Com paciência, Evander vem sendo preparado para virar ídolo no Vasco

Foram pouco mais de cinco minutos em campo, mas aqueles primeiros passos no estádio de Los Larios ficarão marcados para Evander. Aos 17 anos, o atacante fez sua estreia profissional pelo Vasco no último domingo, contra o Bonsucesso. Apontado como principal promessa de São Januário, o garoto iniciou de forma precoce todo o trabalho feito nos bastidores para que ele se torne ídolo do clube onde está desde criança.

Cria de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Evander começou no Vasco aos oito anos, levado pelo pai, Evandro Ferreira, que não é estranho ao mundo do futebol: é empresário e tem como principal cliente o atacante Vagner Love. Logo o menino se destacou pelo talento e foi convocado para as seleções brasileiras de base, pelas quais ostenta números impressionantes. Desde o sub-15, quando começam os registros, fez 47 gols – em 2014, balançou mais as redes com a camisa amarela do que um certo Neymar (26 a 15). Pelo Cruz-Maltino, marcou 63 vezes a partir de 2013. No total da carreira, são 110 gols.

Por conta disso, Evander é figura conhecida por olheiros de grandes clubes europeus. O Vasco já recebeu propostas por ele, mas sequer quis conversar. A multa rescisória é tratada com sigilo - 70% dos direitos econômicos pertencem ao Cruz-Maltino, e 30%, ao jogador e seu pai. No Velho Continente, segue-se atentamente a passagem do garoto para os profissionais.

- Evander tem potência física e um poder de finalização muito bom. É dos mais valorizados e cotados para a Europa, mas acho difícil que seja jogador para a Inglaterra, embora tenha mercado em outros países. O físico e a intensidade de jogo dificultam. Por isso é importante ver a transição dele no profissional - analisou um olheiro de um grande clube inglês.

O garoto também não tem pressa para respirar novos ares. No início do ano, renovou contrato até 2020. No plano meticulosamente traçado para sua carreira, a ideia é seguir os passos de antigos jogadores e fazer história pelo Vasco.

- Nosso plano é ele se tornar um grande jogador dentro do próprio clube. Conquistar título, chegar à seleção brasileira... Depois disso, a gente vai ver o que vai acontecer. Sabemos que o clube está numa situação difícil, tem carência de ídolos, apesar de agora ter o Nenê. A gente quer que ele siga os passos do Felipe, Pedrinho, Sorato, que começaram no Vasco e ganharam títulos importantes – contou Evandro.

Aulas de inglês, Promove e Jorginho na cola

Os planos também existem fora de campo. Nesta semana, o garoto se matriculou num curso de inglês. Fazer faculdade também é ideia acalentada, mas será preciso driblar o calendário apertado para cumprir o objetivo. No clube, a meta é fazê-lo evoluir, principalmente na questão física: Evander é um dos atletas que estão no Promove, o projeto especial do Vasco para aprimorar a adaptação de promessas às exigências do futebol profissional. Nomes como Alex Teixeira e Philippe Coutinho passaram pelo mesmo processo.

Evander começou a treinar no elenco principal neste ano, na leva puxada por Jorginho dos juniores. O técnico, aliás, sempre comenta sobre o garoto. Queria ter dado oportunidades para o menino antes, mas a chance só surgiu contra o Bonsucesso. Nos juniores, o desempenho é animador: são cinco gols, que lhe conferem a artilharia da equipe no Campeonato Carioca.

- Sabemos do potencial do Evander, mas não podemos queimar etapas. Ele estava no sub-17, precisava jogar no sub-20. Se tiver oportunidade, chegar no profissional e arrebentar, a gente está aberto para permanência. Tem que ter paciência - avaliou Jorginho.

No elenco, a principal referência é Nenê. O camisa 10 também elogiou o menino e apontou evolução desde que Evander começou a trabalhar entre os profissionais.

- Sempre que perco a bola, tenho que pressionar, na Europa estamos acostumados a isso. O Evander, particularmente, não tinha essa mentalidade. Está vendo que não é assim. Isso é muito importante da parte dele. Está mostrando que está ouvindo o Jorginho, a comissão técnica, quer melhorar, render mais.

Filho de empresário

Além dos obstáculos normais no início de carreira, Evander teve que lidar com outro: a desconfiança por ser filho de um empresário. O pai admite que isso dificultou a caminhada do garoto, mas acredita que o pupilo aprendeu a lidar com isso.

- As pessoas sempre ficam com o pé atrás, por ser filho de empresário, estar no Vasco por causa do pai. Mas as coisas estão acontecendo, os números dele comprovam. Ele fica sempre mais preocupado porque sempre tem que provar alguma coisa, mas o Evander está com a cabeça boa. Ele abriu mão da infância. Os garotos da idade dele estavam fazendo um monte de coisa, e ele tendo que treinar. Mas valeu a pena.

Evander em treino dos profissionais, observado por Nenê

Fonte: GloboEsporte.com