Homenagem ao grande vascaíno Eliakim Araújo
A torcida do Vasco perdeu neste domingo um grande torcedor e corajoso representante cruzmaltino no jornalismo brasileiro, algo raro nesse meio que historicamente sempre perseguiu o clube.
Eliakim Araújo faleceu aos 75 anos, mas deixou alguns textos enaltecendo e defendendo o Vasco. Dentre estes, iremos relembrar um em especial, principalmente pelo momento em que foi escrito.
Um momento de verdadeiro massacre midiático do clube, logo após a primeira partida da final do Brasileiro de 2000, o empate em 1 a 1 contra o São Caetano. Durante semanas o Vasco foi atacado e caluniado e ninguém da mídia teve coragem de fazer o contra-ponto e principalmente, dizer a verdade.
Pois Eliakim Araújo teve.
Que sua trajetória corajosa e independente sirva de exemplo para novos profissionais da imprensa que se dizem vascaínos, mas pouco fazem em defesa do clube.
Nossos sentimentos a família e amigos.
O LINCHAMENTO DO VASCO
Por Eliakim Araujo
“Estou impressionado com a ira de grande parte da imprensa contra o Vasco. O furor contra o Vasco de Eurico Miranda é cego, quase irracional. Comentaristas respeitáveis deixam de lado a imparcialidade e a coerência para despejar contra o Vasco um ódio próprio da idade da pedra.
Está-se armando um golpe do mais baixo nível contra o Vasco. Eurico tem muitos defeitos, mas é um dirigente que bate e dá a cara para bater. Com isso, ganhou inimigos poderosos na mídia, sobretudo nas organizações Globo. Todo mundo sabe que Eurico e o chefe de esportes do jornal o Globo têm uma briga feia na Justiça. Todo mundo sabe que, recentemente, Eurico proibiu a equipe da Rádio Globo de transmitir uma partida do Vasco em São Januário.
Todo mundo sabe que Eurico sempre questionou os horários impostos pela TV (leia-se Globo) para transmitir o futebol. Apesar disso tudo, talvez por motivações clubísticas ou regionalistas, todos se voltam contra o Vasco. É um verdadeiro linchamento do Vasco o que estamos assistindo. É como se a razão fosse deixada de lado e os linchadores quisessem fazer justiça com as próprias mãos.
Quem acompanhou com cuidado a transmissão da Globo pôde observar a mudança de posição repentina da equipe. O comportamento paciente da torcida durante todo o tempo de socorro às vítimas foi enaltecido por Galvão e sua equipe. O ex-árbitro Wright chegou a comentar sobre o risco da suspensão do jogo. Qual seria a reação dos 40 mil torcedores do Vasco que aguardavam disciplinadamente o atendimento das vítimas, indagou Wright.
Depois de quase 1 hora de paralisação, a posição da Globo mudou. Todos passaram a atacar violentamente a continuação da partida. Ninguém sabe porque, mas dá prá desconfiar. O fato é que o governador Garotinho, aproveitou o momento importante, uma transmissão em rede nacional, para fazer a média de que tanto precisa. Preferiu desmoralizar o coronel comandante dos bombeiros e chefe da defesa civil, que acabara de dar entrevista no meio do campo, garantindo que tudo estava serenado, a segurança fora reforçada e a partida poderia continuar.
Assim, a Globo ficou no ar o tempo que quis e encerrou a transmissão sem prejudicar a grade da programação, voltando com a novela das seis no horário normal. Hoje a Globo coloca no ar meia verdade: só o que Eurico falou depois da ordem de cancelamento, quando ofendeu o governador Garotinho. O que ele disse uma hora antes logo depois do incidente, quando pregou o socorro prioritário às vítimas, é omitido. Por má fé ou ingenuidade, a imprensa não está conseguindo separar o ódio ao dirigente do ódio ao clube. E Eurico foi transformado no grande vilão, culpado de todas as mazelas e sacanagens do futebol brasileiro. Todos os outros cartolas viraram santos e estão prestes a serem canonizados pela mídia.
E a falta de memória dos nossos cronistas… Acidentes em estádios de futebol são deploráveis, mas infelizmente acontecem com certa freqüência. Quem não se lembra das cenas de horror na Bélgica, numa decisão de copa européia, quando quase 40 torcedores foram imprensados contra o alambrado e morreram asfixiados tentando fugir de uma briga. E no Maracanã, mais recentemente, em jogo do Flamengo, a grade de proteção da arquibancada cedeu e seis torcedores morreram ao despencar no espaço. Em ambos os casos, os jogos foram realizados e repercussão foi praticamente nenhuma perto do que estamos assistindo.
Dá prá imaginar o que teria acontecido se uma das vítimas de São Januário tivesse morrido… Não duvido até que os linchadores tivessem torcido por uma tragédia maior para que a crucificação do Vasco fosse mais expedita. Querer dar o título ao São Caetano, como se a briga na arquibancada fosse fomentada pelos dirigentes é bestial, é a mais completa falta de equilíbrio.
Até o deputado paulista Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, quer tirar sua casquinha. Deu declarações afirmando que vai acelerar o processo de perda da imunidade parlamentar de Eurico Miranda. Sem dúvida, uma ótima jogada política. Assume uma a posição simpática perante a mídia e ganha votos em seu território eleitoral, com a adesão de torcedores e dirigentes de clubes paulistas. Tudo contra o Vasco.
A paixão das torcidas adversárias é perfeitamente compreensível. Afinal, um quarto título nacional daria ao Vasco uma posição respeitável no ranking do futebol brasileiro. O certo, então, é tentar dar o título ao São Caetano, provavelmente este será o único título nacional dessa equipe paulista, deduzem os torcedores em sua paixão clubística. Com a posição adotada pela maioria da mídia, com os políticos querendo fazer média e todas as torcidas contra, a verdade é que os ingredientes estão prontos para a receita do golpe contra o Vasco.
É preciso deixar de lado o ódio e a paixão. Os fatos devem ser analisados com justiça e serenidade. Não se pode, em nome de uma briga da mídia com um dirigente, sacramentar uma injustiça contra uma das maiores torcidas do Brasil. Do jeito que a coisa vai, não é difícil que cruzadas se formem para invadir e destruir tudo que diga respeito ao Vasco e seus torcedores sejam queimados em praça pública.
Por favor, senhores, menos paixão e mais razão.”
Fonte: Casaca