Remo: FISA dá vagas olímpicas a remadoras de Togo, Dinamarca e Bahamas; Fabiana Beltrame fica de fora

Quinta-feira, 23/06/2016 - 12:58
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Após 19 anos remando, 14 deles em competições internacionais, Fabiana Beltrame disse adeus triste. Sexto lugar na Final B do Single Skiff Peso-Leve Feminino na 3ª Etapa da Copa do Mundo, fim de semana passado em Poznan, na Polônia, a catarinense de 34 anos, que em 2011 conquistou o único título Mundial do remo brasileiro, anunciou sua despedida das provas do circuito FISA.

“Pensei que estivesse emocionalmente preparada para quando esse momento chegasse, mas vejo que não é bem assim!”, escreveu Fabiana em sua página no Facebook. “Hoje competi pela última vez numa competição internacional. Não foi a despedida que eu esperava, estando numa final ou conquistando uma medalha ou ainda, nem com a qual eu sonhava que é a de competir os Jogos Olímpicos em casa. Mas nem sempre as coisas saem como planejamos.”

Primeira remadora do Brasil a disputar uma Olimpíada (14º lugar no Single Skiff Feminino em Atenas-2004), Fabiana está fora da Rio 2016 devido, em parte, a uma mudança na regra da Federação Internacional de Remo (FISA) – criticada pelo atual campeão Olímpico, o neozelandês Mahe Drysdale, entre outros, por obrigar as federações nacionais a escolherem apenas um barco por gênero nas regatas de qualificação continental .

Ao desistir de formar uma guarnição competitiva no Double Skiff Peso-Leve (em que foi 13º em Londres-2012, com Luana Bartholo), Fabiana decidiu disputar uma vaga no Single Skiff na categoria aberta no Pré-Olímpico das Américas, em março passado, já que a prova individual no Peso-Leve não integra o programa dos Jogos. O segundo lugar, atrás da atleta de Bermudas, seria suficiente, não fosse a nova regra da FISA. Como Fernanda Nunes e Vanessa Cozzi ganharam no Double Skiff PL Feminino, a Confederação Brasileira de Remo (CBR) optou por indicar o barco vencedor, apostando em um convite da FISA a Fabiana.

“A regra para definição da vaga por gênero, visto que prevíamos a possibilidade de classificação dos quatro barcos, foram estabelecidas e divulgadas pela Confederação Brasileira de Remo em novembro de 2015, e determina que, em condições iguais de vento, o barco com melhor percentual em relação ao tempo de referência obtém a vaga e, no caso de alteração na condição de vento, o barco com melhor colocação na prova conquista a vaga”, explica o texto publicado no site da entidade.

É possível que ao definir o critério, em novembro, a entidade confiasse mais na vitória de Fabiana, mesmo fora de sua categoria, do que na da nova dupla, que começou a treinar em 2015 . Diante do resultado, em março deste ano, a CBR optou por manter o critério e apostar em um dos dois convites da Comissão Tripartite da FISA – que deveriam ter sido requeridos em janeiro –, citando o histórico de conquistas da atleta e sua importância para o remo nacional.

O pedido, apoiado pelo Comitê Olímpico do Brasil, não foi suficiente. Um dos convites foi para a africana Claire Ayivon, do Togo, e o outro coube à quarta colocada na Regata de Qualificação Européia, da Dinamarca, que com isso classificou seu sexto barco aos Jogos. Para piorar, a vaga que seria destinada ao país sede caso o Brasil não classificasse algum barco no Feminino foi para Bahamas (10º no Pré-Olímpico em que Fabiana ficou em segundo).

“O que mais me entristece em não competir a Olimpíada é ver que meu técnico, Julio Soares, e técnico na seleção, que foi o principal responsável pela classificação do Double Feminino Peso-Leve para os Jogos Olímpicos, foi afastado sem razão alguma da função logo após o Pré-Olímpico do Chile, e com isso podendo não estar convocado para a equipe brasileira nos Jogos”, desabafou Fabiana no Facebook. “Pra mim, uma das maiores injustiças que já vi no esporte. Foi ele quem realizou todo o processo seletivo e treinamentos até a qualificação desses dois barcos da categoria feminina.”

Também catarinense, Julio treinou Fabiana dos 15 aos 24 anos, acompanhando-a na troca do Francisco Martinelli, de Florianópolis, pelo Vasco da Gama, do Rio, em 2005. Ele estava em Bled quando ela, treinada pelo francês José Oyarzabal, foi campeã Mundial em 2011 – ano em que Julio começou a trabalhar com Beatriz Cardoso, que chegaria ao quinto lugar no Mundial Júnior em 2013, com ele já na Seleção. Atleta do Flamengo, onde Fabiana remou entre 2009 e 2014, Beatriz, então com 19 anos, era vista como a parceira natural no Double Skiff Peso-Leve Olímpico, mas sua dificuldade em manter o peso da categoria inviabilizou a participação no Mundial de 2014 e implodiu a dupla.

De volta ao Vasco, e sem companheira de barco, Fabiana voltou a competir no Single Skiff Peso-Leve em 2015. Ganhou mais um ouro (o terceiro) e uma prata em etapas da Copa do Mundo, e sua segunda prata em Jogos Pan-Americanos, a única medalha do remo brasileiro no Canadá. Após o quarto lugar no Mundial da França, que distribuiu vagas para a Rio 2016 nas classes Olímpicas, anunciou que tentaria a classificação na prova individual entre as “pesadas” – na qual foi 19º em sua segunda Olimpíada, em Pequim-2008.

Fabiana estreou internacionalmente em 2002, no Mundial Sub-23 em Genova, na Itália, com o oitavo lugar no Double Skiff, ao lado de Caroline Beloni. Foi apenas após o nascimento da filha Alice, em 2009, que ela passou a competir no Single Skiff Peso-Leve, no qual conseguiu resultados inéditos para o remo brasileiro, com o primeiro ouro em Copa do Mundo, em 2011, e o único título Mundial, no mesmo ano.

Responsável pela equipe feminina da Seleção Brasileira, Júlio passou 2015 trabalhando também com Fernanda Nunes, de 31 anos, e Vanessa Cozzi, de 32, que formaram a melhor guarnição no Double Skiff Peso-Leve na Qualificação Interna em fevereiro, conquistando o direito de ir ao Pré-Olímpico, no Chile, onde ganharam a vaga e o título sul-americano. Desde então a dupla vem sendo acompanhada por Alexandre Nunes, do Pinheiros (SP), clube de Vanessa. Júlio segue treinando o Double Skiff Peso-Leve Sub-23, com Sophia Câmara e Isabele Camargo, ambas do Flamengo, visando ao Mundial da categoria, em agosto.

A ausência na Rio 2016 impediu Fabiana de igualar o recorde de quatro Olimpíadas do também catarinense Anderson Nocetti, remador brasileiro com mais participações nos Jogos. No texto em que anunciou a despedida, ela Fabiana se mostrou resignada. “Queria agradecer a todos que fizeram parte da minha jornada nesses 19 anos no esporte, impossível de citar todos, pois não se chega a lugar algum sozinho, mas principalmente à minha família”, escreveu a maior remadora da história do remo brasileiro.



Fonte: Remo em Voga