Raphael Rodrigues e Squel Jorgea estão no topo, foram campeões do mundo, são os melhores jogadores do planeta... Carnaval. Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mangueira, grande vencedora do Grupo Especial, a dupla só perde a harmonia dos movimentos perfeitos quando a resenha cruza a linha tênue que separa o samba do futebol. Nessa hora, cada um puxa a coreografia para o seu lado. Flamengo x Vasco é rivalidade em qualquer Avenida.
O título no Sambódromo coroou um trabalho que começou em 2013 - o carnaval deste ano foi o terceiro de Raphael e Squel juntos. O entrosamento, garantem, foi instantâneo, iniciado em uma conversa franca assim que a porta-bandeira foi contratada pela Mangueira. Mas é começar a falar de futebol...
- Sou da maior escola de samba do mundo e torço para o maior clube do mundo. O que mais eu poderia querer? - provoca Raphael.
No que Squel retruca na mesma rapidez com que gira o estandarte verde e rosa:
- Nossa, flamenguista é uma raça arrogante mesmo, nunca vi igual...
A sintonia fina diante dos jurados e os passos precisos garantiram quatro notas 10 para o casal. No futebol, porém, os dois fazem estilos diferentes. O mestre-sala é torcedor de arquibancada e não se esquece do último título de expressão do Rubro-negro, a decisão da Copa do Brasil de 2014.
- Quase infartei... - diz.
Do outro lado, a porta-bandeira revela que o carinho pelo Cruz-maltino tem raízes históricas:
- Acho muito bonita a história do clube, a luta contra o preconceito racial. A camisa é linda também. Mas não sou de brigar por futebol. Brigo por escola de samba, olhe lá.
Até porque suas raízes estão cravadas no terreno do carnaval. Apesar dos 11 anos na Grande Rio, Squel é mangueirense de coração, neta de Xangô da Mangueira, um dos compositores mais importantes da escola.
Raphael também tem longa história na festa. Já são 23 anos desde a escola mirim Aprendizes do Salgueiro. Em 2005, tornou-se primeiro mestre-sala do Especial. Com tanto samba em jogo, a dupla é perfeita. Mas, hoje, só um vai sorrir.
- Vai dar Fla - aposta Raphael.
Squel exibe mais cadência:
- O Vasco vai vencer. Mas, se for empate, não tem problema...
Semelhanças entre o desfile e o futebol
Ao descobrir alguns segredos para o sucesso do casal de mestre-sala e porta-bandeira, percebe-se que atributos importantes no carnaval também fazem a diferença no futebol. Raphael e Squel, com a experiência na Avenida, mostram o caminho das pedras para Flamengo e Vasco brilharem em 2016.
Segundo a porta-bandeira, o bom ambiente entre os dois é fundamental para que o desfile seja como esperam. No futebol, é o mesmo: um vestiário rachado é um passo dado na direção de maus resultados em campo.
- Nosso trabalho requer harmonia que só existe se houver uma parceria de verdade. Senão, parece que o casal está brigando, e não dançando na Avenida - ensina.
Outra questão é a parte física. Os dois fazem musculação e têm nutricionista. Raphael conta que, nos últimos três meses antes do desfile, chega a perder nove quilos por causa da rotina de ensaios. Novamente a semelhança com o futebol é clara: quem não tem fôlego para os 90 minutos fica para trás.
- Se não estiver preparado, não aguenta o desfile inteiro - adverte Raphael: - E não fazemos como outros casais, que só dançam na frente dos jurados. Dançamos a Avenida inteira.
Fonte: Extra Online