Quem conhece a Penha, no subúrbio do Rio, e presta só um pouco de atenção no que há ao redor, conhece a casa da família Rangel. O muro pintado de Vasco há 30 anos virou ponto de referência na Rua Apiaí, principal rota de quem vem de Olaria rumo aos bairros de Brás de Pina e Penha Circular. Assim como o clube, o muro acusa desgaste. Mas a torcida dos vascaínos é para que o time imite o muro, porque ele não cai.
A pintura, conta os Rangel, foi presente de um primo à prima Luzitânia, dona da casa, torcedora do Vasco e fã de um jovem atacante chamado Romário. As pichações que hoje poluem a bandeira pintada por muito tempo ficaram longe dali. Isso porque um aviso corria entre os pichadores do bairro.
- Esse primo que fez a pintura morava do outro lado da rua. Ele tinha uma espingarda de festim e ficava só esperando alguém se aproximar. Teve uma vez que ele atirou. Depois disso, todo mundo ficou sabendo que não podia mexer com o muro vascaíno - lembrou Leandro Rangel, empresário, 44 anos.
Dona Luzitânia faleceu e a casa seguiu seu caminho, sempre com a bandeira no muro. Esporadicamente, a família faz retoques na pintura. O próximo está marcado para a semana que vem, com ou sem rebaixamento para a Segunda Divisão.
- Geralmente, a gente junta os amigos aqui e pintamos. É sempre uma festa. Nunca pensamos em pintar o muro de outra cor. Ele vai seguir assim. O Vasco pode até cair de novo, mas o muro não vai cair - garantiu Carla Rangel, administradora.
A paixão pelo Vasco não faz com que os torcedores fechem os olhos para a situação do time no Campeonato Brasileiro. Pelo contrário, os olhos só ficam no escuro quando oram para que o clube não visite a Segunda Divisão pela terceira vez na história. O lugar para os pedidos não poderia ser melhor, o Santuário de Nossa Senhora da Penha e seus famosos 382 degraus, um dos pontos turísticos do subúrbio do Rio.
- Somos cinco irmãos e todos nós fomos batizados aqui. Sabemos que está difícil para o Vasco, mas milagres também acontecem - ressaltou Carla.
Ela, a mãe, duas irmãs, o filho e um sobrinho vivem na casa espaçosa protegida pelo muro da cruz-de-malta. Leandro, único filho homem, também morou na casa. Mesmo depois que se mudou, ao casar, seguiu no bairro, não se distanciou das irmãs e do muro. Há um carinho pela herança deixada pela dona Luzitânia e o primo pintor. A peculiaridade faz parte da vida de torcedores, vascaínos ou não, que passam ou já passaram por lá.
- Muita gente mexe quando passa em frente à casa. Meu marido é flamenguista e, quando nos conhecemos, ele disse para mim que sempre se perguntava quem tinha pintado aquele muro - contou Roberta Rangel, um dos cinco irmãos do muro vascaíno da Penha.
Fonte: Extra Online