Nesta quinta-feira, o Cruzeiro confirmou o ex-meia Pedrinho, de 38 anos, como novo assistente de Deivid, técnico que assume o lugar de Mano Menezes. Essa é a segunda vez que o clube mineiro cruza o caminho do ex-vascaíno de forma marcante. Na primeira, em 1998, o então craque viveu o maior drama de sua carreira nos gramados.
No dia 6 de setembro daquele ano, Vasco e Cruzeiro se enfrentavam em São Januário pelo Campeonato Brasileiro. Ainda no primeiro tempo, Pedrinho arrancou pela ponta esquerda e a jogada foi interrompida por um carrinho do zagueiro celeste Jean. No lance, o então vascaíno prendeu a perna no gramado e rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito.
A grave lesão, confirmada ainda no vestiário do estádio, tirou Pedrinho de sua primeira convocação para a Seleção Brasileira. Foram seis meses de recuperação no Vasco. Quando voltou a atuar, o armador teve problemas no joelho operado e ficou mais oito meses inativo. Dali em diante, ele nunca foi o mesmo jogador que despontou no cruz-maltino como grande promessa.
”Esse foi o pior momento da minha carreira. Eu tinha acabado de ser convocado para a Seleção. A apresentação era na segunda-feira. Recebi a notícia que eu ia operar, dentro do vestiário, pelo rádio, porque o roupeiro estava com o rádio ligado e o médico deu a entrevista dentro do campo, que provavelmente eu teria que operar”, relembrou Pedrinho anos depois em entrevista ao canal Sportv.
Pedrinho acredita que aquela contusão na partida contra o Cruzeiro prejudicou o andamento natural de sua carreira. “Mudou. Como eu não tinha nenhuma lesão... Eu estava no auge, então tinha muita confiança para fazer tudo. Vi que o zagueiro estava muito distante. Mesmo eu estando mais longe do que ele da bola, eu chegaria primeiro. E foi o que aconteceu, tanto é que ele teve que dar o carrinho. Aí, como não sei nada de perna direita... (Pedrinho é canhoto). Se eu tivesse dado o tapa na bola com a perna direita, eu teria pulado antes. Mas como não tenho a perna direita, tive que botá-la no apoio para dar para a esquerda. Foi no exato momento em que ele chegou. Acho que foi a parte interna da perna dele que bateu no meu joelho".
Reencontros
Pedrinho e Jean ainda se cruzaram em duas ocasiões como adversários nos jogos entre América x Palmeiras e Bahia x Vasco, mas nunca falaram sobre o lance enquanto atletas. O zagueiro chegou a declarar publicamente que tinha vergonha de se aproximar do armador.
”Eu joguei contra ele em um América Mineiro x Palmeiras e depois em um Bahia x Vasco. Não falei com ele, oportunidade eu tive, mas não tive cara de ir pedir desculpa, fiquei com vergonha. Vou falar o quê? O cara ia para a Seleção. Até comentei com o Odvan (ex-zagueiro) já em algumas peladas em que o encontrei: 'Pô, o Pedrinho não foi para a Seleção'. Depois ele não foi mais, vivia um grande momento, é complicado”, afirmou Jean ao Globo Esporte em 2012. O defensor contou que sempre ficou com fama de maldoso por conta do carrinho em Pedrinho, ainda que tenha tocado a bola antes.
Ao mesmo programa, Pedrinho garantiu não guardar mágoas de Jean. ”Eu lembro de um jogo quando eu estava no Palmeiras, ele pelo América Mineiro, e nos cruzamos no campo. Esperava que ele falasse comigo. Tanto que fiquei olhando para ele. Mas passou batido. Achei até estranho, e pensei: 'Pô, será que esse cara é ruim?...'. Acabei pensando uma coisa errada sobre ele, mas não sabia que tinha vergonha. Acho que não tem que ter vergonha, se tivermos a oportunidade de nos encontrarmos vai ser bem tranquilo. É lógico: existe uma emoção toda vez que se toca nesse assunto porque muitas coisas aconteceram por causa desse acidente, então pode haver uma emoção da minha parte, ou da parte dele. É natural. Mas mágoa, não ficou nenhuma”.
Carreiras
Além do Vasco, onde jogou entre 1995 e 2001, e também em 2008 e 2013, ano de sua aposentadoria, Pedrinho defendeu Palmeiras, Al-Ittihad da Arábia Saudita, Fluminense, Santos, Al-Ain dos Emirados Árabes, Figueirense e Olaria-RJ.
Por sua vez, Jean atuou por Bahia, Avaí e América depois que deixou o Cruzeiro, em 1998. O defensor encerrou a carreira em 2006 no Estrela do Norte de Cachoeiro de Itapemirim-ES.
FICHA DO JOGO QUE MARCOU NEGATIVAMENTE A CARREIRA DE PEDRINHO
Vasco 2 x 0 Cruzeiro
Data: 06/09/1998
Campeonato Brasileiro
Local: Estádio De São Januário (Rio de Janeiro)
Árbitro: Antônio Pereira Da Silva
Público: 5.496
Gols: Sorato (Vasco 45/1ºT) e Nélson (Vasco 44/2ºT)
Vasco
Carlos Germano, Maricá, Odvan, Mauro Galvão, Felipe, Luisinho, Nasa, Juninho (Nélson), Ramón, Pedrinho (Mauricinho, depois Richardson) e Sorato. Técnico: Antônio Lopes.
Cruzeiro
Dida, Ronaldo, Jean, Wilson Gottardo, Gilberto, Marcos Paulo, Ricardinho (Caio), Valdo, Djair (Marcelo), Muller e Fábio Júnior. Técnico: Levir Culpi.
Fonte: Superesportes