Existem jogos que ficam marcados para sempre na memória de um torcedor. Jogos que decidem títulos, jogos que constroem ídolos, jogos que encerram e iniciam eras. Podemos lembrar da final da Copa de 70, da mão de Deus de Maradona, do spray de pimenta de River e Boca, do 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil. Todos históricos, mas poucos com tanto significado quanto a decisão da Copa Mercosul de 2000.
Nenhuma virada pode ser comparada a que o Vasco fez diante do Palmeiras naquela noite do dia 20 de dezembro de 2000, há exatos 15 anos. A final da Champions League em 2005 entre Liverpool e Milan, quando os Reds marcaram três gols nos últimos minutos de jogo e foram campeões nos pênaltis, talvez chegue perto. Ainda assim, ousamos dizer que não houve prova maior da existência dos Deuses do Futebol do que aquela partida entre dois gigantes clubes brasileiros no Palestra Itália, a terceiro e decisiva partida da final.
E quem estava em campo também acredita nisso. O ex-jogador Euller foi um dos homens que viveu a história que até hoje é contada em livros, notícias, palestras motivacionais. Mas o 'Filho do Vento' sabe que cada ato daquele episódio vivido há 15 anos traz nuances de uma conquista inspirada e marcante para jogadores, jornalistas e clubes.
"Vivíamos a expectativa do título pelo fato de termos uma equipe qualificada. A gente tinha total confiança e estava acreditando no título. Mas depois que começou o jogo, depois do primeiro tempo que nós fizemos, as coisas não saíram da forma como nós planejávamos", destacou o ex-atacante em entrevista à Goal.
O Vasco teve razões para entrar um pouco fora do eixo na partida. Durante a semana que antecedeu a final, a demissão do então técnico Oswaldo de Oliveira pegou todos de surpresa. Joel Santana assumiu o cargo, mas o time entrou abatido e não suportou a qualidade do Palmeiras, que marcou três gols logo no primeiro tempo. Parecia impossível tirar a taça do clube paulista. Nem mesmo o time cruzmaltino acreditava nesta possibilidade.
"Nem mesmo nós imaginávamos virar um placar daqueles, até pelo que nós apresentamos no primeiro tempo. Um primeiro tempo muito abaixo daquilo que vínhamos apresentando. Voltamos para o segundo tempo pensando na possibilidade de amenizar a situação, amenizar o que foi feito, talvez fazendo um ou dois gols e não sofrer mais", revelou Euller.
"Mas no decorrer da partida, mesmo com a expulsão de Junior Baiano, nós vimos a possibilidade das coisas mudarem. Então tivemos essa chances, pois a equipe ficou em cima o tempo inteiro, foi crescendo a esperança. A entrada do Viola também foi primordial, pois deu uma outra dinâmica, em uma posição em que estávamos precisando evoluir", emendou.
No intervalo, a incredulidade dominou a equipe de São Januário. O técnico Joel Santana preferiu não tecer comentários táticos. O tom era de motivação, mas no intuito de evitar que o Vasco fosse massacrado, goleado, humilhado em uma final continental. Só que no caminho de volta ao gramado para aqueles 45 minutos que jamais poderão ser esquecidos foi que houve a verdadeira virada do Time da Virada.
"O momento chave mesmo foi quando estávamos na subida para o campo. Aquele momento que antecede antes de você entrar no gramado de novo. Ali cada jogador puxou uma palavra, cada um deu um incentivo ao outro, cada um olhou nos olhos do outro. Não pensávamos em virada, pensávamos em amenizar a situação. Ela veio diante do que aconteceu no segundo tempo. Então ali não teve a palavra de um só jogador, tivemos do Jorginho, do Romário, do Junior Baiano. Todos disseram uma coisinha para poder incentivar o outro. Ali realmente teve algo que mudou", relembrou Euller.
Foram três gols de Romário e um de Juninho Paulista. Quatro gols que transformaram o conceito de virada no futebol mundial. Quatro gols que transformaram as vidas de todos aqueles que viveram ou acompanharam, de perto ou de longe, a partida espetacular que aconteceu na cidade de São Paulo no dia 20 de dezembro de 2000.
"Esse título é especial pelo fato de ter sido um jogo histórico. Um jogo que fica na memória de todos, dos jogadores, da imprensa que cobriu, do clube, dos que gostam de futebol. Esse jogo é importante para a história do futebol e é usado até mesmo em palestras motivacionais. Então é marcante por isso, porque não envolve só uma final, um título, envolve a história", destacou.
Mineiro de Felixlândia, Euller tornou-se ídolo da torcida vascaína por causa da Mercosul e também do título brasileiro que seria conquistado pouco mais de um mês depois. No entanto, o ex-jogador de 44 anos já havia conquistado também a torcida do próprio Palmeiras, onde foi campeão da Libertadores na temporada anterior.
E nestes 15 anos de distância entre o passado glorioso e o presente preocupante do futebol brasileiro, muita coisa mudou, principalmente para os dois clubes. Enquanto o Palmeiras festeja o título da Copa do Brasil e o retorno à disputa da Libertadores, o Vasco se prepara para jogar a Série B pela terceira vez em sua história. Para Euller, a explicação de tudo isso é simples: planejamento.
"O Palmeiras teve um ano muito importante, muito positivo. Foi bem no Campeonato Estadual, no Brasileiro e na Copa do Brasil, em que foi campeão. Mas precisa melhorar, precisa de mais poder aéreo, pois a Libertadores exige isso, e exige também poder de contra-ataque. Com certeza eles irão se reforçar, irão formar um grande grupo para a disputa da Libertadores", avaliou.
"O Vasco da Gama mais uma vez rebaixado, é lamentável. Um clube como o Vasco não pode cair três, quatro ou cinco vezes, e falo isso porque se bobear, pode cair outras vezes. Se repetir os erros dos outros rebaixamentos, vai cair da mesma forma. Não se pode cometer estes mesmos erros. É o não planejamento, é o troca-troca de treinador, os salários atrasados dos jogadores. São coisas básicas do futebol. Tem que traçar um planejamento e acreditar nele", concluiu.
FICHA TÉCNICA
Palmeiras 3 x 4 Vasco - Estádio Parque Antártica
Palmeiras: Sérgio, Arce, Galeano, Gilmar e Tiago Silva; Fernando, Magrão, Flávio e Taddei; Juninho e Tuta (Basílio). Técnico: Marco Aurélio.
Vasco: Hélton, Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Nasa (Viola), Jorginho (Paulo Miranda), Juninho e Juninho Paulista; Euller (Mauro Galvão) e Romário. Técnico: Joel Santana.
Gols: Arce (36'), Magrão (37'), Tuta (45'), Romário (59', 67' e 90' + 3') e Juninho Paulista (85').
Fonte: Goal.com (texto), Reprodução Internet (foto)