- Quero um Vasco que saiba o que faz em campo. Quando eu levantar a mão, que saibam qual a mudança e onde querem chegar. É uma equipe que precisa ser protagonista. Quero um time com variável no jogo.
A frase acima foi dita por Jorginho ao GloboEsporte.com, em 11 de janeiro, e ajuda a explicar muito do sucesso do Vasco em 2016. Treze vitórias e quatro empates depois daquela entrevista, o treinador pisa no Maracanã domingo para começar a decidir o Carioca contra o Botafogo ciente de que, independentemente do roteiro a ser desenvolvido nos 90 minutos, sua equipe será consistente taticamente e com variantes na busca pelo bicampeonato. O Vasco de Jorginho é assim: seguro de si e consciente de seus atos.
Com Nenê como principal estrela, os vascaínos sabem que o que os têm tornado imbatíveis neste início de temporada é a força coletiva. Escalado em um 4-4-2 bem definido, com um losango no meio-campo, o Vasco sabe ser mutante no decorrer de uma partida. Não foram poucas as vezes em que Jorginho recorreu ao 4-3-3, com Eder Luis e Jorge Henrique abertos pelas pontas. No clássico com o Fluminense, chegou a ter cinco homens de ataque em campo e ainda assim não perdeu a consistência defensiva. Fruto da obediência tática tão marcante nesta equipe.
No clássico de Manaus, que aumentou para nove a série invicta contra o Flamengo, o Cruz-Maltino apresentou uma novidade. Sem saber se Muricy Ramalho optaria pelo 4-4-2 ou pelo 4-3-3, Jorginho disse depois em coletiva que sua equipe estava preparada para as duas possibilidades. O rival entrou com Gabriel e Cirino abertos pelas beiradas, e o 4-4-2 vascaíno virou uma espécie de 3-5-2 quando não tinha a bola.
Voltando de lesão após três semanas, Julio Cesar naturalmente já não se exporia ofensivamente por prudência. A solução foi virar praticamente um zagueiro, fechando os espaços para investidas de Marcelo Cirino e dando liberdade a Rodrigo para o combate direto a Guerrero. A foto acima mostra a formação. Com o lateral-esquerdo alinhado com Rodrigo e Luan, Jorge Henrique recuava e cobria seu setor. Variações nítidas de um time que reconhece as orientações de seu comandante com um simples levantar de mão. Lembra da frase no início do texto?
Outra característica marcante da disposição tática vascaína é a recomposição em velocidade e compactação. Com exceção de Nenê, quase sempre toda marcação é feita atrás da linha da bola e com linhas bem aproximadas. A foto abaixo mostra os dez jogadores em um espaço de cerca de 20 metros, reduzindo as alternativas de César Martins na saída de bola. Jorginho revelou também em coletiva na Arena da Amazônia que o time tem de cinco a oito segundos para se organizar quando perde a bola. Não há tempo para deixar o adversário pensar.
Por fim, a disciplina tática ameniza ainda aquele que era apontado como fator de desconfiança no início da temporada: a alta média da idade. Oito dos 11 titulares contra o Flamengo têm mais de 30 anos e Riascos está na porta, com 29. O Vasco, porém, parece não sentir o desgaste físico, mesmo na umidade de Manaus. É aquela história do correr errado. O time do Vasco corre certo, cada jogador sabe bem sua função em campo e não há necessidade do desgaste em "correr pelo outro". A valorização da posse de bola, muitas vezes até no campo defensivo, é outro ponto importante para dosar energia.
Mutante e protagonista, o Vasco se reinventou. O elenco é praticamente o mesmo do rebaixamento, mas o time é outro. Um time projetado por Jorginho lá naquela entrevista de 11 de janeiro. Um time que sabe o que fazer em campo, basta seu treinador levantar a mão.
Julio Cesar alinhado com Luan e colado em Cirino, Rodrigo na cola de Guerrero, JH fecha lado esquerdo |
Vasco bem compactado e todo atrás da linha da bola dificulta saída de bola do Fla |
Fonte: GloboEsporte.com