Saiba mais sobre Cacareco, torcedor-símbolo do Vasco em Resende e fundador da Resenvasco, falecido esta semana

Sábado, 05/12/2015 - 02:41
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Amor, paixão e idolatria são algumas das características de um resendense fanático pelo Clube de Regatas Vasco da Gama. De roupas a móveis, a decoração da casa e até o veículo particular estilizado com os símbolos vascaínos não deixam dúvida sobre o que chama de DNA Vascaíno. A coluna Gente que Faz História desta semana conta um pouco da vida do aposentado João Luís de Oliveira e Silva, 69 anos, mundialmente conhecido como “Cacareco”. Ele reúne em seu imóvel no bairro Cidade Alegria artigos, fotos, produtos oficiais do clube e vários objetos em quantidade suficiente para criar um museu particular do Vasco da Gama. “Meu amor pelo Vasco não tem explicação. Minha mãe dizia que quando nasci, a parteira deu um tapa em meu bumbum e eu gritei: Vasco! Daí em diante tudo isso começou”, brinca.

Natural de Resende, Cacareco nasceu em ambiente domiciliar, aos cuidados de uma parteira, no dia 28 de fevereiro de 1945, no bairro de Campos Elíseos. Filho do mineiro Gabriel Cavalcante Filho, natural de Passa Quatro (MG), o ex-despachante de bagagens de passageiros na antiga estação de trem de Resende, casado com a dona de casa Marina de Oliveira e Silva, natural de Cruzeiro (SP) – ambos falecidos. Teve quatro irmãos: Hércules e Heloisa (falecidos) e Sérgio e Wilson Vítor. Cacareco foi casado duas vezes e possui uma filha e uma neta. O apelido foi adquirido na adolescência, durante uma pelada entre amigos, após sofrer um tombo. “Jogávamos bola no antigo campo do Manejo. Escorreguei ao tentar pegar a bola e todos riram. Um colega disse que eu havia caído igual a um ‘cacareco’. Desde então, o apelido pegou e trago até os dias atuais sem problemas”, conta.

MILITAR

Ex-aluno do Colégio Estadual Olavo Bilac (Resende) e da Escola Wenceslau Braz (Caxambu-MG), Cacareco foi militar, ingressou nas Forças Armadas em 1964 servindo na Academia Militar das Agulhas Negras, lotado no Batalhão de Comando e Serviços (BCSv). Durante um ano na rotina militar, adquiriu sabedoria e disciplina que exalta até os dias atuais. “No Exército aprendi a ser um cidadão com amor à Pátria, ter civilidade e muita disciplina. Prego isso desde então por toda minha vida. Durante um ano servindo no BCSv aprendi muito. Hoje, vejo a maioria dos jovens evitando, criticando o serviço militar e muitos acabam tendo uma vida pregressa. Muito da tranquilidade e respeito aos demais torcedores vem dos ensinamentos do direito, respeito ao próximo que aprendi no Exército. Integrei o time de futebol do BCSv, era o goleiro, sonhava ser jogador profissional”, conta Cacareco. Em 1965, na baixa do Exército o vascaíno fervoroso ingressou na antiga Indústria Química Resende (IQR) na função de pintor jatista, posteriormente assumindo as atividades de bombeiro químico, motorista de ambulância e encarregado do Corpo de Bombeiro.

TORCIDA

Em 26 de fevereiro de 1980 ele e o amigo Paulo Amaro fundaram aquela que seria a principal torcida do Gigante da Colina no interior do Rio de Janeiro: a Resenvasco. O trabalho na fábrica, as partidas amistosas pelo time da empresa e o convívio sadio com os amigos e colegas só fizeram crescer o quadro de sócios torcedores. O que era uma união de amigos vascaínos ganhou proporções imensas, o reconhecimento do clube Vasco da Gama em dezenas de homenagens oficiais e também das autoridades resendense com inúmeras congratulações como moções concedidas pela Câmara de Vereadores e entidades do município. Cerca de quatro anos após a fundação da Resenvasco, João Luis foi eleito o presidente da entidade. Sob seu comando reiterou normas e procedimentos embasados na desportividade, lealdade, união e paz além do soberano sentimento vascaíno. Orgulhoso de possuir a carteirinha de sócio nº 01, Cacareco organizou vários eventos em Resende com ex-atletas e personalidades vascaínas, com apoio do clube levava inúmeros torcedores aos jogos do Vasco exaltando tanto o amor pelo clube quanto o nome de Resende. Em vários jogos históricos como o título de campeão brasileiro de 1997, a presença de Cacareco no Maracanã foi exaltada pela torcida no estádio. “Ao longo dos anos me dediquei ao Vasco da Gama e sou reconhecido pela diretoria do clube e jogadores como o ex-goleiro Carlos Germano, o lateral esquerdo Felipe, o zagueiro Mauro Galvão, entre outros. Levamos a Resenvasco ao Mundial Interclubes, em Tóquio, em 1998, recebi o convite da direção do Vasco como gratidão do empenho pelo clube. Isso é memorável para a vida de um torcedor. Os japoneses adoraram a buzina de compressão de ar que eu usava nos jogos. Me aposentei da IQR em 1993 e consegui ampliar ainda mais a rotina de organizar atividades da torcida”, observa o líder vascaíno.

AMOR VASCAÍNO

Atualmente, a Resenvasco reúne cerca de 4 mil sócios tendo como meta atingir 6 mil associados em 2015. A sede provisória da Resenvasco é a própria residência do fanático torcedor, situada a Rua dos Ipês, nº 952, no bairro Cidade Alegria. Para se associar basta amar o Vasco, ceder uma foto tamanho 3x4 e pagar taxa única de R$ 4 para a confecção da carteirinha. Não existe mensalidade. Na ‘sede’ da torcida fica o inconfundível Fusca Azul modelo 1972, o Vasco Móvel caracterizado com os símbolos do Vasco evidenciando a paixão do proprietário. As calotas das rodas são estrela da cruz de malta em metal; frases expressando o sentimento vascaíno e várias pinturas e adesivos ampliam a caracterização.

A casa-sede da torcida não fica atrás. De cor azul como o Fusca, na entrada da sala de estar esta fixada a placa: “Aqui mora um vascaíno feliz”. No interior da casa sejam os móveis, utensílios, quadros e até artigos de decoração como as cortinas, tudo remete ao Vasco da Gama. Um artefato é especial, a bandeira fúnebre do Vasco, com a qual atendendo ao pedido de colegas e familiares dos vascaínos sócios da Resenvasco a leva aos funerais. Ao menos 66 membros da torcida falecidos foram homenageados no momento do Adeus com a bandeira. “É uma gratidão concedida àqueles que amavam o Vasco como eu amo. Recebo pedido dos familiares e levo a bandeira ao funeral como roa pedido em vida pelo ente falecido”, comenta, citando já em tom de alegria outro marcante talismã: o Vasco Móvel. “Não troco por nada. Infelizmente, existem torcedores que fazem vandalismo com o veículo e por isso não o deixo estacionado em qualquer lugar. Respeito todos os clubes e torcidas. Na Resenvasco prego a paz e união. Ser Vasco tem essa essência”, ressalta. A disciplina nos estádios é a marca desta torcida organizada, jamais advertida pela direção do Vasco da Gama ou por qualquer entidade ou clube adversário devido a conflito fora ou dentro dos estádios. “Pelo contrário, tenho relato e fotos de policiais rodoviários federais que nos reconheceram durante blitz e pediram para fazer fotos. Isso é a prova da simpatia e zelo que temos com a paz e o esporte”, afirma o presidente da Resenvasco enaltecido pela Prefeitura de Resende, a Câmara de Vereadores e a Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Resende por divulgar o nome da cidade.

MAUSOLÉU

A Resenvasco tem 34 anos de atividades e, segundo Cacareco, estará extinta somente quando ocorreu seu falecimento. Sem tentar antecipar os fatos e com muita serenidade, o presidente da torcida afirma que já possui um jazigo no Cemitério Municipal Senhor dos Passos, no bairro Alto dos Passos, em Resende, onde pretende criar um padrão alvinegro e inserir a lápide “Aqui jaz um vascaíno João Luís ‘Cacareco’ de Oliveira e Silva”. Apesar o desejo para sua posteridade, nem mesmo o atual momento do clube o faz triste suficiente para este agouro. A meta é tentar imortalizar sua imagem ao clube. “Quando falo do mausoléu não é que desejo morrer, muito pelo contrário. Mas, chegando quase aos 70 não se pode esperar muita coisa pela frente (sorrisos). Sobre o momento do Vasco sem dúvida os times antigos eram melhores assim como o futebol de forma geral. Hoje é tudo sob o regime do dinheiro, jogador não tem comprometimento com o clube e sim com seu contrato. As gestões administrativas também são distintas sob este aspecto. É preciso ter disposição, bom relacionamento com a imprensa, torcida e sobretudo os jogadores. Mesmo na Série B e sem grandes estrelas eu acredito e sou Vasco. Temos tudo para melhorar, somos o único clube com estádio próprio e uma imensa torcida feliz e vencedora. O Vasco é a minha vida!”, finaliza Cacareco.




(11/08/2014)

Fonte: A Voz da Serra