Juliana Sposito, jornalista, desenhou seu coração tricolor na perna direita. Celso Rodrigues, servidor público, tem o rosto de Bellini no braço direito e o painel de azulejos de São Januário nas costas. Hoje, Fluminense e Vasco se enfrentam às 16h, em Manaus, e para muitos torcedores que assistirão ao clássico quase tudo passa na vida, mas a mistura tatuagem e futebol é para sempre.
- Gosto de tatuar coisas que são importantes para mim - contou Juliana, para depois completar, aos risos: - Tenho tatuagem de cachorro, de gato e do Fluminense. Não tenho do meu marido, que pode me largar.
Antes do duelo que definirá o campeão da Taça Guanabara, a tricolor, ao lado do vascaíno Celso, topou o desafio, mesmo que de brincadeira, de se tatuar para o clássico. Os responsáveis pelos desenhos seguem o tom: o tricolor Jeferson Souza é figurinha fácil no Maracanã; Marco Anubis é vascaíno a ponto de se recusar a tatuar algo referente ao Flamengo.
- Tem sempre quem insista. Digo a todos que corre o sério risco de ficar ruim. Prefiro não fazer - explicou.
Na hora de desenhar o rosto de Bellini, a resposta foi outra. Ou então o painel nas costas do vascaíno. Para Celso, ser apaixonado pelo clube da Colina é um traço importante de sua personalidade.
- Nosso time é parte da nossa formação. É um valor que a família nos passa - ressaltou Celso, ainda não satisfeito: - Quero desenhar agora o rosto do Barbosa.
A responsabilidade do tatuador, resume Jeferson, é maior quando o desenho tem como tema o futebol:
- Quando se trata de algo sentimental, um parente, a imagem de um santo, um desenho do clube do coração, é preciso dar o seu melhor.
Tatuador abriu mão de carreira como dentista
Desde 2011 que Marco André Freire é tatuador profissional. Hoje, ele bate ponto de segunda a sábado em seu estúdio localizado na Tijuca. Mas, antes de virar Marco Anubis, ele provocava dor e medo nas pessoas de outra maneira: como dentista.
A mudança foi uma das decisões mais importantes de sua vida. Já não sentia mais alegria mexendo em bocas e dentes. Tatuava por prazer e, com o aval da mulher, largou o consultório para viver do que mais gosta. Quando o desenho é relacionado ao Vasco, então, nem se fala:
- Tatuar coisas que amamos é mais fácil. Você acaba criando mais. Já perdi as contas de quantas tatuagens do Vasco eu já fiz. Meu desafio é encontrar algo diferente.
Quando rubro-negros ignoram o aviso de que tatuagens do Flamengo são vetadas no estúdio, Anubis tem a resposta na ponta da língua.
- Até posso desenhar o Zico, mas tem de ser com a camisa do Vasco, na despedida do Roberto Dinamite - brincou o tatuador.
Profissão mudou a vida de Jeferson
Quem entra no estúdio Oriental Tattoo, em Vista Alegre, em busca de um orçamento, talvez não imagine a importância da profissão na vida de Jeferson Souza. O tricolor de 33 anos encontrou seu rumo na tatuagem. Foi em 2003 que ele transformou a arte em meio de ganhar a vida. Antes, estava difícil encontrar um caminho.
- Cresci num lugar muito carente e todos os meus amigos seguiram para fazer coisas erradas - lembra: - Eu pulava de emprego em emprego. Sempre soube desenhar e, quando decidi aprender a tatuar, deslanchei.
Talvez pelas poucas perspectivas antes da profissão, o tatuador não se deixa levar pela paixão clubística. Emo seu estúdio, quem pedir uma tatuagem de time vai levar, não importa para quem torça. Ele, inclusive, revela uma estatística desfavorável.
- A tatuagem que mais faço é do Vasco. Depois vem Botafogo e Flamengo. A que menos pedem lá é a do Fluminense - lamentou.
Da esquerda para direita: Jefferson Souza, tatuador tricolor, Marco Anubis, tatuador vascaíno, Juliana Sposito, torcedora do Fluminense, e Celso Rodrigues, vascaíno |
Fonte: Extra Online