na sequência.
"Foi difícil, porque o sonho de vestir a camisa da seleção, chegar ali e falhar é frustrante", disse Felipe Anderson, agora cotado para ser titular na Olimpíada, em entrevista no sábado. "Eu pego os momentos negativos para poder crescer. Aquilo me fez muito forte. Eu vi tudo que poderia fazer de melhor e passados três anos cresci muito" admitiu o jogador da Lazio-ITA.
Quem também passou por momentos importantes e amadureceu ali foi Rafinha. Para estar no torneio, ele havia recusado convocação da Espanha, time defendido pelo irmão Thiago. Admirado por todos pelo profissionalismo e pelo desejo de servir o Brasil, ele chegou a chorar copiosamente no vestiário após a eliminação. "Vi alguns jogadores chateados, mas Rafinha estava profundamente abalado com a situação", relembra Emerson Ávila, então treinador.
Titular na defesa ao lado de Dória, o vascaíno Luan assumiu o lugar que seria do hoje companheiro de seleção Marquinhos, não liberado pela Roma-ITA na ocasião. Ele já era considerado uma das principais promessas da zaga no futebol brasileiro, foi capitão no torneio na Argentina, mas só conseguiu dar a volta por cima de verdade a partir do ano seguinte. Já Douglas Santos, revelação do Náutico-ITA na ocasião, era reserva no Sul-Americano e foi um dos jogadores menos aproveitados. Foi vendido à Udinese-ITA e se afirmou um ano depois pelo Atlético-MG. Hoje, está entre os melhores no País.
Política e desorganização
O Sul-Americano ocorreu alguns meses depois de José Maria Marin assumir a CBF. Naquele momento, o então presidente, atualmente preso nos Estados Unidos, fez mudanças na estrutura técnica da entidade. Marin buscava, principalmente, ter pessoas de sua confiança nos cargos importantes. Além de demitir Mano Menezes do time principal, liberou Ney Franco, que comandava a sub-20, para se transferir ao São Paulo em julho de 2012.
A CBF teve seis meses até o Sul-Americano, mas não definiu um substituto. Emerson Ávila acumulou três seleções de base ao mesmo tempo e só em dezembro foi nomeado pela entidade como o treinador. A falta de dirigentes com a seleção na Argentina, para dar respaldo ao treinador, também seria um motivo importante para que as coisas não funcionassem.
Indisciplinas e problemas de vestiário
O comportamento ruim de alguns jogadores daquele grupo foi uma das marcas do Sul-Americano. Houve atrasos para treinamentos e palestras da comissão técnica. Além disso, o atacante Bruno Mendes, então no Botafogo, se tornou alvo de críticas de colegas por hospedar a então namorada no mesmo hotel da seleção na Argentina. Outros, como os flamenguistas Adryan e Matheus, filho de Bebeto, tiveram atitudes que desagradaram a comissão da época. O primeiro deles chegou a se dizer com saudades do clube durante o torneio.
A situação ruim foi escancarada pelo atacante Marcos Júnior na chegada ao Brasil. "Vi jogadores chegando atrasado, treinando de sacanagem... O time perdia ou empatava e parecia que não estavam nem aí, chegavam cantando músicas. Isso incomodava. Parecia que não queriam nada. Alguns jogadores pareciam que não queriam jogar, pareciam que estavam em outro lugar, de férias. E quando alguns não querem, não adianta", reclamou na ocasião.
Contratação de Gallo foi resposta, mas não funcionou
Logo depois do torneio, Marin resolveu agir e apostou na fama de disciplinador de Alexandre Gallo para mudar o panorama. Na chegada, ele criou uma cartilha rígida que tratava desde o vestuário até acessórios e cortes de cabelo dos atletas. Lincoln, do Grêmio, foi um dos que sentiu na pele essa linha dura. A relação ruim com Gallo também chegou a afastar o santista Gabigol, hoje na Olimpíada, de convocações do treinador.
A aposta em mais disciplina foi insuficiente para a base do Brasil conseguir melhores resultados na ocasião. Com a sub-17, Gallo terminou o Sul-Americano de 2013 em terceiro, atrás da Venezuela, e não chegou às semifinais do Mundial. O time sub-15, coordenado por ele, teve a pior campanha da história do Brasil no Sul-Americano da categoria.
Dois anos depois, a sub-20 foi apenas quarta colocada no torneio continental, o que seria determinante para a queda do técnico. O melhor resultado da era Gallo na base foi conquistado por Caio Zanardi, campeão do Sul-Americano Sub-17 no ano passado, mas também substituído.
Onde estão os jogadores daquela seleção sub-20?
Gustavo - goleiro do Vitória - segue no Vitória
Wallace - lateral do Fluminense - hoje no Grêmio
Luan - zagueiro do Vasco - segue no Vasco
Dória - zagueiro do Botafogo - hoje no Olympique (FRA)
Misael - volante do Grêmio - hoje no Deportivo Maldonado (URU)
Mansur - lateral do Vitória - hoje no Sport
Matheus - meia do Flamengo - hoje no Estoril (POR)
Adryan - meia do Flamengo - hoje no Flamengo
Ademílson - atacante do São Paulo - hoje no Gamba Osaka (JAP)
Felipe Anderson - meia do Santos - hoje na Lazio (ITA)
Marcos Jr - atacante do Fluminense - segue no Fluminense
Matheus Vidotto - goleiro do Corinthians - segue no Corinthians
Bruno Mendes - atacante do Botafogo - hoje no Guimarães (POR)
Samir - zagueiro do Flamengo - hoje na Udinese
Igor Julião - lateral do Fluminense - hoje no Fluminense
Douglas Santos - lateral do Náutico - hoje no Atlético-MG
Jadson - volante do Botafogo - hoje no Santa Cruz
Lucas Cândido - volante do Atlético-MG - segue no Atlético
Fred - meia do Internacional - hoje no Shakhtar-UCR
Rafinha - meia do Barcelona - segue no Barça
Leandro - atacante do Grêmio - hoje no Coritiba
Jordi - goleiro do Vasco - segue no Vasco
Fonte: UOL