Muitos jogadores de futebol se preparam para a aposentadoria arriscando a entrada no mundo dos negócios antes mesmo de pendurarem as chuteiras. É o caso do atacante Bruno Reboli Meneghel, revelado pelo Vasco e hoje no Cerezo Osaka-JAP.
Aos 28 anos, ele inovou e tornou-se sócio em uma usina de reciclagem no Espírito Santo, ajudando também uma equipe de catadores e um grupo de presidiários em regime semi-aberto.
A aventura ocorre em parceria com o amigo Bruno Bosi, revelado ao lado de Meneghel nas categorias de base do Vasco e que também cuida da "Natureza Viva Reciclagem" - ele já se aposentou dos gramados, em 2013.
A ideia inusitada, contudo, veio do pai de Bosi, Admar, que é dono de uma transportadora e incentivou a dupla de ex-vascaínos, que se conhece desde os nove anos de idade, a entrar para o mundo dos negócios. Não poderia ter dado mais certo.
"Somos uma empresa de recebimento, triagem e reciclagem de resíduos de construção civil. Temos um serviço sócio-ambiental muito forte dentro da empresa também. Hoje possuímos cinco reeducandos, que são presidiários do regime semi-aberto, que fazem todo o trabalho de triagem do material, e também cinco catadores, que comercializam material reciclado", conta Bruno Meneghel, em entrevista ao ESPN.com.br.
A indústria fica em Vila Velha, no Espírito Santo, e produz materiais como brita reciclada, que é proveniente da reciclagem de concreto, blocos de concreto e cerâmicos, além de pó de concreto, entre outros.
"A nossa empresa é de muita importância pro município, porque nós contribuímos para a limpeza urbana e para a saúde pública, além de estimular a prática da reciclagem", salienta Bruno Bosi, que jogou no futebol italiano, suíço e húngaro durante a carreira, mas viu cirurgias no joelho encurtarem seu período como boleiro.
Segundo Bruno Meneghel, além de garantir o sustento para o futuro, a melhor parte do investimento na usina de reciclagem é a oportunidade de ajudar os presidiários que querem se reintegrar à sociedade.
"Estou muito feliz com o trabalho social, é muito bom saber que, além de ajudar a cidade, você também está ajudando as pessoas", celebra.
"Na primeira vez que estive na usina, tive a oportunidade de conversar com um dos reeducandos. Ele veio me agradecer pela oportunidade que nós estávamos proporcionando para ele, foi muito legal. Quando você vê essa gratidão e esse reconhecimento por parte deles, já é uma satisfação enorme", completa.
Dicas de Romário
Após se destacar nas categorias de base do Vasco, no início dos anos 2000, Bruno Meneghel foi promovido ao time principal por Romário, em 2006, na época em que o "Baixinho" era jogador e também treinador do clube de São Januário.
"O Romário que me subiu de categoria. É um grande amigo que vou levar para a vida toda. Sempre serei grato a ele pela oportunidade que me deu. Acabou que deu tudo certo, fiz um treino com ele uma vez, ele gostou de mim e me puxou de cara para o profissional", lembra.
Do eterno camisa 11, Meneghel queria todo tipo de dicas. Romário, porém, tinha um jeito bem diferente de ensinar seus pupilos.
"Uma vez cheguei para ele e falei: 'Baixola, você podia me dar uns toques em relação a posicionamento dentro da área, impedimento, essas coisas...'. Ele virou pra mim e disse: 'Vou te dar um DVD meu, aí você vai aprender rápido'. Ele era f... (risos)", gargalha.
Depois do Vasco, Meneghel passou por Brescia-ITA, Bahia, Resende-RJ, Goiás, Náutico, Criciúma e América-MG antes de se aventurar no futebol asiático. Entre 2012 e 2015, ele defendeu dois times da China, o Dalian Aerbin e o Qingdao Jonoon.
"Joguei três anos e meio lá, fui muito bem, foram 92 jogos e 53 gols. Mas lá é muito diferente, né? Principalmente a parte da alimentação. Comer escorpião é bem engraçado", diverte-se o atacante.
O bom desempenho no futebol chinês lhe rendeu uma proposta do Cerezo Osaka, do Japão. Hoje, ele curte a vida na terra dos samurais e espera manter o brilho. Em sua estreia, no último domingo, foi titular na vitória por 1 a 0 sobre o Machida Zelvia, pela abertura da J-League.
"Já me adaptei aqui, fui muito bem recebido. Os japoneses são muito educados e gostam muito dos brasileiros. Só tenho elogios ao Cerezo, é um time de muita tradição, tem uma estrutura sensacional. Até pouco tempo estavam aqui o [técnico] Paulo Autuori e o [atacante] Diego Forlán", finaliza.
Fonte: ESPN.com.br