Foram pouco mais de dez minutos de uma cena, no mínimo, inusitada na vitória do Vasco sobre o Fluminense, domingo, em Manaus. A tão decorada linha defensiva com Madson, Luan, Rodrigo e Julio Cesar estava desfeita. Até aí, tudo bem. Mas o que um baixinho de 1.69m fazia ali, ao lado de Rafael Vaz? Reconhecido por sua obediência tática e poder de marcação, Jorge Henrique foi a opção de Jorginho para recompor o sistema com a substituição de seu capitão por Diguinho. E a manutenção do 1 a 0, que garantiu o título da Taça Guanabara, mostra que a estratégia deu certo.
Cobrado desde a chegada ao Vasco pelas estatísticas ofensivas - apenas dois gols em 29 partidas -, Jorge Henrique é quase que intocável no esquema tático de Jorginho. Aberto pelos lados do campo, tem como missão não somente auxiliar Nenê e Riascos nas ações ofensivas, mas exerce a nada agradável missão de acompanhar o lateral adversário. A característica defensiva já era reconhecida desde os tempos de Corinthians, mas a improvisação como zagueiro era inédita. Pelas próprias contas, o atacante só não atuou em um lugar: no gol.
- Já havia jogado nas duas laterais. Contra o Fluminense, atuei como volante, meia, atacante e zagueiro. Só falta ser goleiro. Pela altura, eu seria o Jorge Campos (risos). Após a expulsão do Matos, passei a jogar como volante. No fim, com a saída do Rodrigo, Jorginho me pediu para compor a zaga e fui na hora. Se tiver que subir para tirar na cabeça, subo também!
Não é preciso puxar muito longe na memória para comprovar as palavras de Jorge. Nos minutos finais da vitória sobre o Remo, na última quarta-feira, pela Copa do Brasil, Jorginho optou pelo jovem Evander para substituir Henrique e colocou seu coringa na lateral esquerda. A facilidade de adaptação em novas posições tem um culpado: Cuca, que comandou o atacante no Botafogo, em 2007 e 2008.
- No Botafogo, acompanhava os atacantes adversários e acabou virando uma marca em minha carreira. No Corinthians, na final do Mundial, contra o Chelsea, acompanhar o Hazard foi estratégico. Foi uma bola que roubei dele que originou o gol do título. Também no Corinthians, Mano costumava deixar, durante as preleções, a peça com meu nome de fora do campo demonstrativo. Depois que falava da função tática de todos, colocava a minha peça e dizia que era apenas para compor o espaço entre uma bandeirinha de escanteio e outra. Simples. Para conquistar títulos, jogo em qualquer posição.
Com quase 20 centímetros a mais de estatura (1.88m), Rafael Vaz foi o companheiro de defesa de Jorge Henrique na reta final do clássico que decidiu a Taça Guanabara e falou sobre a experiência inesperada:
- Foi até um pouco engraçado por ele ser tão baixo, mas até no nosso rachão ele costuma jogar na zaga. Fui orientando, porque uma brincadeira é uma coisa e jogo é totalmente diferente. Espero não precisar dele ali tão cedo, mas foi bem interessante. Melhor ainda que não sofremos gol. Ele nos ajudou muito, é muito obediente taticamente. Fez a função e fez bem.
Invicto em campo, Jorge Henrique se divertiu com a situação no vestiário da Arena da Amazônia e fez questão de tirar uma foto com Luan, Rodrigo, Jomar e Vaz com o troféu de campeão da Taça Guanabara nas mãos. O Vasco tem mais um jogador para posição em seu elenco: Aislan, que não foi relacionado para viagem para Manaus. Domingo, o rival será o Flamengo, novamente na capital do Amazonas, pela semifinal do Estadual, e com Jorge Henrique novamente em sua função de origem.
Fonte: GloboEsporte.com