Confira trajetória de Yago Pikachu: de bairro pobre de Belém ao sucesso no Paysandu e principal reforço do Vasco

Terça-feira, 12/04/2016 - 09:37
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Yago Pikachu durante treino do Vasco em São JanuárioQuando o motorista soube do destino da corrida, fez expressão de assustado, olhou para trás e, com olhos de preocupação, fez pergunta como se fosse pai preocupado:

- Bengui? Você tem certeza?

Não havia jeito. Para conhecer as origens de Yago Pikachu, o principal reforço do Vasco no ano, apesar do início tímido, era preciso visitar um dos bairros mais famosos – pela violência, a ponto de ser chamado de "Faixa de Gaza" – de Belém, a capital do Pará. Nesta semana, o pequeno Glaybson, ainda dando seus primeiros passos nas selvas do Rio de Janeiro e de São Januário, voltará ao lugar em que foi gigante por quatro anos: o Mangueirão. Momento ideal para impressionar Jorginho e ganhar mais espaço no elenco.

Yago ainda não sabe se poderá visitar a casa dos pais no Bengui, onde morou até o ano passado. O Vasco chega a Belém na segunda-feira e joga na quarta contra o Remo, pela Copa do Brasil. Talvez não haja tempo para ir ao antigo bairro, rever velhas amizades, fiscalizar o projeto social que mantém e visitar a loja com seus produtos oficiais, que vende desde canecas com escudo do atual clube até chinelos do Paysandu e do rival Remo.

- Os torcedores do Remo pediam algo com o Yago – contou José, um dos vendedores da loja.

Irmã de Yago, Suellen posa com lebranças e bonecos de PikachuAté ter uma marca própria de produtos, Pikachu começou a trajetória nas ruas simples e estreitas do Bengui. O bairro virou sinônimo de perigo, mas a caminhada da reportagem foi tranquila. O local ainda tem o ar de antigos celeiros de craques, com crianças brincando descalças na rua, pequenos comércios e vizinhos que realmente se conhecem – algo raro nas grandes metrópoles do Brasil.

- A gente nunca saiu daqui. O Bengui tem sua parte perigosa, mas aqui na nossa rua é muito tranquilo. Ele sempre gostou, conheceu a esposa dele aqui, cresceu aqui. Quando ele sai não tem tumulto, todo mundo o conhece no bairro - disse a irmã Suellen.

Yago morou na mesma casa quase a vida toda, até se casar em 2015 e ir para um apartamento maior em Belém, pouco antes de assinar com o Vasco. A família ainda vive lá: Suellen, o pai, Carlos, e a mãe, Suzy. O imóvel é repleto de referências ao parente ausente: placas comemorativas, homenagens, prêmios e, claro, bonecos do Pikachu.

- Aqui é cheio de Pikachu. É o desenho que sai da pokébola, se transforma, corre, corre, corre... A gente tinha aqueles álbuns de figurinha, o pacotinho era cinco centavos, e a gente montava, ficava louco para ganhar os prêmios. Qualquer moeda que tínhamos, corríamos para trocar. Depois de muitos anos, quem poderia imaginar que ele iria ficar conhecido como Pikachu? - completou Suellen.

O ágil e frágil Glaybson vira Pikachu

Das ruas do Bengui, Yago foi jogar futsal na Tuna Luso. Ali, virou Pikachu, graças ao técnico Capitão, responsável também por trabalhar um certo Paulo Henrique Ganso de Petrobras. Ainda garoto, o ágil e frágil aspirante a jogar chamou a atenção. Tanto que antigo mestre acredita que os primeiros meses abaixo do esperado do Vasco vão rapidamente virar passado.

- Ele começou comigo, com oito anos. Era pequenino e muito rápido. Nessa época, estava em evidência o desenho (Pokémon) e botei o apelido. Pegou. Foi muito marcante, porque a gente chamava, falava e sentia que ele não gostava. Depois, passou a gostar. Ele tem muito a dar, é um menino de qualidade. Vai dar muito trabalho no Rio.

Da Tuna Luso, Yago passou rapidamente pelo Remo até chegar ao Paysandu com 13 anos. Ali, treinando em gramados irregulares e num campo de terra rodeado por mato até hoje utilizado pela base do Papão, Pikachu evoluiu para virar o principal jogador do clube.

- Ele treinou até em campo pior, mas continuou com a mesma humildade. Aprendeu aqui a nunca desistir. Se ele veio desses campos e agora está pegando um campo de qualidade e condições melhores, vai sempre batalhar pelo melhor dele – apostou Aylton Moraes, que trabalhou com Pikachu no sub-17, mesma categoria que comanda atualmente no Paysandu.

No rápido retorno ao lugar onde nasceu, Yago poderá encontrar tempo para rever aquele que mais apostou nele durante a carreira. Nad trabalha há 20 anos nas categorias de base do Paysandu. Viu o menino ser promovido e voltar cabisbaixo para os juniores. Não deixou o garoto abaixar a cabeça e, por capricho do destino, foi o responsável por dar a primeira chance nos profissionais.

- Sentei com ele e falei: a oportunidade chegou. No primeiro ano não deixaram você jogar, mas agora você vai jogar. Para mim ele sempre foi diferenciado. Eu já sabia que ele tinha tudo para ser um atleta profissional. Quando foi para o profissional e voltou, fui o primeiro a buscá-lo para trabalhar. Sabia do que era capaz.

Ídolo no Paysandu, reserva no Vasco

Alberto Maia, presidente do Paysandu, garante que tentou segurar PikachuCom o apoio de Nad, Yago conseguiu se firmar no Paysandu. Em quatro anos, tornou-se a referência do elenco, a ponto de marcar 62 gols no período. Foi sondado pelo Palmeiras, especulado no Flamengo, mas assinou contrato com o Vasco no fim de 2015. Na época, a diretoria do Papão até tentou segurá-lo, mas sabia que o jogador precisava avançar na carreira.

- Tivemos uma conversa com a família do Yago, colocamos que jamais seríamos empecilho para que o Yago pudesse dar continuidade à carreira. Tínhamos plena consciência de que estava na hora de o Yago alcançar novos objetivos. Estava na hora de ele seguir novos rumos – reconheceu Alberto Maia, presidente do Paysandu.

No Vasco, Yago ainda não tem o status do qual desfruta em Belém e não foi titular uma vez sequer. Recuperou espaço no jogo contra o Volta Redonda. Ainda assim, deve ser reserva no Mangueirão, onde tanto se destacou na carreira. A única certeza é que estará em casa: cruzará as ruas de terra que separam o bairro homônimo do estádio e saberá que, ali do lado, no bairro onde cresceu, haverá remistas torcedores do Pikachu e bicolores saudosos. Incentivo e tanto para vencer no novo desafio.

- Aqui nossa cultura é completamente diferente. Lá ele vai conhecer outras pessoas, no começo vai sentir saudade da família, mas é a nossa vida. A gente tem que caminhar – aconselhou a irmã Suellen.



Fonte: GloboEsporte.com