Capitão Rodrigo mantém rotina tranquila fora de campo

Quando Caio acorda de madrugada, Rodrigo diz para Juliana continuar na cama. Ele levanta, esquenta a mamadeira e leva ao berço de quem é seu xodó há pouco mais de um ano. Horas depois, se arruma para o trabalho. Na maioria das vezes, é o primeiro do grupo a chegar em São Januário para o treinamento matinal. Cumprimenta todos os companheiros e funcionários, e solta uma piada ou outra - é um péssimo contador, garante a esposa. Ao entrar no gramado, o capitão do Vasco assume seu perfil de jogador. Não é difícil ouvir de algum torcedor que Rodrigo é mal-encarado e que parece marrento, o que é rapidamente desmentido pela mãe de seu filho.

- É uma moça em casa (risos). Ele é totalmente diferente do que é no trabalho dele. Eu acho que com o passar do tempo, com a experiência, o Rodrigo foi adquirindo mais responsabilidades e criou um perfil dele próprio. Não sei se isso é bom ou não, mas acho que sim. Ele é tão responsável nas coisas que faz, encara com seriedade. Acaba virando uma coisa forte, as pessoas acham que ele é marrento, de poucas palavras - disse Juliana.

Juliana Tuzino e Rodrigo estão juntos há oito anos. São companheiros para tudo. Antes de Caio nascer, os jantares fora de casa e as saídas eram constantes. A rotina mudou com a chegada do filho, que vai completar um ano e três meses. No Rio de Janeiro, os dois não têm muitos amigos próximos. Eles já moraram em algumas cidades - Rodrigo passou por São Paulo, Flamengo, Grêmio, Internacional, Vitória e Goiás no Brasil desde que conheceu Juliana. O começo da carreira profissional, em 2001, foi na Ponte Preta, clube que o formou.

Em 2014, um dos melhores amigos de Rodrigo era também companheiro de time: Douglas, o 10 do Grêmio. Foi no Tricolor de Porto Alegre, aliás, que os dois tornaram-se mais próximos, em 2010. Quando o ex-meia do Vasco estava no Rio, Rodrigo tinha que "expulsá-lo" de sua casa após as longas conversas durante a noite. Caso contrário, o "barbudo", como Rodrigo chama, não ia embora. A parceria dos dois estende-se às famílias: levaram os filhos e esposas, que também são amigas, para passar a virada do ano passado para este em Miami, nos Estados Unidos.

No Vasco, apesar de ser brincalhão, Rodrigo é mais na dele. Raramente joga videogame ou baralho com os outros jogadores do elenco na concentração antes dos jogos. Para a final deste domingo, está ansioso. Ficou falando do jogo para Juliana durante a semana. Na quarta-feira, disse a ela:

- Amanhã já é quinta-feira. Está chegando, está chegando.

Em casa, Rodrigo conversa bastante sobre o trabalho. Quando acontece algum episódio como as provocações a Fred e Guerrero, ou alguma discussão em campo, ele e a esposa se falam pelo telefone logo após o jogo. Juliana certa vez chegou a pedir para o marido "não apertar o peitinho do moço", como aconteceu no clássico contra o Flamengo, no fim de março.

- Aquela questão do Fred, por exemplo (quando Rodrigo não o cumprimentou na final da Taça Guanabara). É difícil, porque escutamos muita gente comentando que ele foi sem educação, que foi falta de respeito. O Fred não conhece o Rodrigo além do campo. O Rodrigo nunca fez nada com ele fora dali, de levar para outro lado. Eu concordei com o Rodrigo naquele dia que ele não apertou a mão do Fred. Mas eu sempre falo: “vê se não vai apertar o peitinho do moço”. Ele faz isso para provocar, para encher o saco - explicou Juliana.

LIDERANÇA E PROBLEMAS DOLOROSOS

A liderança é uma característica de Rodrigo desde que ele chegou ao Vasco, em 2014. Naquele ano, o time foi vice-campeão estadual e conseguiu o acesso à Primeira Divisão. Em 2015, conquistou o título do Carioca. Com a saída do argentino Guiñazu da equipe titular, o zagueiro ganhou a braçadeira de capitão. E não tirou mais. No clube, todos o respeitam como capitão, tanto os jogadores como os funcionários.

- Rodrigo é um cara gente boa, tem um coração bom. As pessoas de fora veem de outro jeito. Pela fisionomia, parece ser um cara brabo, mas é brincalhão para caramba. Ele ajuda, estende a mão. Não tem nem o que falar dele nesse sentido. Às vezes, ele compra as coisas que as pessoas precisam. Compra fralda, ajuda os funcionários. Todo mundo o respeita. Os mais novos respeitam muito. Muito mesmo. Ele dá orientação para os garotos que subiram - disse um funcionário de São Januário.

Um desses garotos é Luan, sua dupla de zaga. Ano passado, o jovem defensor contou que quando sua esposa perdeu o bebê, no início do ano, Rodrigo foi um de seus principais conselheiros e amigos.

- É uma grande pessoa, virou amigo mesmo, nós conversamos bastante. Na época em que minha esposa perdeu o bebê, ele foi um dos que me ajudaram. A obstetra da esposa dele era a mesma da minha, e nós conversamos. Eu o admiro muito. Estamos sempre conversando e não só de futebol, o que é importante. Falamos de tudo. Se eu tenho uma coisa a dizer a ele é obrigado - disse Luan há um ano, pouco antes do título estadual.

Na carreira, Rodrigo teve a influência do ex-zagueiro Ronaldão, com quem fez dupla na Ponte Preta. Ele chegou a dizer em entrevista que foi com Ronaldão que aprendeu esse estilo de falar bastante em campo, dar orientações. Característica que é vista como ponto positivo pelo técnico Jorginho:

- Eu e Rodrigo estamos o tempo todo alinhando as coisas. Ele tem visão de trás e tem que falar mesmo. É o tempo todo organizando e falando.

Em sua trajetória como jogador, teve momentos dolorosos. Em 2008, a passagem pelo Flamengo foi rápida: apenas quatro jogos. Rodrigo sofreu fratura no braço e passou por cirurgia em que recebeu 27 pontos, e colocou quatro pinos e uma placa de titânio. A lesão traumatizou o zagueiro. No mesmo ano, já recuperado, foi para o São Paulo e conquistou o Campeonato Brasileiro com a equipe paulista.

Em 2009, mais um momento difícil. Rodrigo foi diagnosticado com embolia pulmonar, que é quando um coágulo sanguíneo obstrui artérias do pulmão. O zagueiro não podia sofrer choques, nem pancadas, porque poderiam causar sangramentos. Como o contrato com o São Paulo estava perto do fim, ao término da recuperação, Rodrigo foi devolvido ao Dínamo de Kiev, da Ucrânia. O problema da embolia o atingiu novamente em 2011, no Internacional.

Apesar da "gangorra" dentro de campo, as duas temporadas e meia no Vasco até agora foram de poucos problemas médicos. Rodrigo cita uma identificação grande com o clube da Colina.

- Minha vida no Vasco é muito intensa. Cheguei em um momento que o clube ia disputar uma Série B, subimos, depois caímos. Foi uma gangorra e também tive momentos bons e ruins. Minha identificação com o clube é grande. No São Paulo, foi muito picado - disse Rodrigo esta semana em entrevista coletiva.

DO LAR: SONECA, CHURRASCO, LOUÇA E "NÁUFRAGO"

Terminado o treino da manhã, Rodrigo chega em casa, faz Caio dormir e dorme junto. Se Juliana deixar, vão até o dia seguinte. O zagueiro também se arrisca na cozinha: lava a louça e faz um ótimo churrasco, segundo os amigos.

Quando o assunto é comida, os alimentos fritos são os que mais atraem Rodrigo. O frango a passarinho é um dos aperitivos preferidos. Se está comendo coisas gordurosas, o zagueiro brinca dizendo que vai mandar fotos ao Alex Evangelista, gerente científico do Caprres, que cuida da saúde dos atletas.

Dentre os hábitos de Rodrigo, a esposa destaca um: assistir ao filme "Náufrago" quase toda a semana. Na história, conhecida mundialmente, o ator Tom Hanks sofre um acidente de avião e vai parar numa ilha deserta desabitada. O DVD é levado sempre por Rodrigo para a concentração. Filmes de guerra e a série Prison Break também estão na lista dele, que, além disso, costuma ver futebol americano e tênis.

Neste domingo, Dia das Mães, Rodrigo tem a chance de levantar a taça de campeão estadual no Maracanã. A mãe do zagueiro, a quem ele era muito apegado, já faleceu. O título, caso aconteça, pode ser dedicado à família: Juliana e Caio. Mas, em campo, não esperem um Rodrigo como o que foi descrito... Porque final é final. E aí, já sabem.

Fonte: GloboEsporte.com