Márcio Dornelles é um atleta profissional de basquete acima de qualquer suspeita. Gaúcho de nascimento, fez grande parte de sua carreira em Franca, onde conquistou títulos estaduais, nacionais e continentais. Com passagens por Pinheiros e Macaé no NBB, sempre teve comprometimento com a profissão e deu provas claras da diferença entre o que é ser um atleta profissional na acepção da palavra (o que ele é) e apenas um jogador. Em todas as temporadas desde a criação do campeonato da Liga Nacional de Basquete o camisa 15 sempre teve média superior a 10 pontos e 20 minutos/jogo.
O que ele plantou ao longo de 20 anos de carreira pode ser visto em 2016, quando aos 40 anos ele é um dos líderes do Vasco que tenta empatar hoje a série final da Liga Ouro contra Campo Mourão a partir das 19h30 em São Januário (o site da Liga Nacional e o Facebook do NBB exibem a partida). Conversei com Márcio no domingo após o time vascaíno ter vencido a primeira partida do confronto, diminuindo o déficit para 1-2 contra os paranenses. No papo o ala se emocionou ao falar sobre a sua carreira e sobre como é cada vez mais difícil se manter em atividade em um esporte pra lá de físico.
BALA NA CESTA: Qual foi a grande diferença entre o Vasco dos jogos 1 e 2, que saiu derrotado para o bom time do Campo Mourão fora de casa, e o que jogou tão bem neste domingo e venceu por 79-64 em São Januário?
MÁRCIO DORNELLES: Entramos muito mais concentrados, sem dúvida alguma. Principalmente em relação ao jogo 1 (derrota por 89-74), quando estivemos muito aquém daqulo que podemos render. No segundo jogo foi mais próximo do que é mesmo uma final, independente se é de Liga Ouro, NBB ou qualquer competição. Não levamos (77-72 Campo Mourão), mas lutamos, brigamos. Final é sempre cheia de energia, vibração e neste domingo tentamos evoluir neste sentido. Do lado da nossa torcida a gente tinha que ter toda essa vibração, toda essa entrega, porque pra gente é tudo ou nada, né. Defensivamente fomos perfeitos em três períodos. No último relaxamos um pouco, a diferença caiu, mas conseguimos nos recuperar para vencer bem.
BNC: O que esperar do jogo 4 agora? Vocês continuam precisando vencer todos os jogos para subir para o NBB…
MÁRCIO: Acho que uma das chaves para a gente é colocar a torcida ainda mais pra dentro do jogo. Você viu aí o barulho que eles fazem, o apoio que eles nos dão, a energia que eles nos transmitem. Isso é fundamental neste momento. Tomara que a gente consiga fazer outra festa, como foi a de domingo. Pra nós é isso mesmo que você falou: subindo degrau a degrau. A verdade mesmo é que o nosso primeiro objetivo, agora, é levar essa série ao quinto jogo. Antes de pensar em outra coisa precisamos colocar esse duelo no quinto jogo. Depois, aí sim, é tentar conquistar o título e o acesso para o NBB.
BNC: Individualmente, como está sendo pra você, um cara de 40 anos e com tanta coisa já vivida na quadra, passar por essa experiência de Liga Ouro? Coloquei nas redes sociais antes do jogo 3 que me impressionou muito que antes de começar a partida você era o cara que mais pulava, que mais tentava passar energia para seus companheiros. Este teu comprometimento é, pra mim, o que mais chama a atenção mesmo…
MÁRCIO: (Nota do Editor: Neste momento Márcio começa a chorar) A gente vai chegando a uma certa idade e aí vendo alguns filmes na cabeça com tudo o que passou. É difícil. Essa dedicação do dia a dia que você cita é o que me permite estar em quadra até hoje com essa molecada, com essa garotada. Cada jogo, agora, cada ano que passa, cada momento de decisão como este que estou vivendo, pode ser o último, né? A verdade é essa. Você não sabe quando vai acabar, mas sabe que está próximo do fim. E tem uma coisa também. Às vezes eu vejo algumas pessoas falando de idade. Mas isso importa muito pouco. O que importa é a sua dedicação, a maneira como você encara o esporte, a forma como você se dedica nos treinamentos, se cuidar, estar bem fisicamente e mentalmente. Algumas pessoas vêem isso, mas não todas. Esse desabafo assim é mais por saber que cada ano que passa eu preciso me cuidar mais, me alimentando melhor, descansando o corpo ainda melhor e treinando cada vez mais, porque o basquete é um esporte que se reinventa muito rápido. Nosso jogo agora está muito físico e se não treinar muito fica pra trás. Ainda bem que, independente de idade, eu estou conseguindo fazer o meu basquete e consigo ajudar a minha equipe.
BNC: Ainda está longe de parar, né?
MÁRCIO: Ah, cara. Eu acho que ainda dá pra ir além. Se cuidando, se dedicando, treinando e colocando a carreira sempre em primeiro plano como sempre fiz, dá pra jogar um pouco mais, sim. Lógico que a cada ano que passa a intensidade diminui um pouquinho, mas a gente acaba compensando com a experiência de outras formas. Acredito que ainda possa contribuir com o basquete brasileiro de alguma maneira. Espero poder fazer muita coisa. Esse choro aí, esse desabafo, é também por amor. Basquete é o que eu sei fazer, é o que eu mais amo nesse mundo e que faz 22 anos a que me dedico dia e noite. Vou jogar até onde me quiserem.
Fonte: Blog Bala na Cesta - UOL