Sopa de Garfo
Incomodado com a nomeação de Eurico para a Apfut, grupo de fiscalização do Profut, mas muito mais incomodado pelo fato da indicação ter ocorrido na semana em que o Vasco venceu o Flamengo de novo, e em um São Januário livre das tragédias que ele mesmo incentivou, o jornalismo recalcado foi à luta. Foi assim que o Extra tentou comer sopa de garfo, no melhor estilo Arão, e publicou matéria que começa da seguinte forma:
“A CBF tem um ex-presidente preso, enquanto o atual, licenciado do cargo, não sai do país com medo de ser preso pelo FBI. Mas nem assim seus cartolas aprendem a lição: a indicação de Eurico Miranda para fazer parte do grupo que vai fiscalizar o Profut foi vista no meio político e do futebol como um gol contra.”
O tom raivoso do veículo é evidente, mas não surpreende porque sabe-se quem está latindo por trás dele. As linhas seguintes, contudo, cuidam de transformar a nota em piada.
Primeiro, foi convidado para opinar o senador Álvaro Dias, que recentemente deixou de ser tucano e passou a ser verde para ter chance de pleitear a candidatura à Presidência da República. Falou o senador:
“Só te falo uma coisa: é colocar o cabrito para tomar conta da horta.”
E, então, o Extra insistiu em dar garfadas na sopa:
“Ele presidiu a CPI do Futebol, encerrada em 2001. Em sua conclusão, foi recomendado ao Ministério Público Federal o indiciamento de Eurico. A lista de crimes era extensa: apropriação indébita de recursos do Vasco, utilização da conta bancária de “laranjas”, omissão de gastos da campanha a deputado federal em 1998, sonegação nas declarações de renda entre 1996 e 2000, e obstrução dos trabalhos da comissão.”
Esquecendo-se que são passados quase 20 anos entre a CPI que presidiu e os dias atuais, presume-se que o Senador também tentou comer sopa de garfo. Pois em 2016, o investigado é ele, e não Eurico Miranda. Portanto, se há um cabrito na horta neste momento, não é o presidente do Vasco.
Os fatos que comprovam este momento são resumidos da seguinte forma: as denúncias da CPI presidida por Dias foram investigadas pela Polícia Federal. Todas foram arquivadas, como se pode constatar a seguir na conclusão do Relatório da PF que apurou denúncias encaminhadas pelo STF:
“Assim, conforme demonstrado acima, não restou evidenciado que o senhor Eurico Angelo de Oliveira Miranda tenha praticado qualquer crime contra o sistema financeiro nacional (artigo 22, parâmetro único da Lei 7492/86), contra a ordem tributária (artigo 2, inciso, da Lei 8137/90), e crime de lavagem de dinheiro (artigo 1°, inciso VI, da Lei 9613/98), em virtude de suposta utilização, por parte do referido senhor, de empresas “off shore” sediadas no exterior (LOLO INVESTIMENTS LTD e LOLO OF FLORIDA INC) para aquisição de uma série de bens nos Estados Unidos da America, os quais não teriam sido declarados à Receita Federal do Brasil, bem como o patrimônio pessoal do senhor Eurico Angelo de Oliveira Miranda não restou evidenciado que fosse incompatível com seus rendimentos oficiais.” (Fonte: http://www.netvasco.com.br/news/noticias16/arquivos/20131002jornaldocasaca201309.pdf).
Por outro lado, o momento do senador não é dos mais favoráveis, com diversas acusações a respeito de omissão de patrimônio, envolvimento com investigados da Lava Jato e até como beneficiário dos esquemas de propina que assolaram a Petrobras. Mas deve ser tudo mentira, pois o senador é um homem impoluto.
Retomar retóricas comprovadamente vencidas em semana de mais uma derrota do Flamengo para o Vasco só comprova como isso incomoda. O Extra poderia se abster de publicar matérias que tão somente denigrem o jornalismo sério porque se auto-desmontam no decorrer das palavras e argumentos. O ódio do Ferreira ainda vai transformar o veículo em folheto humorístico.
Já o senador, agora um homem das causas verdes, precisa se ocupar em desarticular as farsas criadas contra ele. Esperamos, um dia, ler em uma página qualquer conclusão de um inquérito da Polícia Federal que lhe faça justiça.
Para ambos, o Extra e o Senador, dada a pressa com que foram ao prato, apenas uma recomendação a la Andrezinho: colher. Porque se vem de garfo, termina como o Arão.
Abraço
João Carlos Nóbrega de Almeida
Fonte: Casaca
Nota da NETVASCO: João Carlos Nóbrega de Almeida é assessor especial da presidência do C.R. Vasco da Gama.