Mesmo que no próximo domingo Martín Silva falhe; que Rodrigo e Luan não segurem Ribamar; que Nenê desperdice pênalti; que Riascos passe em branco; que o Vasco perca a invencibilidade e o título do Campeonato Carioca; que Jorginho seja criticado por imprensa e crucificado por torcedores, o treinador cruz-maltino fez a aposta certa ao decidir permanecer em São Januário em vez de aceitar novo desafio e maior salário no Cruzeiro.
Campeão ou não, Jorginho acertou em continuar no Vasco. As razões que o levaram a esta decisão são diversas. Passam pela conversa com Eurico Miranda, a sintonia com o elenco, a iminente possibilidade de título. Mas há um fator crucial que deve ter feito a diferença enquanto o treinador pesava seu futuro: a chance de desenvolver trabalho a longo prazo, algo tão pedido e decantado quanto improvável no futebol brasileiro.
No início do ano, o próprio Jorginho se dizia animado com a possibilidade. Ao revisar sua carreira, lembrava que teve poucas chances de iniciar projeto nos clubes pelos quais passou. Apenas no America e no Figueirense teve tal chance. Não à toa, foi onde rendeu melhor – no Mecão, chegou à final da Taça Guanabara; no time catarinense, quase chegou à Libertadores.
- É fundamental iniciar meu trabalho de forma diferente. Quando cheguei, peguei a coisa andando. É muito melhor começar um trabalho. Os dois únicos que tive a oportunidade de iniciar foram no America e no Figueirense – ressaltou o treinador em entrevista coletiva.
Jorginho balançou com a proposta do Cruzeiro. O salário era muito maior que o recebido no Vasco, e o desafio, sedutor: pegar um dos times de melhor estrutura no Brasil. Mas, ao escolher ficar, mais do que ser fiel às palavras que disse durante o ano, o treinador deu exemplo importante de comprometimento. O mesmo que vê como um dos fatores por trás da força de seu invicto time.
Além da ideologia, ficar no Vasco oferece boas possibilidades a Jorginho. O treinador tem o time na mão. Estabeleceu entendimento entre os jogadores que vem desde a quase-reação no Campeonato Brasileiro do ano passado. A sintonia se fortaleceu em 2016, e o Cruz-Maltino, se não enche os olhos ainda, é extremamente competitivo. A seguir nesta toada, não terá dificuldades para encarar a Série B e garantir o retorno à elite do futebol brasileiro – a principal missão da temporada.
- (Tivemos) um pouco (de medo). Por outro lado, ficamos muito felizes. É um profissional que vem nos ajudando, nos ajudou ano passado. Os trabalhos dele são sensacionais. A comissão dele é excelente. Ficávamos tristes por saber que poderíamos perder um grande treinador. Mas ficamos felizes quando ele comunicou que permaneceria – disse Jorge Henrique nesta semana, questionado sobre o temor do elenco em perder Jorginho.
O entrosamento no Vasco se entende ao extracampo. Eurico gosta do trabalho de Jorginho e prometeu autonomia a ele – mesmo com seu estilo peculiar, o presidente cruz-maltino não é daqueles que demitem técnicos ao menor tropeço, além de ser escudo importante para o futebol. O treinador também trabalha em sintonia com outros setores. Num clube em que o Caprres é visto como de extrema importância, Jorginho foi quem melhor atuou em conjunto com a trupe.
Assim, com a confiança da diretoria, a cumplicidade dos jogadores e o respeito da torcida, Jorginho pode dar sequência a seu projeto. A julgar pelo atual momento, a tendência é de temporada tranquila, sem sobressaltos. O próprio técnico sabe que precisa de troféus para se estabelecer no primeiro nível. E a possibilidade de título no Brasil, algo que ainda não consta no currículo do treinador, é boa: pode vir no domingo. Aí, ninguém mais vai se lembrar de Cruzeiro.
Fonte: GloboEsporte.com