A polêmica sobre as condições de São Januário receber o jogo de hoje deslocou um pouco para fora das quatro linhas os ingredientes de um clássico — o primeiro do Carioca deste ano — já cheio de atrativos: além do retorno da partida à casa vascaína após mais de dez anos, é a chance rubro-negra de começar a se vingar do atropelamento de que foi vítima nos confrontos com o rival em 2015, ao mesmo tempo em que é a oportunidade de os cruzmaltinos confirmarem a recuperação iniciada no fim do ano passado, insuficiente, porém, para evitar o rebaixamento.
O cenário mudou um pouco do início do ano para hoje: se o Vasco era o time que manteve a base titular do segundo semestre de 2015, o futebol pouco consistente das três primeiras partidas, apesar das vitórias, ligou um alerta em São Januário, e não será surpresa se o técnico Jorginho mexer no time, rejuvenescendo o meio-campo com a saída de Éder Luís.
Já na Gávea, a chegada de Muricy Ramalho e de reforços como Juan, Willian Arão e Mancuello, além da recuperação de Guerrero, deram otimismo a uma time que parecia sem rumo em dezembro. A boa atuação na goleada sobre a Portuguesa, durante a semana, fez o treinador expor a convicção de que a equipe começa a se encaixar como ele a projetou.
média de idade alta não preocupa jorginho
Contra o Volta Redonda, na última quarta-feira, o Vasco entrou em campo com vários jogadores acima dos 30 anos do meio para a frente: os volantes Julio dos Santos (32) e Andrezinho (32), os ponteiros Éder Luís (30) e Jorge Henrique (33) e o meia Nenê (34). O time teve dificuldade na recomposição defensiva e cedeu contra-ataques ao Volta Redonda, algo que pode ser mortal contra o Flamengo de jogadores velozes como Arão, Marcelo Cirino, Rodinei e Sheik.
Jorginho garante que a média de idade não o preocupa mesmo no clássico, mas também não garantiu que manterá todos juntos:
— Se estiverem bem preparados, podem jogar juntos, sim, tanto que os escalei contra o Volta Redonda. O Nenê, com 34 anos, correu em alta intensidade, e todos estão bem fisicamente — disse o técnico vascaíno, reconhecendo que o time ainda não está no nível mostrado no fim da última temporada. — Melhoramos algumas coisas. A saída de bola, que Julio e Andrezinho estão fazendo com qualidade, a pressão sobre o homem da bola... Mas ainda não estamos no mesmo nível, é preciso evoluir, sabemos que estamos longe do ideal ainda.
A confirmação da escalação vascaína, porém, só sairá minutos antes do clássico.
MURICY PREVÊ JOGO ABERTO
Pelo lado do Flamengo, a queda do arquirrival no Brasileiro pode até ter sido um motivo de alegria para os torcedores rubro-negros em 2015, mas o incômodo pelo confronto entre os times também foi grande. Depois de uma vitória na primeira partida do ano, o clássico se repetiu outras seis vezes: foram quatro vitórias vascaínas e dois empates. Apesar do retrospecto recente negativo, Muricy Ramalho descarta utilizar os últimos jogos como forma de motivar seu elenco.
— Jogador tem que estar com vontade sempre. Não importa o time que enfrenta. Eu não participei (dos jogos no ano passado), para mim, o jogo é o de domingo (hoje). Esse negócio de entrar mordido não existe mais. Isso tira a concentração do jogador, é uma coisa maluca treinador querendo botar pilha. Não se usa mais — explicou Muricy na sexta-feira. — Tem que estar bem treinado e bem informado do que vai acontecer no campo. Esse é o futebol de hoje.
Dos onze titulares da partida de hoje, sete estavam no clube no ano passado. Apenas o lateral-direito Rodinei, o zagueiro Juan, o volante Willian Arão e o meia Mancuello são caras novas com relação à última temporada.
Apesar das poucas mudanças, o objetivo a longo prazo do treinador rubro-negro é mudar completamente o perfil que a equipe teve no ano passado. Melhorar a defesa, aumentar o tempo de posse de bola e ter uma ataque dinâmico são mantras. Para Muricy, a alta produtividade do ataque dos dois times na atual temporada indica que o clássico de São Januário não será de muito conservadorismo. Ele aposta em um jogo franco, disputado em velocidade e que servirá de teste para as duas defesas.
— Deve ser um jogo aberto. Pelas características das equipes, não vai ser retrancado. Não adianta fechar porque não vai conseguir (ter sucesso), são dois times muito ofensivos. Todos os jogos fazem gol — ressaltou.
Fonte: O Globo Online