Mateus Vital aprendeu cedo que a vida pode ser muito dura. Perdeu a mãe precocemente, de forma traumática, mas encontrou forças para seguir em frente. Teve o amadurecimento forjado pelo cotidiano de tragédias do Rio, mas hoje, se é possível, colhe algum fruto disso. Com seriedade de gente grande, o menino de 17 anos furou a fila e virou forte candidato para ser titular do Vasco no ano.
Quem observa as coisas de longe é seu pai, Jorge Assumpção da Silva, 43 anos, gerente comercial. Evita ligar para o garoto enquanto ele está concentrado em Pinheiral (RJ), na realização da pré-temporada. Faz-se presente com mensagens de incentivo, apenas. Desde o fatídico dia em que ficou viúvo, percebeu que o caçula, então com 9 anos, era mais centrado do que poderia esperar, para crianças de sua idade.
- Ele mostrou para mim como era maduro no dia em que a mãe dele morreu. Minha mulher foi atingida pelo tiro, e ele disse assim para mim: “Pai, não vá lá fora. Eu já perdi minha mãe, não quero perder você”.
Tudo ocorreu em 2007. Mateus, os pais, um amigo e um primo sofreram uma tentativa de roubo de carro quando voltavam de um treino no Pavunense, no Subúrbio do Rio. Assim que foram abordados, a mãe, Viviane, saiu do banco do carona com o intuito de falar com os bandidos. Um tiroteio logo teve início quando uma viatura da Polícia Militar, que estava atrás do carro da família, percebeu o assalto. A mulher, então com 32 anos, foi atingida fatalmente na troca de tiros.
O menino já era das categorias de base do Vasco na época e tratou de espantar seus fantasmas com o futebol. Jorge garante que Mateus soube lidar com a perda melhor do que o próprio pai, desamparado ao ter de criar sozinho seus três filhos. Ainda assim, houve momentos em que o garoto fraquejou. A lesão às vésperas do Mundial Sub-17, ano passado, foi um baque grande para a promessa. Nessa hora, foi a vez de inverterem os papéis.
- Pensamos em parar depois do que aconteceu. Era muita coisa em cima da gente naquele momento, mas ele mostrou muita força. Depois vieram as contusões, ele se contundiu uma semana antes da convocação para a seleção. Nessa hora, eu fui mais forte. Disse que algo melhor estava sendo reservado para ele. Foi quando veio a chance nos profissionais do Vasco - afirmou o pai.
Hoje, o menino realiza o sonho da família. Especialmente do pai vascaíno, sócio do clube há 25 anos. Jorge lembra do pai, também cruz-maltino, que faleceu em 1998, ano da conquista da Libertadores e também do nascimento do neto que viria a jogar no clube do coração. Se pudesse fazer um pedido para 2016, não pensaria duas vezes:
- Eu queria muito que ele fizesse o gol do retorno do Vasco para a Primeira Divisão. Ele é um garoto que conquista muito pela humildade. Ele quer sempre aprender.
Fonte: Extra Online