No dia seguinte após marcar o gol que garantiu ao Vasco o bicampeonato carioca, o zagueiro Rafael Vaz, filho ilustre da pequena Caieiras, a 40 km de São Paulo, era a imagem da felicidade. De sorriso aberto e exibindo uma alegria cativante, o herói do título fez questão de reverenciar seu maior ídolo, o pai Ademar. Nem todo mundo viu, mas em meio à grande festa que tomou conta do Maracanã, o abraço emocionado e repleto de lágrimas do zagueiro no pai foi de arrepiar.
“Meu pai é o meu herói, é meu tudo. É meu exemplo, a minha fortaleza. Essa vitória foi para ele, que me acompanha desde que eu nem pensava em jogar futebol. E para toda a minha família, claro”, afirma o zagueiro.
Se hoje Vaz festeja os tempos de glória, no passado a vida foi muito dura. “Venho de uma família humilde e meu pai era feirante. Sempre o ajudei quando não estava treinando. Ele sempre me ensinou a correr atrás do que eu queria”, revela.
E Rafael seguiu à risca os ensinamentos quando decidiu ser jogador de futebol. Seu primeiro técnico, o descobridor de talentos de Caieiras, Paulo de Castro, não esquece o dia em que ele chegou para treinar em sua escolinha. “O pai queria que ele fosse atacante, mas virei e disse: ‘Não me leve a mal não, mas ele é grande e forte demais, vai jogar de quarto-zagueiro’. Ele se saiu muito bem. Sempre foi obediente e muito dedicado”, diz.
E foi jogando com a camisa do modesto time local, o Pequena Semente, no distante campinho da Boca do Jacaré, ou do São Francisco, que Vaz despontou já demonstrando ter muito apetite. “Ele comia quase cinco lanches sozinho depois do jogo. Era pão com mortadela e guaraná quente. O pai dele dizia que ele precisava comer bem para ficar forte”, lembra Paulo.
Maio incentivador do filho, seu Ademar sempre fez de tudo para ajudá-lo. “Ele tinha uma barraca de frutas na feira e nos dias dos jogos sempre levava tangerina, laranja e maçã para os garotos, mesmo sendo humilde”, garante Paulo, que confirma a antiga fama de predestinado do aluno famoso: “Ele ficava muitas vezes no banco, porque jogava com garotos de maior idade e eu ficava com medo de que o machucassem. Mas faltando quinze minutos, eu o colocava em campo e ele sempre deixava o dele”.
Hoje, ‘Violinha’, ‘Pássaro Preto’ ou ‘Feinho’, como Vaz é chamado até hoje pelos amigos em Caieiras, fez história. A nação vascaína agradece, assim como a pequena cidade natal, que é um orgulho só de seu filho famoso.
'Um modelo de superação’
No clube desde junho de 2013, Rafael Vaz foi recusado por vários técnicos, mas nunca se entregou. Nem mesmo quando treinou sete meses à parte.
“Ele é um modelo de superação. Ficou afastado muito tempo, mas não desanimou. Pelo contrário, percebeu que deveria estar ainda mais focado para mudar o seu cenário e mudou”, disse a psicóloga do Vasco, Mayra Ruas, durante a comemoração do título, no Maracanã.
Após ser reintegrado, Vaz fez um longo trabalho com a psicóloga. “Nos trabalhos haviam metas, que foram cumpridas. Ele usou toda a experiência adquirida no momento de separação para se tornar ainda mais forte. Demonstrou ter grande capacidade de recuperação psicológica. O nascimento da filha foi determinante. A responsabilidade de ser pai e cuidar de alguém mexeu muito com ele e marcou este ciclo de renovação”, concluiu.
Fonte: O Dia