Eurico Miranda fala sobre doença que vem enfrentando e diz que não pensa na morte

Sexta-feira, 06/05/2016 - 06:20
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Em quase meio século dentro do futebol, Eurico Miranda, colecionou inimizades, atraiu uma legião de seguidores e causou muita polêmica. Perto de conquistar o 51º título da carreira, o presidente vascaíno abre o jogo e revela nesta entrevista exclusiva um pouco da intimidade. Fala sem rodeios da doença, diz que não pensa na morte e que, apesar da idade, está mais jovem do que nunca.

O DIA: Em 50 anos no futebol qual é o seu maior orgulho?

Eurico Miranda: Já ocupei todos os cargos possíveis no Vasco e o principal é o de presidente. Mas a coisa que mais me orgulho é ser representante, em maiúsculo, do Vasco.

O DIA: Do que não se orgulha?

Eurico Miranda: Sou daqueles que não me arrependo de nada que fiz. Nada. Faria tudo de novo. É evidente que tem muita coisa que a gente faz, que depois vê que não era para fazer daquela maneira. Mas não me arrependo, porque no momento que fiz visava um interesse maior.

O DIA: O que senhor gosta de fazer na hora de lazer?

Eurico Miranda: Na TV, gosto de tudo, menos comentários esportivos. Só vejo, se tirar o som, pois a maioria entende pouco. Gosto de filmes de ação. Drama não me interessa mais, mas sei apreciar as coisas boas. Ando sem tempo, mas tinha uma mania, o quebra-cabeça. Estimulava alguns neurônios e me fazia, naquele momento, esquecer todos os problemas.

O DIA: Montava com seus netos?

Eurico Miranda: Eles são os únicos que podem mexer nas minhas peças. Os outros não têm permissão.

O DIA: É como puxar o Casaca?

Eurico Miranda: Casaca é um grito de guerra que ninguém tem. Não é algo vulgar. É um grito de triunfo, orgulho. Não é cantado, é puxado. Mal comparando, é como prestar continência à bandeira nacional. Não admito puxar o Casaca com as pessoas sentadas. Agora, como venho com isso lá de trás, onde estou, para puxar o Casaca tem que ser o presidente. Ou então não puxa.

O DIA: Domingo dá Vasco?

Eurico Miranda: Você não fica 25 jogos sem perder, em que ganhou dos seus três adversários. Isso merece ser exaltado. Trabalhei com grupos excepcionais, de qualidade. Mas este grupo é muito consciente. Posso dizer que dos muitos que trabalhei não tem um que tenha essa integração direta. Seria o coroamento de uma campanha brilhante.

O DIA: O que o Vasco significa para o senhor?

Eurico Miranda: Tirando a minha família, realmente o Vasco é tudo. Aliás, ainda tira um um pouco da minha família. O Vasco é tudo.

O DIA: O Eurico que a imprensa não conhece é divertido, carrancudo?

Eurico Miranda: Não sou daqueles do riso fácil, não é o meu estilo. Aliás, isso é uma das coisas que quando você quer fazer política tem que ser assim, e todo mundo sempre diz que sou um mau político. Rio só quando tenho vontade, mas não para ser mais simpático.

O DIA: Muita gente o considera antipático. Como lida com isso?

Eurico Miranda: Os que convivem comigo me acham até simpático demais. A questão não é ser simpático ou não. Tem uma frase de para-choque de caminhão que fala do grande problema do meio do futebol: “Inveja é uma merda”. É próprio da natureza humana, entendo isso. Modéstia à parte, estou no meio do futebol com conhecimento de causa e sei que em matéria de futebol é muito difícil debater comigo.

O DIA: Sua família não tem ciúme do Vasco?

Eurico Miranda: Na vida tudo tem uma questão de compensação. Eu tenho uma bela família. Quatro filhos, nove netos e eles já nasceram sabendo que têm que conviver com a minha vida no Vasco.Quando tenho oportunidade, sempre estou com meus netos.Eles assistem aos jogos, ficam comigo e é uma satisfação. Deixo eles fazerem o que querem. Fico tão pouco tempo com eles, que não tem isso de ‘não pode isso, não pode aquilo’. Não posso me queixar tenho uma família maravilhosa, sou abençoado.

O DIA: Como é a sua rotina?

Eurico Miranda: Não é mais a de dois meses atrás, até porque fiz uma cirurgia. Estou fazendo tratamento preventivo e mudou um pouco nesse sentido. Mas apesar de fazer quimioterapia, não mudou nada a minha atividade aqui. Dependendo do dia, posso passar de 12 a 24 horas no Vasco. Acompanho tudo de perto. Uma coisa é certa, todo dia venho ao Vasco.

O DIA: O senhor faz 72 anos em junho. Como encara o envelhecimento?

Eurico Miranda: Sinceramente, não me sinto envelhecido. Fisicamente já não sou o mesmo, isso é verdade, não sou praticante de exercícios, mas a cabeça, que é a mais importante, não envelheceu. Armazenou muita coisa. De certa forma, os anos foram passando, mas um coisa eu tenho certeza plena. Podem não gostar de mim, mas me respeitam.

O DIA: O senhor tem uma doença grave, que é de domínio público. Como lida com isso. Tem medo de morrer?

Eurico Miranda: Você sabe que não penso nisso, sinceramente. Eu sei que vou morrer, mas tenho enfrentado todas essas minhas coisas com naturalidade. Não modifiquei em nada com essa doença que tive. Na verdade, extirpei dois tumores.Hoje, faço quimioterapia, que é mais preventiva do que curativa. Não é agradável, mas enfrento com naturalidade. Faço pelo menos uma sessão, uma vez por semana. Das 12 sessões, já fiz dez, só faltam duas e está tudo bem. Tenho muita proteção.

O DIA: A doença mudou a sua forma de encarar a morte?

Eurico Miranda: O que eu não gostaria era de morrer antes de ver o Vasco em uma situação mais tranquila, antes de ver os meus filhos criados, de perder a chance de conviver mais com os meus netos. Mas tenho certeza de uma coisa: os meus (familiares) vão demorar a se esquecer de mim.



Fonte: O Dia